No quinquagésimo primeiro dia de governação, surpreendeu tudo e todos, até mesmo os mais cépticos e seus opositores. João Lourenço tinha deixado estatelado e sem discurso toda a oposição. Quase ninguém acreditava que o sucessor de Eduardo dos Santos fosse tomar decisões tão profundas e que, em tão pouco tempo, pudesse estremecer os pilares da entourage.
Uma das primeiras decisões, indicativo de que não seria uma marioneta, segundo o próprio, foi ter recusado a recondução do general Manuel Vieiras Dias “Kopelipa” no cargo de chefe da Casa Militar e de Segurança do Presidente da República. Apelidado de “Exonerador Implacável”, devido à razia que começou com Isabel dos Santos na petrolífera Sonangol, passando pelos diamantes, BNA e por todas as empresas públicas estatais, a sua coragem mobilizou “18 dinossauros” do bureau político, a cúpula dirigente do partido, que forçaram Eduardo dos Santos a largar o cadeirão máximo do ‘Kremlin’, na Av. Ho Chi Minh, colocando fim à bicefalia. Entre os subscritores da aludida carta estão André Santana Pitra “Petroff”, Roberto de Almeida e António dos Santos França “Ndalu”.
Revirou as contas públicas, seguiu as pistas da aplicação dos recursos públicos e dos contratos estabelecidos, principalmente com a China. João Lourenço teve um início de mandato que superou as expectativas internas e da comunidade internacional. Um líder africano em ascensão. Tinha interpretado o espírito e à letra da máxima “corrigir o que está mal…”
As reformas então levadas a cabo chegaram a merecer o elogio do então ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Theresa May, Boris Johnson, que defendeu na sua conta do Twitter a inclusão de Angola à família da Commonwealth, a comunidade dos países anglófonos.
Com o tempo, João Lourenço esbarrou nos interesses instalados. Talvez se tenha percebido que, para combater a corrupção, teria que aplicar um haraquíri, o famoso ritual japonês suicida, que consiste em cortar na própria pele para reparar a honra. E reparar a honra seria, indubitavelmente, levar o MPLA… ao banco dos réus. Porém, entre acertos e erros, o Presidente Lourenço é uma das figuras que fizeram parte da última década tão marcante.