A admissão à negociação das acções do BFA na BODIVA marcou mais um momento histórico para o mercado de capitais (considerando a dimensão da operação), e também desencadeou um efeito de valorização generalizada em diversos activos cotados.
Propus-me a analisar esta reacção do mercado à luz dos fundamentos teóricos do valuation.
Após o IPO, as acções do BFA (ticker: BFAAAAAA) foram admitidas à negociação com uma valorização expressiva de +25,00%, tornando-se o activo mais negociado em número de negócios e volume.
Este movimento gerou um efeito de contágio positivo sobre outros activos cotados:
A valorização do BFA funcionou como gatilho psicológico e financeiro, reforçou a confiança dos investidores e influenciou uma reavaliação positiva dos activos do sector financeiro e da própria bolsa.
A OPV envolveu a alienação de 29,75% do capital social, com mais de 10 mil ordens alocadas e 8.488 novos accionistas e o rácio procura/oferta foi de 506,37%.
A estrutura da oferta e a ampla participação indicam um processo de democratização do capital e de fortalecimento institucional da BODIVA.
Fundamentos teóricos do Valuation
Segundo Stinghen (2022), o valuation é um conjunto de métodos que busca estimar o valor intrínseco de uma empresa, com destaque para:
- Discounted Cash Flow (DCF): baseado na projecção dos fluxos de caixa futuros e sua actualização pelo WACC ou Ke;
- Valuation Relativo: comparação com múltiplos de empresas similares;
- Múltiplos de mercado e transacções comparáveis: úteis em contextos de IPOs e M&A.
A questão é: esta valorização pode ser interpretada como uma correcção de mercado para aproximar o preço das acções ao seu valor justo?
Segundo a teoria do valuation (Stinghen, 2022), o mercado nem sempre precifica os activos correctamente.
O valuation parte da premissa de que os mercados são ineficientes no curto prazo, e que o preço de mercado pode divergir do valor real.
A valorização pode ser uma correcção, mas também pode ser:
- Especulação: investidores compram por expectativa de valorização futura, não necessariamente por fundamentos;
- Euforia de mercado: o efeito psicológico de uma nova cotação pode gerar sobrevalorização temporária;
- Reprecificação por novos dados: a cotação do BFA trouxe mais transparência e permite aos investidores reavaliar o sector bancário.
O BFA apresentou indicadores sólidos em 2024, com um volume de negócios de 3 806 mil milhões de kwanzas e manteve uma rentabilidade atractiva, com um ROE de 33,7% e um ROA de 5,5%, ambos em ligeira melhoria face ao ano anterior.
O resultado líquido cresceu 22,9%, totalizando 205 821,2 milhões de kwanzas, impulsionado pelo aumento do produto bancário (+25,5%), demonstrando a capacidade do banco em gerar valor consistente para os accionistas, mesmo num contexto de maior expansão do crédito.
Esses dados sustentam uma valorização. Mas os outros activos (BAI, ENSA, BODIVA) também valorizaram, mesmo sem novos dados públicos. Isso sugere que o movimento pode ter sido mais emocional e sistêmico do que racional e fundamentado.
Aplicação prática: o caso BFA e o efeito de rede
A valorização do BFA não ocorreu isoladamente. A cotação do activo gerou um efeito de rede e influenciou positivamente:
Outras instituições cotadas que apresentaram valorizações superiores a 15%.
A própria BODIVA, cuja acção valorizou 15,63%, e que acaba por reflectir o fortalecimento institucional e o aumento da atractividade do mercado.
Esse fenómeno pode ser interpretado à luz da teoria do valuation como uma revisão colectiva das expectativas de crescimento e risco, com impacto directo na percepção de valor dos activos.
Conclusão
O valuation, na sua essência, é mais do que um cálculo matemático: é um exercício crítico de interpretação entre valor e preço, entre racionalidade e percepção colectiva.
O mercado, pela sua natureza imperfeita, oscila entre momentos de subavaliação e de sobreavaliação, e é precisamente nesse hiato que reside a oportunidade para o investidor esclarecido.
É fundamental compreender, sobretudo para os investidores, a psicologia que molda os preços, e assim distinguir ruído de um sinal. O valuation permite ancorar decisões num quadro racional, ao mesmo tempo que reconhece a inevitável dimensão humana e imperfeita dos mercados.