”Wasuama ka zongola” – quem se esconde não deve espreitar.
O nosso provérbio Kimbundu resume bem o que está a acontecer com muitas empresas angolanas quando o assunto é bolsa de valores. Querem crescer, ser vistas, atrair investidores, participar do mercado — mas continuam escondidas. Recusam-se a dar o passo da abertura de capital, como se ainda pudessem espreitar o futuro sem se expor ao presente.
Segundo dados oficiais, o país conta com mais de 421 empresas classificadas como grandes contribuintes. Mesmo com estimativas conservadoras, esse número representa apenas cerca de 0,009% de participação no mercado bolsista.
Em contraste, países africanos com mercados de capitais mais desenvolvidos — como Nigéria, Marrocos e África do Sul — apresentam taxas significativamente superiores, variando entre 1% e 3% de empresas com estrutura e maturidade para abertura de capital.
Esse descompasso mostra, com clareza, o quanto ainda estamos longe de tudo o que o nosso mercado poderia ser. Visto dessa forma, a entrada de empresas sólidas na bolsa não é apenas uma questão de prestígio — é, acima de tudo, um passo em direção a uma gestão mais transparente, a práticas de governança mais maduras e ao acesso a formas de financiamento mais inteligentes e sustentáveis.
Entretanto, já lá vão mais de dez anos desde que a BODIVA — Bolsa de Dívida e Valores de Angola — está activa e, até agora, apenas quatro empresas estão listadas no segmento de acções. Quatro. E uma delas é a própria gestora da bolsa.
A verdade é que não nos faltam empresas com potencial para estar na bolsa. Há grupos sólidos, com receitas robustas, presença nacional e até ambições de internacionalização. Mas, mesmo com todo esse perfil, continuam fora do mercado de capitais.
Mesmo quando uma nova empresa decide avançar com a entrada no mercado de capitais, o processo frequentemente torna-se moroso, marcado por adiamentos e indecisões. Há casos em que ofertas públicas foram anunciadas com entusiasmo, mas acabaram interrompidas por incertezas e recuos estratégicos. Em outras situações, ao subestimarem a dinâmica e exigências do mercado, uma empresa chegou a lançar a oferta, mas fracassou na fase de subscrição por ausência de procura significativa.
E aqui vale a pergunta: o que está realmente a travar essa decisão?
Não é falta de legislação — já temos um enquadramento relativamente claro para o funcionamento do mercado de capitais. A Lei n.º 22/15 (Código dos Valores Mobiliários), complementada por regulamentos como o n.º 6/16 (Regulamento dos Emitentes) e o n.º 2/14 (Regulamento dos Mercados Regulamentados). E tampouco é desinteresse dos investidores, que querem, sim, mais opções para diversificar suas carteiras.
O desafio parece estar dentro das próprias empresas.
Ainda se nota, em muitas delas, um certo desconforto com a ideia de se abrir ao mercado, de partilhar números, estratégias e vulnerabilidades. Pode ser receio. Pode ser falta de hábito. Pode ser uma cultura organizacional que valoriza o silêncio.
Há quem associe, ainda hoje, sigilo à força — como se mostrar os bastidores fosse abrir mão do controlo. E, talvez por isso, a ideia de prestar contas com regularidade, de lidar com auditorias externas, conselhos de administração e assembleias de acionistas soe intimidante para algumas lideranças.