Opinião

16-01-2023 2:00

16-01-2023 2:00

Joaquim Correia Victor

Economista

Estamos diante de um ano muito desafiante, isso face à contracção da economia mundial no ano 2022, causada pelo impacto da Covid-19 e da guerra na Ucrânia nas maiores economias. As instituições económicas internacionais, como o FMI e o Banco Mundial (BM), para este ano, alertam que a economia global está à beira de uma recessão. O BM prevê um crescimento do PIB global na ordem de 1,7%, quando no seu relatório anterior Global Economic Prospects, em Junho de 2022, o banco havia previsto um crescimento global na ordem dos 3,0%.

À vista disso, as autoridades monetárias têm traçado um conjunto de políticas monetárias com o objectivo de reduzir o impacto da possível recessão; por outro lado, os agentes económicos tendem a mover-se de forma mais cautelosa, gerindo as expectativas, acompanhando as medidas monetárias e esse circuito tem grande impacto no rumo e eficiência da actividade económica mundial.

No nosso caso, de acordo com os dados do INE (Instituto Nacional de Estatística), fechamos o III trimestre do ano de 2022 com um crescimento real do PIB na ordem dos 3,9% em termos homólogos, quando no II trimestre esteve na ordem dos 3,6%. A taxa de desemprego fixou-se em 30% no III trimestre, uma redução de 4,1 pontos percentuais face ao III trimestre de 2021. A inflação continua a ter uma orientação decrescente, atingindo agora a ordem dos 13,86% e aproximando-se ainda mais do objectivo de médio prazo na ordem de um dígito. Perante a posição dos indicadores económicos, há uma grande possibilidade de, na reunião do Comité de Política Monetária do Banco Central marcada para o dia 20 deste mês, apresentar-se uma medida monetária bem mais moderada com uma ligeira redução da taxa de juros BNA.

Diante disto, é necessário que as empresas angolanas passem a elaborar os seus planos estratégicos, para o ano, com base na posição actual económica, alinhados às medidas monetárias traçadas pelo BNA, já que tais políticas têm grande efeito na economia real do País. A política monetária é a política económica que lida com a quantidade de moeda disponível na economia e define com que facilidade se consegue obter empréstimos, ou seja, os bancos centrais, por meio da taxa de juros, estimulam os bancos comerciais a ceder mais ou menos liquidez à economia, tudo isso de acordo com as razões económicas, adoptando assim o que é chamado de política monetária expansionista, destinada a estimular o crescimento económico, e política monetária contraccionista, destinada a contrair o crescimento para controlar a inflação ou o aumento dos preços.

O curso da política monetária influencia o mercado empresarial, bem como toda a actividade económica. Imaginemos um cenário em que o BNA reduz a taxa de juros, dando maior liquidez aos bancos comerciais, com isso haverá maior expansão monetária na economia, maior cedência de liquidez, o que por sua vez vai estimular o consumo agregado da economia, as empresas conseguirão investir mais na sua capacidade produtiva, gerar mais postos de trabalho e mais rendimento para as famílias, contribuindo assim para o consumo e crescimento económico.

O aumento do investimento e capacidade produtiva das empresas, bem como o aumento da renda e consumo das famílias, pressupõe maior arrecadação de imposto por parte do governo, o que se traduzirá na melhoria das condições públicas, aumento do bem-estar para a sociedade, mais hospitais, escolas, etc. Por outro lado, uma eventual redução da taxa de juros por parte do BNA poderá reduzir a participação do exterior na economia, já que os juros estarão baixos; com isso há uma alteração da taxa de câmbio, desvalorização da moeda nacional; teremos mais necessidade de substituição de importação, visto que o preço da moeda baixou, os produtos nacionais serão bem mais atractivos para o exterior e a importação custará mais cara devido à desvalorização da moeda nacional.

Portanto, com a implementação de uma política monetária expansionista, redução da taxa de juros BNA, aumentará o investimento, consumo, gastos públicos, exportação e reduzirá a importação, gerando o ciclo de crescimento da actividade económica. Contudo, quando o crescimento da liquidez do mercado não é proporcional à produção nacional, gera uma desestabilização dos preços dos bens e serviços e, consequentemente, aumento do nível de inflação.

Neste caso, havendo instabilidade na actividade económica devido à falta de equilíbrio entre a produção e a quantidade de moeda disponível, o BNA altera o curso da política monetária, aumentando a taxa de juros, com vista a proteger o poder de compra dos agentes económicos. Esta política monetária contraccionista faz com que os bancos centrais tenham menos liquidez em sua posse e financiem menos a economia, gerando menos investimento, capacidade produtiva, mão-de-obra ou emprego, rendimento e consumo nas famílias, menos arrecadação de impostos e gastos públicos. O aumento da taxa de juro por parte do BNA atrai a participação estrangeira; com isso, altera a taxa de câmbio, valoriza a moeda nacional, reduz a exportação e aumenta a importação.

Portanto, a actividade económica gira em torno da gestão das expectativas. Os agentes económicos, por meio da análise dos indicadores económicos, criam expectativa num ambiente dinâmico sem uma previsão perfeita. Antecipar e acompanhar o curso da política monetária é de extrema relevância para os impulsionadores económicos (investidores).

Partilhar nas Redes Sociais

WhatsApp
Facebook
Twitter
Email