Opinião

As implicações estratégicas dos Eurobonds para Angola: 10 Anos Depois

Walter Pacheco

PCA da Kassai Capital

23 Outubro, 2025 - 08:41

23 Outubro, 2025 - 08:41

Walter Pacheco

PCA da Kassai Capital

Em Junho de 2015, publiquei um artigo intitulado “As implicações estratégicas dos Eurobonds para Angola” no qual defendi que as yields poderiam ser um barómetro da eficácia das políticas económicas, que serviriam de referência para o sector privado aceder ao financiamento internacional e que contribuiriam para diversificar as fontes de financiamento do Estado. Uma década depois, é oportuno avaliar até que ponto estas previsões se confirmaram.

Rendimentos como um indicador de eficácia de políticas

A primeira conclusão era que os investidores precificariam os títulos nacionais em função do desempenho da economia, refletindo nas yields a eficácia ou ineficácia das políticas públicas. Contudo, a evolução do Z-spread e do crescimento económico não demonstrou uma correlação consistente.

Em anos de pouco crescimento ou de algum, os investidores não reagiram, de forma imediata, aos resultados. O que se confirmou foi a forte ligação entre o risco de Angola e o preço do petróleo. Quando o crude sobe, o risco tende a cair; ainda assim, mesmo em máximos históricos do preço de petróleo, não houve redução proporcional do risco. O sinal é claro: sem reformas estruturais, o custo de financiamento permanecerá elevado.

‎A oportunidade perdida para o sector privado

A segunda previsão era que o sector privado aproveitaria a oportunidade para emitir dívida no mercado internacional, como aconteceu em vários países africanos. Entre 2015 e 2025, empresas africanas captaram cerca de USD 17 mil milhões em Eurobonds, sobretudo nos sectores industrial, bancário e de telecomunicações. Em Angola, porém, nenhuma empresa avançou com emissões, apesar de a banca e as telecomunicações terem condições para tal. Foi, sem dúvida, uma oportunidade perdida.

A transformação da dívida soberana

A terceira e última previsão dizia respeito ao Estado. Em 2015, 86% da dívida externa era dominada por linhas bilaterais e créditos de fornecedores, principalmente da China. Hoje, cerca de 84% do stock é composto por dívida comercial, Eurobonds e multilateral. Aqui, a previsão cumpriu-se: os Eurobonds tornaram-se fundamentais na diversificação das fontes de financiamento do país.

‎Conclusão: conquistas e lacunas

Dez anos depois, o balanço é claro. Os Eurobonds ajudaram Angola a diversificar os credores externos, mas ainda não se tornaram um verdadeiro reflexo da eficácia das políticas económicas. Pior: o sector privado desperdiçou uma década sem aceder a esta alternativa de financiamento.

The Strategic Implications of Eurobonds for Angola: Ten Years Later

In June 2015, I published an article entitled “The Strategic Implications of Eurobonds for Angola.” At the time, I argued that sovereign bond yields could become a barometer of the effectiveness of economic policy, provide a benchmark for private companies seeking access to international financing, and help diversify the State’s sources of funding. A decade later, it is timely to assess to what extent these forecasts have been confirmed.

Yields as an Indicator of Policy Effectiveness

The first expectation was that investors would price Angolan sovereign bonds according to the country’s economic performance, with yields reflecting the success—or failure—of public policies. In practice, this has not been the case. The trajectory of the Z-spread has shown little consistent correlation with Angola’s growth performance. In both years of weak growth and years of moderate recovery, investors did not adjust their risk perception immediately or proportionally.

What has proven decisive, however, is the link between Angola’s risk premium and international oil prices. When crude rises, sovereign risk tends to fall. Yet even during periods of record-high oil prices, the reduction in risk was far from proportional. The message is clear: without structural reforms, Angola’s cost of capital will remain high, regardless of favorable commodity cycles.

The Missed Opportunity for the Private Sector

The second prediction was that Angola’s private sector would take advantage of the new benchmark to issue international debt, as companies across Africa were beginning to do. Between 2015 and 2025, African corporates issued approximately USD 17 billion in Eurobonds, particularly in the industrial, banking, and telecommunications sectors.

In Angola, however, not a single company ventured into this market. Despite favorable conditions in banking and telecoms, the opportunity was not seized. This represents a lost decade in terms of diversifying funding sources for the private sector, and a missed chance to reduce reliance on domestic credit markets.

The Transformation of Sovereign Debt

The third forecast related to the State’s financing structure. In 2015, around 86% of Angola’s external debt consisted of bilateral loans and supplier credits, with China playing a dominant role. Today, roughly 84% of the debt stock is made up of commercial borrowing, Eurobonds, and multilateral financing. On this front, the prediction materialized: Eurobonds have become central to Angola’s strategy of diversifying its sources of external funding.

Conclusion: Achievements and Gaps

A decade on, the balance is mixed. Eurobonds have helped Angola diversify its pool of creditors and reduce reliance on bilateral arrangements. However, they have not become a true reflection of the effectiveness of economic policy. More concerning, the private sector failed to capitalize on the opportunity altogether, leaving Eurobonds as a tool of the State rather than a broader financial instrument for the economy.

The lesson is sobering: while Eurobonds have secured a place in Angola’s financial architecture, their full potential remains unrealized. Without structural reforms and greater private sector engagement, the promise of Eurobonds as a catalyst for economic transformation will remain only partially fulfilled.

Partilhar nas Redes Sociais

+ LIdas

Leia também

error: Conteúdo protegido!!

Informação de qualidade que o ajuda a crescer

Já é assinante?

Informação de qualidade que o ajuda a crescer