Finanças & Wall Street

Uma viagem pela história: Angola e os 10 anos de Eurobonds

Fânia Massua

15 Outubro, 2025 - 17:51

Fânia Massua

15 Outubro, 2025 - 17:51

Em 2014, Angola enfrentava um cenário económico desafiante, marcado por uma queda de 70% na receita bruta petrolífera. A forte redução das receitas do principal produto de exportação obrigou o País a desencadear um conjunto de reformas macrofiscais destinadas a garantir o equilíbrio orçamental, conferir maior qualidade à despesa pública e assegurar a sustentabilidade da dívida pública

Durante a conferência promovida pelo O Telegrama, o presidente do Fundo Soberano conduziu os participantes a uma viagem ao passado, relembrando a história da primeira emissão de Eurobonds por Angola, apresentando, assim, o contexto económico da altura bem como os principais motivos que levaram o país a ingressar nos mercados internacionais de capitais. Antes de Angola, apenas quatro países africanos haviam trilhado o caminho dos eurobonds.

‎‎Em 2014, Angola enfrentava um cenário económico desafiante, marcado por uma queda de 70% na receita bruta petrolífera. A forte redução das receitas do principal produto de exportação obrigou o País a desencadear um conjunto de reformas macrofiscais destinadas a garantir o equilíbrio orçamental, conferir maior qualidade à despesa pública e assegurar a sustentabilidade da dívida pública.

‎Segundo Armando Manuel, o então ministro das Finanças, este período foi, igualmente, marcado pelo alargamento das relações financeiras com diversos parceiros internacionais. No entanto, as fontes bilaterais de financiamento, embora importantes, tendiam a potenciar as exportações das outras nações, limitando a retenção de recursos dentro da economia angolana em virtude dos acordos estabelecidos.

‎Num contexto em que o investimento público já havia desempenhado o papel de principal alavanca do crescimento, tornava-se essencial estimular o investimento privado como novo motor da economia. “Para isso, o país precisava aceder a fontes de financiamento que sustentassem simultaneamente o lado fiscal, o sector real e o equilíbrio monetário”, afirmou a entidade que foi responsável pela emissão pioneira das euro-obrigações soberanas.

‎Acto contínuo, Armando Manuel sublinhou que foi neste cenário que, em Novembro de 2015, Angola decidiu estrear-se corajosamente no mercado internacional de capitais, através da emissão das suas primeiras Eurobonds.

‎“A decisão foi tomada num contexto global desfavorável, com os preços das commodities em baixa, mas representou um passo estratégico para injectar recursos na economia doméstica, financiar actividades produtivas e reforçar a autonomia financeira nacional”.

‎Depois de mostrar uma vertente mais histórica da primeira emissão de Eurobonds, o actual presidente do Conselho de Administração do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) passou em revista a evolução mais recente sobre rendimentos e percepção de risco, entre os anos 2022 a 2025, anotando a “correlação positiva entre o preço do petróleo e o valor das obrigações angolanas com vencimento em 2025”.

‎O preço do barril variou entre um mínimo de 72,45 USD (Dezembro de 2022) e um máximo de 94,50 USD (Setembro de 2023). A valorização do petróleo contribuiu para a redução dos rendimentos soberanos e para a melhoria da percepção de risco de Angola nos mercados internacionais.

‎O cenário global: taxas e volatilidade

‎Nesta viagem histórica, os números trazidos ao público ajudaram a ilustrar como o cenário económico global teve impacto nas emissões de eurobonds. A política monetária restritiva adoptada pelos principais bancos centrais das economias avançadas resultou num aumento das taxas de juro de curto e longo prazos, elevando, assim, os custos de financiamento das obrigações soberanas.

‎Acresce que os eventos económicos e financeiros globais em 2023 geraram variações significativas nos rendimentos das Eurobonds, reflectindo alterações nas expectativas sobre o desempenho da economia angolana e sobre a sua notação de risco soberano.

‎Antes de Angola, poucos países africanos haviam trilhado o caminho dos Eurobonds: a África do Sul em 1995, Gana em 2007, a Nigéria em 2011 e o Quénia em 2014. A decisão de Angola em 2015 posicionou o país como pioneiro na África Austral lusófona, abrindo uma nova fronteira financeira, assinalou o presidente do Fundo Soberano.

‎Na análise comparativa com o contexto africano, as curvas de rendimentos das Eurobonds revelam diferenças marcantes: a curva do Gana manteve-se em níveis mais elevados, reflectindo a persistente percepção de risco associada à economia ganesa.

‎No caso angolano, suas yields estiveram ligeiramente superiores às da Nigéria ao longo do último trimestre, resultado da avaliação dos investidores sobre o desempenho e as perspectivas da economia nacional. A África do Sul manteve, como habitual, um perfil de risco mais baixo entre as principais economias africanas.

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Fânia Massua

Editora de Mercados & Tesouro

Licenciada em Economia e Gestão, com interesse em pesquisa, estudos sobre Desenvolvimento Económico, Crescimento Económico, Progresso, Análise de tendências dos Mercados Nacionais e Internacionais. Foi consultora júnior na TSCO, e, desde Outubro de 2024, lecciona na Universidade Católica de Angola (UCAN), onde é professora assistente na disciplina de Desenvolvimento Económico. A partir deste Inverno (cacimbo) de 2025, juntou-se à equipa da revista O Telegrama para assumir a editoria de Mercados & Tesouro. Email: [email protected]

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