Opinião

‎O caminho estratégico de Angola no mercado internacional

Solândia Caputo

PCA da Resultados SCVM

22 Outubro, 2025 - 14:27

22 Outubro, 2025 - 14:27

Solândia Caputo

PCA da Resultados SCVM

‎A incursão de Angola nos mercados internacionais de capitais revela uma trajectória marcada por progressos e desafios. Este percurso evidencia tanto conquistas quanto vulnerabilidades estruturais que exigem abordagem estratégica renovada.

‎A jornada iniciada em 2015 com a Palanca I (USD 1,5 mil milhões a 9,50%) culmina com o Despacho Presidencial n.º 76/25, autorizando USD 3 mil milhões. Esta evolução ocorre num contexto de dependência excessiva do petróleo e volatilidade macroeconómica persistente.

‎A realidade dos números

‎Com USD 9,75 mil milhões emitidos, Angola demonstra capacidade de acesso aos mercados, mas cupões de 8,75% ainda posicionam o país em patamares elevados face aos pares regionais. O rating B3 da Moody’s sublinha margem limitada para deterioração.

‎O PAE – 2025 projecta redução do rácio dívida/PIB de 69% para 63%, trajectória condicionada ao crescimento de 4,1% e controlo inflacionário. Esta dependência sublinha fragilidade da estratégia.

Desafios estruturais

‎A exposição de 83% da dívida governamental ao risco cambial constitui vulnerabilidade crítica. Flutuações do kwanza amplificam pressões fiscais, criando ciclos viciosos.

‎A sobrescrição 2,3x da Palanca VI não deve mascarar dependência de condições globais favoráveis. Mercados emergentes enfrentam headwinds: tapering americano, tensões geopolíticas e preferência por activos seguros pressionam yields soberanos.

‎Caminhos estratégicos

‎Primeiro, diversificação económica torna-se imperativa. As eurobonds devem financiar transformação estrutural, não meramente necessidades orçamentais. Segundo, desenvolvimento do mercado doméstico reduziria dependência externa. Terceiro, instrumentos ESG poderiam atrair investidores especializados com pricing favorável.

‎Gestão de risco sofisticada

‎A operação de Liability Management de 2022 (recompra de USD 636 milhões da Palanca I) exemplifica maturidade operacional. Contudo, é necessário sistematizar estas práticas, desenvolvendo framework de gestão activa.

‎As eurobonds consolidaram Angola como emissor respeitado, mas sustentabilidade exige reformas profundas. O sucesso futuro dependerá da transformação de recursos em crescimento sustentável.

‎Em conclusão, Angola demonstrou que mercados podem ser aliados do desenvolvimento, mas esta aliança requer reciprocidade: disciplina fiscal, diversificação e transparência. O próximo capítulo determinará se estas emissões catalisarão transformação estrutural.‎

‎A trajectória futura exigirá execução estratégica.

Angola’s Strategic Path in International Markets

Angola’s venture into international capital markets reveals a trajectory marked by both progress and challenges. This journey highlights achievements as well as structural vulnerabilities that require a renewed strategic approach.

Starting in 2015 with Palanca I (USD 1.5 billion at 9.50%), this journey culminates with Presidential Decree No. 76/25, authorizing USD 3 billion. This evolution occurs in a context of excessive dependence on oil and persistent macroeconomic volatility.

The Reality in Numbers

With USD 9.75 billion issued, Angola demonstrates market access capability, but coupons of 8.75% still position the country at elevated levels compared to regional peers. Moody’s B3 rating underscores limited margin for deterioration.

The 2025 Economic Adjustment Program projects a reduction in the debt-to-GDP ratio from 69% to 63%, a trajectory contingent on 4.1% growth and inflation control. This dependency highlights the strategy’s fragility.

Structural Challenges

The 83% exposure of government debt to currency risk constitutes a critical vulnerability. Kwanza fluctuations amplify fiscal pressures, creating vicious cycles.

Palanca VI’s 2.3x oversubscription should not mask dependence on favorable global conditions. Emerging markets face headwinds: American tapering, geopolitical tensions, and preference for safe assets pressure sovereign yields.

Strategic Pathways

First, economic diversification becomes imperative. Eurobonds should finance structural transformation, not merely budgetary needs. Second, developing the domestic market would reduce external dependency. Third, ESG instruments could attract specialized investors with favorable pricing.

Sophisticated Risk Management

The 2022 Liability Management operation (repurchase of USD 636 million of Palanca I) exemplifies operational maturity. However, these practices need to be systematized by developing an active management framework.

Eurobonds have established Angola as a respected issuer, but sustainability requires profound reforms. Future success will depend on transforming resources into sustainable growth.

In conclusion, Angola has demonstrated that markets can be allies in development, but this alliance requires reciprocity: fiscal discipline, diversification, and transparency. The next chapter will determine whether these issuances catalyze structural transformation.

The future trajectory will require strategic execution.

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