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Putin volta a sacar da manga a cartada da ameaça nuclear 

25-03-2023 11:50

César Avó

Jornalista DN

25-03-2023 11:50

César Avó

Jornalista DN

Rússia vai destacar armas nucleares táticas na Bielorrússia. O seu líder garante ter centenas de milhares de projéteis perfurantes para responder às munições britânicas a enviar para Kiev

O líder russo Vladimir Putin anunciou um acordo com o homólogo bielorrusso Alexander Lukashenko para destacar armas nucleares táticas no país deste. Na Ucrânia, indicações divergentes quanto a localidades visitadas há dias pelo presidente Volodymyr Zelensky. Em Kherson, as autoridades da cidade do sul apelaram para a população sair, enquanto o comandante das forças armadas disse que Bakhmut está a ser “estabilizado”.

Enquanto fez o anúncio da iniciativa de implantar armas nucleares táticas na Bielorrússia, Putin disse que não era “nada de invulgar”, tendo dado como exemplo a prática dos Estados Unidos, que “têm vindo a fazer isto há décadas”, ou seja, a destacar as “suas armas nucleares táticas no território dos seus aliados”.

“Acordámos [com a Bielorrússia] que faremos o mesmo, sem violar as nossas obrigações internacionais em matéria de não-proliferação de armas nucleares”, prosseguiu, em declarações à televisão.

A construção de uma instalação para armazenar as armas na Bielorrússia estará concluída até 1 de julho, adiantou Putin, tendo ainda deixado claro que o controlo destas armas não iria ser transferido para Minsk. Até agora, a Rússia já equipou 10 aviões bielorrussos capazes de transportar armas nucleares táticas e transferiu um sistema de mísseis Iskander que podem ser utilizados para lançar tais armas.

“Aqui não há nada de invulgar: os Estados Unidos têm vindo a fazer isto há décadas. Há muito que colocam as suas armas nucleares táticas no território dos seus aliados.” Vladimir Putin

Uma vez concluído, será a primeira vez desde meados da década de 1990 que a Rússia teria uma bases com armas nucleares fora do país. Depois da derrocada da União Soviética, as armas nucleares implantadas na Ucrânia, Bielorrússia e Cazaquistão foram transferidas para a Rússia, um processo acordado em 1992 e concluído em 1996, e no qual se incluiu o Memorando de Budapeste, no qual a Rússia, os EUA e o Reino Unido se comprometeram em não ameaçar ou atacar aqueles três países.

Putin durante uma reunião com o ministro dos Transportes © Gavriil GRIGOROV / SPUTNIK / AFP

O homem forte do Kremlin aproveitou a ocasião para voltar a falar sobre o fornecimento de munições perfurantes, as quais contêm urânio empobrecido, por parte do Reino Unido, à Ucrânia. “A Rússia tem, evidentemente, o que precisa de responder. Sem exagero, temos centenas de milhares de tais projéteis. Ainda não os utilizámos”, disse.

O próprio havia reagido em primeira instância, ao dizer que o seu país seria obrigado “a reagir” caso se confirmasse a transferência de tais munições, pois, segundo o próprio, têm uma “componente nuclear”.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros Sergei Lavrov mostrou-se preocupado com os efeitos das ditas munições nos soldados ucranianos e na capacidade agrícola do país invadido, alegando que os efeitos serão sentidos durante “décadas ou séculos” e irão “reduzir drasticamente as capacidades ucranianas de produção de alimentos de alta qualidade”.

O Ministério da Defesa do Reino Unido confirmou que tais munições irão ser enviadas para usar nos 14 tanques Challenger e classificou os “ridículos” comentários de Putin e de Lavrov de “desinformação clássica”, tendo ainda esclarecido que tais munições não são armas nucleares e que o impacto para a saúde e o ambiente é “baixo”.

Porém, um relatório do ano passado do Programa das Nações Unidas para o Ambiente alertava para os perigos do uso de tais munições na Ucrânia.

O presidente da Ucrânia, que durante a semana viajou até ao norte, leste e sul do país, viu sortes diversas para as zonas visitadas. Em Kherson, a cidade da região ainda ocupada na margem esquerda do Dniepre, as autoridades locais aconselharam os habitantes a sair, tendo em conta os constantes ataques russos e a incapacidade para manter um serviço estável de fornecimento de água e eletricidade. “A melhor opção para se proteger a si e aos seus é sair para locais mais seguros”, disse o conselho municipal.

Já sobre Bakhmut, a cidade alvo de uma ofensiva russa desde agosto, o comandante das forças armadas Valeri Zaluzhnyi disse que a situação está a ser estabilizada. A esta declaração junta-se a mais recente avaliação dos serviços de informações militares britânicos, segundo os quais o assalto russo “está em grande medida estancado”.

Mas Zelensky, em entrevista a um jornal japonês, lamentou a falta de equipamento e munições. “Não há como iniciar uma contraofensiva agora.”

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