Opinião

Elizabeth Ferreira

Consultora internacional

13-03-2023 12:24

13-03-2023 12:24

Elizabeth Ferreira

Consultora internacional

A filosofia Ubuntu que significa “Eu sou, porque nós somos”, emerge do continente africano e defende a necessidade do fortalecimento do convívio social de modo que valores éticos e morais como a solidariedade, a confiança, o respeito e a generosidade são vistos como importantes para construção de uma sociedade feliz e harmoniosa. Ora, a violência, seja ela verbal ou física, cometida por um adulto ou por um menor põe em causa a dignidade da pessoa humana e a paz social. As acções violentas praticadas por uma aluna de uma escola do nosso país, cujo vídeo circulou nas redes sociais, levaram-nos à esta reflexão, apontando algumas soluções para que se evite a propagação de tal comportamento, no âmbito do resgate dos tais valores que deve nortear a vida em comum.

Há um mês, a sociedade angolana foi surpreendida com o surgimento de um vídeo intenso que circula nas redes sociais em que uma aluna do “Colégio de Benguela”, sito na mesma cidade, várias vezes a esbofetear no rosto a sua colega. As reacções da sociedade foram imediatas. Cidadãos anónimos, figuras públicas e instituições ligadas ao ensino repudiaram à agressora e solidarizaram-se com a vítima. A mãe da agressora não ficou indiferente ao comportamento negativo da filha, tendo escrito uma nota de repúdio “com lágrimas nos olhos, triste, magoada, abalada” porque ela “não compactua com atitudes do género.” De facto, a reação da sociedade não podia ser diferente. Não se pode aceitar a violência, muito menos normalizar o bullying, seja em que contexto for.

Todavia, embora o Gabinete Provincial de Educação de Benguela tenha publicado uma nota de repúdio e recomendado ao Colégio de Benguela que conclua rapidamente o “inquérito instaurado” e que envie o “relatório com as medidas a serem propostas aos órgãos de tutela,” a acção violenta da aluna deve reanimar o debate sobre a necessidade urgente de resgatarmos os valores genuínos inerentes que se degradam diariamente na nossa sociedade.

É responsabilidade de toda a sociedade participar no processo de resgate dos valores éticos e morais. Sendo a família a unidade básica de socialização, é no seio dela que se deve começar a incutir aos membros os princípios do respeito à dignidade da pessoa humana, da fraternidade e solidariedade entre as pessoas. A família deve trabalhar em colaboração com a escola e com a igreja por forma a construírem o homem novo, ou seja, aquele que reconhece e respeita a humanidade do outro, independentemente da sua condição social, credo religioso, ou filiação partidária. A relação triangular entre a família, escola e a igreja seria salutar para o processo de promoção da cidadania e da educação integral dos cidadãos, fazendo com que sejam técnica, académica, e humanamente bem formados. Embora a instrução seja importante do ponto de vista técnico, ela por si só, não é suficiente para a formação do homem novo. É relevante que se tenha em conta a dimensão ético e moral do processo de ensino e aprendizagem. Sendo a família e a igreja educadoras de consciências, elas não podem ser relegadas ao segundo plano.

O que se verifica no nosso contexto são factores contraproducentes à criação de uma sociedade moralmente harmoniosa. Devido às necessidades laborais, os pais passam a maior parte do tempo fora do convívio dos filhos. Muitas crianças socializam-se na rua onde absorvem valores antissociais. Outros pais relegam a educação dos seus filhos completamente à escola, em que directa ou indirectamente o professor é obrigado a exercer o papel de educador, pai e psicólogo, mesmo sem ter as qualificações para as tão complexas responsabilidades. O papel da igreja está a ser desvirtuado. A sua dimensão moral e espiritual está a ser posta na periferia, enquanto a promoção do materialismo assume um papel central. O discurso do resgate dos valores éticos e morais foi capturado por actores políticos e por membros da sociedade civil partidarizada, cujo comportamento nada tem a ver com a ética. Trata-se de um discurso de charme usado durante campanhas político-eleitorais. Portanto, a não ser que se tomem medidas concretas e sérias de modo a se reverter este estado de coisas, a sociedade continuará a experimentar a degradação dos valores éticos e morais através da violência escolar, violência doméstica, corrupção moral e política, pondo em causa a paz social dos angolanos.

Com Manuel Soque, professor assistente na Wittenberg University, Estados Unidos da América.

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