Opinião

Investimento e financiamento sustentável via Bolsa – O caso de Cabo Verde

Danielson Correia

Director de Operações de Mercado da Bolsa de Valores de Cabo Verde

4 Novembro, 2025 - 10:26

4 Novembro, 2025 - 10:26

Danielson Correia

Director de Operações de Mercado da Bolsa de Valores de Cabo Verde

A sustentabilidade tornou-se um fator determinante nas decisões de investimento e no acesso ao financiamento global. A integração de critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) molda o desenho de instrumentos financeiros e reforça o papel das bolsas como plataformas de mobilização de recursos. O desafio é claro: financiar projetos que conciliem crescimento económico, inclusão social e resiliência ambiental. Cabo Verde, pela sua condição de pequeno Estado insular em desenvolvimento, tem dado passos firmes nesse percurso.

Cabo Verde definiu metas ambiciosas no setor energético, comprometendo-se a integrar 50% de fontes renováveis até 2030. Concretizar este objetivo exige elevados investimentos, com financiamentos que podem ser através da Bolsa, nomeadamente por emissões de títulos sustentáveis como obrigações verdes, sociais e azuis. Esta aposta traduz-se numa oportunidade de alinhar política energética, estratégia de financiamento e compromissos climáticos.

É neste contexto que surge a Plataforma Blu-X (www.blu-x.cv/), fruto da parceria estratégica entre a Bolsa de Valores de Cabo Verde (BVC) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Trata-se de uma iniciativa pioneira na região para listagem e negociação de instrumentos sustentáveis e inclusivos, como títulos azuis, verdes e sociais. A ambição é fomentar uma economia sustentável e inclusiva, incentivando empresas e investidores a ponderar impactos sociais e ambientais das suas atividades.

Iniciada em 2021 e lançada em novembro de 2022, a Blu-X já apresenta resultados concretos. Desde então, foram realizadas 7 emissões sustentáveis: 1 blue bond, 2 green bonds, 3 social bonds e 1 sustainability bond, num total de cerca de 40,6 milhões de euros (46,8 milhões de dólares). Para um mercado de pequena escala, estes números são relevantes e confirmam que a inovação financeira pode desbloquear recursos para o desenvolvimento sustentável.

É preciso recordar que, segundo o Country Climate Development Report do Banco Mundial, Cabo Verde precisará de uma média anual de 142 milhões de USD para financiar a sustentabilidade de 2024 a 2030. Mas até 2025 o montante ascende a 2.6 mil milhões de USD, sob risco de, se nada for feito, ocorrer um impacto negativo no PIB de 3,1% em 2050. Assim, mais do que números, estas emissões demonstram que é possível o financiamento/investimento sustentável, criando um ecossistema de financiamento alternativo em Cabo Verde.

No plano macroeconómico, o financiamento sustentável via Bolsa assume relevância acrescida. Ao atrair investidores institucionais, fundos internacionais e a diáspora, os países podem reduzir a dependência do endividamento externo tradicional, reforçar a autonomia financeira e diversificar fontes de financiamento.

A experiência internacional demonstra que o investimento sustentável já não é tendência, mas imperativo competitivo. Mercados que criarem instrumentos credíveis e transparentes estarão em melhor posição para captar capital a longo prazo, garantindo resiliência económica.

Em suma, Cabo Verde mostra que, mesmo em economias pequenas, a Bolsa pode desempenhar um papel transformador no financiamento sustentável. Mais do que captar recursos, constitui um instrumento estratégico para assegurar crescimento inclusivo, resiliência climática e integração competitiva na economia global.

Sustainable Investment and Financing via Stock Exchange – The Case of Cape Verde

Sustainability has become a decisive factor in investment decisions and access to global financing. The integration of environmental, social, and governance (ESG) criteria shapes the design of financial instruments and strengthens the role of stock exchanges as platforms for resource mobilization. The challenge is clear: to finance projects that reconcile economic growth, social inclusion, and environmental resilience. Cape Verde, as a small island developing state, has taken firm steps on this journey.

Cape Verde has set ambitious goals in the energy sector, committing to integrate 50% renewable sources by 2030. Achieving this objective requires significant investments, with financing potentially facilitated through the Stock Exchange, particularly through issuances of sustainable securities such as green, social, and blue bonds. This strategic focus represents an opportunity to align energy policy, financing strategy, and climate commitments.

It is in this context that the Blu-X Platform (www.blu-x.cv/) emerges, the result of a strategic partnership between the Cape Verde Stock Exchange (BVC) and the United Nations Development Program (UNDP). This pioneering initiative in the region facilitates the listing and trading of sustainable and inclusive instruments, such as blue, green, and social bonds. The ambition is to foster a sustainable and inclusive economy, encouraging companies and investors to consider the social and environmental impacts of their activities.

Initiated in 2021 and launched in November 2022, Blu-X has already delivered concrete results. Since then, 7 sustainable issuances have been completed: 1 blue bond, 2 green bonds, 3 social bonds, and 1 sustainability bond, totaling approximately 40.6 million euros (46.8 million dollars). For a small-scale market, these figures are significant and confirm that financial innovation can unlock resources for sustainable development.

It is important to note that, according to the World Bank’s Country Climate Development Report, Cape Verde will need an annual average of 142 million USD to finance sustainability from 2024 to 2030. However, by 2025, the amount rises to 2.6 billion USD, with the risk that, if nothing is done, there will be a negative impact on GDP of 3.1% by 2050. Thus, beyond the numbers, these issuances demonstrate that sustainable financing/investment is possible, creating an alternative financing ecosystem in Cape Verde.

At the macroeconomic level, sustainable financing via the Stock Exchange assumes heightened relevance. By attracting institutional investors, international funds, and the diaspora, countries can reduce dependence on traditional external debt, strengthen financial autonomy, and diversify funding sources.

International experience demonstrates that sustainable investment is no longer just a trend but a competitive imperative. Markets that create credible and transparent instruments will be better positioned to attract long-term capital, ensuring economic resilience.

In summary, Cape Verde shows that, even in small economies, the Stock Exchange can play a transformative role in sustainable financing. More than just raising resources, it constitutes a strategic instrument to ensure inclusive growth, climate resilience, and competitive integration in the global economy.

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