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Grupo Média Rumo não paga salários há seis meses e director do jornal Mercado demite-se em meio à greve geral dos jornalistas

23-01-2023 2:41

Nelson Francisco Sul

Director

23-01-2023 2:41

Nelson Francisco Sul

Director

O Grupo Média Rumo. S.A, com ligações ao antigo e actual presidente do Conselho de Administração do Banco Millennium Atlântico (BMA), Carlos José da Silva e António Assis de Almeida, respectivamente, e ao empresário Domingos Vunge, há anos que vive em “turbulência financeira” e não paga os salários aos jornalistas e demais trabalhadores. No princípio deste mês, o director do semanário económico Mercado, Henrique Kaniaki, acabou por colocar o seu lugar à disposição perante um cenário “insustentável” e “dramático” da empresa

No Grupo Média Rumo, que edita a revista Rumo e o jornal económico Mercado e o generalista Vanguarda, os jornalistas não vêem a “cor do dinheiro” desde Agosto de 2022. Dito de outro modo, há seis meses que não se paga salário no jornal co-fundado pelos banqueiros Carlos Silva e António Assis, através da sociedade angolana de gestão de activos Finicapital, num  investimento que contou com a parceria do Banco Privado Atlântico, que mudou o nome para Banco Millennium Atlântico.

Aquando da fundação da Média Rumo, 30% do capital era controlada pelo Grupo Impresa (dono da SIC e do Expresso), do português Francisco Pinto Balsemão, mas o empresário luso acabou por abandonar o projecto em 2013, dois anos depois da sua fundação (2011), na sequência de divergências e incómodos causados pelas notícias publicadas pelo seminário Expresso sobre investigações da Justiça portuguesa a altas figuras do poder angolano, nomeadamente ao então vice-presidente da República Manuel Domingos Vicente (tido como protector de Carlos Silva) e ao antigo chefe da Casa Militar de José Eduardo dos Santos, o general “Kopelipa”.

GRUPO DE MÉDIA MERGULHADO EM DÍVIDAS 

Carlos Silva e António Assis, co-fundadores do Grupo Média Rumo.

Devido ao não pagamento dos seus salários, os jornalistas decidiram paralisar os trabalhos e decretaram greve generalizada. Os profissionais do jornalismo denunciam que os pagamentos têm sido feitos aos “pingos”, ou seja, embora estejam há mais de seis meses sem salário, desde Agosto último, a empresa tem ainda por pagar aos jornalistas dívidas do ano de 2020.

“Mesmo os estagiários, que ganham uns míseros 50 mil kwanzas, estão há quatro meses sem salário”, diz Agostinho Rodrigues, chefe de redacção dos três meios do grupo (Mercado, Vanguarda e Rumo). Sem subsídios de férias, de natal e com o mês de Dezembro passado novamente em branco, “para nós, foi a gota d’água, já que isso se vem repentino há três anos”, denuncia o jornalista sénior da publicação.

Mergulhado em dívidas a fornecedores, atrasos no pagamento de salários, défices sucessivos de tesouraria e com um passivo na ordem dos milhões, o jornal Mercado deixou de circular desde o dia 16 de Dezembro, altura em que foi publicada a última edição sob n.º 357. A revista Rumo tem a sua última edição (junho e julho de 2022) encravada na Damer Gráficas, devido a faraónica dívida com a gráfica.

O Telegrama falou também com o demissionário director executivo do jornal Mercado, Henrique Simão “Kaniaki”, que, sem avançar outros dados, confirmou a sua autodemissão nestes termos: “a situação era insustentável. Não tive outra alternativa”. Um assunto que vai agora às mãos do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA).

“Vamos proceder a interpelação nos próximos dias, dado que a empresa está em falta com os trabalhadores. Antes de tudo é lamentável que os trabalhadores fiquem quase dois anos sem salário”, diz Teixeira Cândido, líder sindical dos jornalistas angolanos.

Contactado, o PCA do grupo Media Rumo, Domingos Vunge, não respondeu ao nosso pedido de esclarecimentos.

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