Após um longo período de guerra civil, terminado em 2002, Angola experimentou um boom extraordinário no crescimento económico, impulsionada por receitas provenientes do sector petrolífero.
Com um crescimento médio de 7,3% do seu Produto Interno Bruto (PIB), nos primeiros 16 anos pós-guerra civil, o País foi uma das economias que mais cresceram a nível mundial, estando acima de grandes potências africanas, como a Nigéria, que viu seu PIB crescer, em média, 5,78%, e a África do Sul, em 2,67%, de acordo com os dados contidos no Relatório Económico (2019-2020) do CEIC – o Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (UCAN).
Entretanto, a queda nos preços do petróleo, entre 2014 a 2016, levou o país a caminhar para um sentido inverso, experimentando uma longa e dolorosa recessão de cinco anos, com uma contracção média anual no PIB real de 2,1% entre 2016 a 2020.
A renda real per capita também se contraiu com uma média de 5,4% ao ano durante o mesmo período, retornando a níveis próximos aos de 2002, quando a economia cresceu 13,7%.
Embora, entre 2003 a 2018, a economia angolana tenha vivenciado um período de bonança, os dados sobre a pobreza indicam certo nível de desalinhamento entre crescimento do PIB e a desigualdade, ou seja, os benefícios do crescimento não foram distribuídos de maneira equitativa.
Cerca de um terço dos angolanos vive em pobreza extrema e com menos de USD 2,15 por dia em paridade de poder de compra (PPP) de 2017, conforme espelha o Angola Country Memorandum, o documento do Banco Mundial que examina o crescimento de um país, suas oportunidades e desafios.
A riqueza do país está concentrada nas mãos de poucos, tal como indica o índice de Gini de 0,51, um dos mais altos do mundo, segundo o World Population Review.
Desenvolvimento a passos lentos
Os resultados de desenvolvimento são fracos. Esta constatação é possível verificar quando se consulta o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador que mede o desempenho geral de um país em saúde, educação e padrões de vida a nível económico. Angola tem uma nota de 0,616, muito abaixo da média global, o que o coloca segundo produtor de petróleo do continente africano, na posição 146 numa lista que avalia 192 países.
De acordo com o último Relatório de Desenvolvimento do Programa das Nações Unidas, perto de 3,9 milhões de crianças angolanas, com idades compreendidas entre 6-17 anos, encontram-se fora do sistema de ensino e aprendizagem, cenário que poderá comprometer de maneira irreversível o futuro económico e social do país, pois a qualidade do ensino tem ficado aquém das necessidades. Além disso, Angola caracteriza-se como um Estado de instituições extractivas, minando assim o desenvolvimento económico.
Imprevisibilidade da economia
O crescimento económico de Angola é mais volátil e menos previsível do que o de seus pares. No período de 2002 a 2023, o País teve o maior desvio padrão (0,06) no crescimento do PIB anual em comparação com seus pares estruturais (0,02) e aspiracionais (0,04), indicando uma maior fluctuação económica do que os países usados de base comparativa.
Os pares estruturais selecionados são Nigéria, República do Congo, Moçambique, Camarões e Zâmbia; os pares aspiracionais são África do Sul, Botsuana, Indonésia, Colômbia, Peru, Malásia e Chile.
A volatilidade no crescimento do PIB de Angola foi particularmente alta entre 2002 e 2014, coincidindo com o boom do petróleo, seguida de uma leve diminuição entre 2015 e 2023. De acordo com o Angola Country Memorandum, a volatilidade é impulsionada, em grande parte, pelo sector petrolífero, reflectindo a incapacidade de Angola de absorver o impacto das receitas das exportações de petróleo voláteis sobre as fluctuações na demanda agregada doméstica.
Devido ao baixo crescimento e à volatilidade excessiva, Angola não está mais acompanhando os pares aspiracionais. Durante o boom do petróleo, a renda per capita de Angola quase convergiu com a da África do Sul e dos países de média renda (MICs). Houve ganhos temporários em produtividade, mas a dinâmica foi revertida após o choque do petróleo de 2014, com uma queda acentuada na produtividade total dos factores (PTF). Isso destaca a insustentabilidade de um modelo de crescimento que depende fortemente do uso da riqueza dos recursos naturais para impulsionar a demanda agregada interna.
Embora tenham havido contribuições positivas do capital físico e do trabalho, essas foram insuficientes para contrabalançar a queda na produtividade, sublinhando a fragilidade estrutural da economia angolana. Como referência, o País precisa de, pelo menos, 55 anos para alcançar o padrão de vida da África do Sul e, numa visão mais pessimista, precisará de, no máximo, 250 anos, conforme o Angola Country Economic Memorandum (CEM) Moving Beyond Oil: Laying the Foundations for Growth and Jobs do Banco Mundial.
A petrodependência da economia
A economia angolana está, gradualmente, a fazer a transição de um modelo de crescimento baseado no petróleo, visto que o crescimento económico experimentado no passado não criou a base para uma economia diversificada, resiliente e mais inclusiva.
Angola saiu da recessão em 2021, embora o fim do crescimento baseado no petróleo tenha levado a um período de desenvolvimento baixo e lento, o crescimento no sector não petrolífero vem ganhando lentamente o impulso.
O sector petrolífero está em declínio e, além disso, com a transição energética global, os activos de petróleo estão propensos a tornar-se ociosos ou improdutivos, o que fará aumentar, assim, a necessidade de acelerar a diversificação económica para Angola.
No entanto, a alta dependência do petróleo, que representa aproximadamente 25% do PIB, 65% da receita e mais de 95% das exportações de bens, continua a ser significativa, enquanto o crescimento da economia não petrolífera permanece fraco. Além disso, os choques nos preços do petróleo traduziram-se em instabilidade macroeconómica e crise fiscal, desacelerando a economia real.
A taxa de crescimento real do PIB deve ter uma média de 3,8% durante o período de 2026 a 2035 e, em seguida, acelerar para cerca de 5% em 2050. Consequentemente, o PIB real per capita crescerá modestamente, com uma média de cerca de 2% por ano entre 2026 e 2050, com a taxa de crescimento populacional prevista para ter uma média de cerca de 2,5% sob um cenário de fertilidade média.
O PIB real per capita deve aumentar de US$ 2 299 em 2022 para aproximadamente US$ 3 803 em 2050 (em USD reais de 2015), segundo as projecções apresentadas no CEM para Angola.
A modesta expansão será impulsionada por um crescimento mais forte no sector não petrolífero, apoiado por fundamentos melhorados, que compensarão mais do que a esperada queda no sector petrolífero. O crescimento no sector não petrolífero está projectado para uma média de cerca de 6,1% até 2029, mantendo-se nesse nível até 2040 e, em seguida, diminuindo ligeiramente para 5,6% até 2050.
Embora o crescimento do sector não petrolífero em médio prazo possa desacelerar, devido a efeitos indirectos da queda do sector petrolífero, a melhoria nos fundamentos como um dividendo demográfico, maior capital humano e aumento da intensidade de capital e produtividade, sustentará o crescimento a longo prazo.
O PIB cresceu 2,30% no primeiro trimestre de 2025 face ao trimestre anterior. A taxa de crescimento do PIB foi em média de 1,19% de 2002 a 2025, atingindo um recorde histórico de 20,10% no primeiro trimestre de 2006 e uma retracção de 12,70% no segundo trimestre de 2020, de acordo com os dados apresentados no Trading Economics. Ainda assim, Angola está cada vez mais distante de atingir os seus pares aspiracionais. de atingir os seus pares aspiracionais.