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Escândalo no Parlamento Europeu. Eva Kaili diz-se “traída” pelos colegas, acordo com Catar na área da aviação está em dúvida

15-12-2022 12:00

Ana França

Jornalista Expresso

15-12-2022 12:00

Ana França

Jornalista Expresso

O advogado de Eva Kaili, ex-vice-presidente do Parlamento Europeu no centro do alegado esquema de corrupção em benefício do Catar, diz que a sua cliente não recebeu qualquer suborno e que todas as viagens, entrevistas e discursos foram realizados com autorização dos seus superiores. Por causa deste escândalo, o acordo de tráfego aéreo com o Catar, que já era controverso antes desta investigação, pode ser alvo de revisão

O escândalo de corrupção no Parlamento Europeu (PE) está a aumentar de dia para dia. Esta quarta-feira, o advogado da ex-vice-presidente do PE, Eva Kaili, o rosto mais conhecido entre os detidos no alegado esquema de subornos pagos a eurodeputados para que tentassem usar a sua influência a favor do Catar, diz que a sua cliente estava apenas a cumprir ordens da presidente do PE, Roberta Metsola.

“O que a opinião pública precisa de saber é que o Catar não precisou de subornar Eva Kaili porque ela foi ao Catar como representante do Parlamento Europeu, os discursos, as entrevistas que ela deu foram em concordância, foram por ordem da Presidente Roberta Metsola”, disse Michalis Dimitrakopoulos ao canal de televisão grego MEGA, citado pelo site Euractiv. Kaili trabalhou como apresentadora nesse mesmo canal, até ser eleita para o parlamento grego pelo PASOK.

Em novas declarações, desta vez à agência Reuters, o advogado de Kaili disse que esta se sente “traída” pelos colegas. “A sua posição é a de que não estava a aceitar subornos, é inocente, o Catar não precisava dela, não precisava de a subornar, porque ela não tinha nada a oferecer ao Catar. A decisão de visitar o Catar não foi uma decisão pessoal, foi uma decisão do Parlamento Europeu, com o acordo da Comissão Europeia e do chefe da política externa da UE, Josep Borrell”, afirmou Michalis Dimitrakopoulos.

O que Dimitrakopoulos está a optar por omitir é que a investigação não recai sobre as entrevistas, viagens ou posicionamentos políticos de Kaili em defesa do Catar, mesmo que, como disseram ao Expresso os ex-eurodeputados Ana Gomes e Francisco Assis, os discursos que fez neste sentido devessem ter desencadeado uma investigação, pelo menos por parte do seu partido europeu, o S&D. Tanto Ana Gomes quanto Francisco Assis fizeram parte desse mesmo partido e estiveram no PE ao mesmo tempo que Kaili e outros intervenientes neste escândalo.

O boletim de notícias diário sobre as andanças de Bruxelas do “Politico” também traz novos desenvolvimentos sobre o caso. Segundo as fontes do jornal, na terça-feira as autoridades belgas encerraram outros 10 escritórios, entre eles o de um assistente do eurodeputado Prieto Bartolo, conhecido como o “médico dos refugiados” pelo seu trabalho na ilha italiana de Lampedusa. E não é só.

ACORDO COM CATAR AIRWAYS SOB ESCRUTÍNIO

Por causa deste escândalo, os eurodeputados querem rever o acordo, assinado em outubro, entre o Catar e a UE na área da aviação, através do qual a Qatar Airways poderá operar livremente no mercado europeu – e vice-versa para todas as companhias europeias. Uma outra votação, que deveria acontecer ainda esta semana no PE, sobre a liberalização de vistos de entrada na UE (90 dias) para os cidadãos do Kuwait e do Catar, também foi adiada.

As transportadoras europeias – e também os principais sindicatos deste ramo – manifestaram-se contra este acordo, alegando que a concorrência da Qatar Airways no mercado europeu, depois de um período de congelamento de atividade do transporte aéreo por causa da pandemia, seria prejudicial para o sector. A UE alegou na altura que as oportunidades seriam lucrativas para ambos os lados.

Karima Delli, presidente da comissão de transportes do PE, onde o acordo foi negociado, alertou os membros deste grupo, através de um email divulgado pelo “Politico”, que o Catar pode ter interferido nas deliberações internas do parlamento sobre o acordo. “Dados os desenvolvimentos recentes, aceitar este acordo, nesta fase, pode ser difícil até que fique estabelecido que as condições em que foi acordado foram transparentes e imparciais”, escreveu a eurodeputada francesa pelo grupo dos Verdes. Delli pede “rápido esclarecimento” da Comissão Europeia sobre o avanço do processo de ratificação, que ainda não está concluído.

Não há provas de que este acordo tenha sido arquitetado com a ajuda dos eurodeputados e ex-eurodeputados alegadamente pagos pelo Catar para impor a agenda do país no hemiciclo comunitário. Por enquanto, apenas o esquema de vistos parece ter realmente sido alvo de “intervenção” de Eva Kaili, que apareceu numa comissão da qual não faz parte (a LIBE, de Liberdades e Garantias) para votar uma resolução nesse sentido. Abir Al-Sahlani, eurodeputada sueca disse ao jornal “Arbetsvarlden” que Kaili marcou uma reunião para falar “da situação das crianças no Irão” e passou “o tempo todo” a tentar convencê-la dos benefícios de oferecer vistos aos cidadãos do Catar.

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