O primeiro dia abriu espaço para uma ampla agenda de debates envolvendo movimentos sociais e organizações da sociedade civil dos países que integram o bloco. O encontro, concebido para fortalecer a participação popular na formulação de propostas estratégicas, centra-se em temas que vêm ganhando relevância no actual contexto internacional.
Entre as questões principais está a promoção de uma cooperação económica mais equilibrada entre as nações emergentes, com o foco no reforço do multilateralismo como resposta à crescente complexidade das relações internacionais. A construção de uma ordem multipolar vista pelos participantes como alternativa ao predomínio das grandes potências tradicionais.
Outro tema central é o papel do próprio BRICS como plataforma de articulação entre economias emergentes. O tema enfatiza o potencial do bloco para desenvolver mecanismos que reforcem a autonomia financeira dos seus membros, sobretudo no que diz respeito à redução da dependência do dólar americano tanto nas transações internacionais quanto na constituição de reservas cambiais.
Criado em 2014, durante a Cúpula de Kazan, na Rússia, o Conselho Civil dos BRICS nasceu com a missão de estabelecer um espaço permanente de interlocução entre a sociedade civil e os governos que compõem o bloco.
Os organizadores do encontro salientaram que os países que compõem o BRICS figuram, hoje, entre os principais líderes mundiais na produção de grãos, carne, fertilizantes e fibras, concentrando cerca de 70% de toda a produção agrícola global. O bloco também responde por mais da metade da agricultura familiar existente no mundo, responsável por, aproximadamente, 80% do valor da produção global de alimentos.
Dilma Rousseff realça ”permanente de diálogo”
De acordo com os responsáveis, essa centralidade do BRICS na dinâmica alimentar internacional impõe ao grupo uma responsabilidade adicional na formulação de caminhos para sistemas alimentares mais sustentáveis, inclusivos e equitativos. Nesse sentido, afirmam que o Conselho Civil dos BRICS pretende colocar a agenda agrícola, especialmente a valorização da agricultura familiar, a segurança alimentar e a sustentabilidade no centro das discussões estratégicas do bloco.
Segundo a organização, o conselho constitui “uma estrutura para consolidar a participação da sociedade civil organizada nas discussões do bloco” e visa dar voz aos movimentos populares, estudantes, professores e ONGs sobre as questões estratégicas do grupo.
A realização da actual cúpula marca, ainda, um momento simbólico para o bloco. Trata-se do último grande encontro sob a presidência brasileira, que será transferida para a Índia no próximo ano.
Em uma mensagem em vídeo para a abertura, a ex-presidente brasileira e actual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, Dilma Rousseff, afirmou que a primeira edição da cúpula consagra a participação da sociedade civil organizada na construção da cooperação no Sul Global.
”Pela primeira vez, os povos dos países do BRICS têm um canal permanente de diálogo com os governos e órgãos decisórios do grupo”, realçou Rousseff.