O rosto que, em setembro passado, perdeu a corrida eleitoral para Liz Truss é, pouco mais de um mês depois, o novo chefe do partido e representa um vislumbre de esperança num país mergulhado numa crise económica sem precedentes.
Assumindo que o Reino Unido está a passar por “um grande desafio económico”, Sunak prometeu honrar aquele que considera ser “o maior privilégio da sua vida”. Perante os conservadores, o novo rosto do número 10 comprometeu-se a trazer “estabilidade e unidade ao país”, prometendo trabalhar “com integridade”. À antecessora deixou ainda palavras de agradecimento: “Conduziu com dignidade e elevação um tempo de grandes mudanças”, reconheceu.
Aos 42 anos, Rishi Sunak que passa a ser o primeiro-ministro britânico mais novo no cargo desde 1783, já está a fazer História: será o primeiro chefe de Estado asiático do país, já que tem ascendência indiana. Ainda que só tenha sido eleito deputado em 2015, chegando a ministro das Finanças cinco anos depois, na sequência da saída de Sajid Javid, Sunak já fez correr muita tinta na imprensa britânica.
Em 2020, o “amigo” Boris Johnson deu-lhe um presente, que muito rapidamente se viria a demonstrar envenenado. A pandemia de covid-19 chegou em força ao país e o plano financeiro teve de se ajustado à conjuntura menos animadora. Mas com o pacote de 350 mil milhões de libras que desenhou para famílias e empresas, Sunak conseguiu dar a volta e fazer com que a sua popularidade ficasse confortável. Ainda assim, aos olhos de alguns britânicos, foi acusado de “abandonar” os desempregados.
Apesar do desempenho na gestão da pandemia, o conservador demitiu-se em julho, o que motivou uma sequência de renúncias no Executivo de Boris Johnson, culminando com a demissão do primeiro-ministro, meses após inúmeras polémicas relacionadas com o Partygate – episódios em que o novo rosto de Downing Street também esteve envolvido.
Sozinho na corrida ao cargo
Após a avalanche deixada por Liz Truss, começaram a surgir vários nomes para substituir a primeira-ministra e esperava-se que ao longo desta semana os militantes Conservadores tomassem uma decisão. Embora Rishi Sunak fosse o favorito, ainda se aguardava para saber quem seriam os seus adversários. Boris Johnson desistiu anteontem, apesar de alegar que tinha 102 colegas a apoia-lo, deixando o caminho livre para aquele que já foi seu ministro.
Já Penny Mordaunt, que criou expectativas quase até à hora limite para a apresentação de candidaturas, revelou no Twitter que não iria entrar na disputa, entregando de mão beijada o cargo ao colega de partido. Segundo a imprensa britânica, a líder da Câmara dos Comuns só conseguiu obter o apoio de 90 deputados. “Esta decisão histórica mostra a diversidade e o talento do nosso partido”, reagiu à nomeação de Sunak.
A transferência de poder de Liz Truss para Rishi Sunak deverá acontecer esta terça-feira, dia em que a primeira-ministra demissionária deverá comunicar a decisão oficialmente perante o rei Carlos III, no Palácio de Buckingham, seguindo-se a indigitação do novo líder. Na quarta-feira, Sunak responderá às primeiras questões da oposição e do partido na Câmara dos Comuns.
Oposição contesta
Poucas horas após a ascensão de Sunak, o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, defendeu esta segunda-feira a convocação de eleições legislativas.
“O Partido Conservador demonstrou que já não tem mandato para governar. Após 12 anos de fracasso dos tories, o povo britânico merece muito melhor do que esta porta rotativa caótica”, disse Starmer num comunicado.
O líder do principal partido da oposição criticou o Partido Conservador por querer “estalar os dedos e mudar as pessoas no topo sem o consentimento do povo britânico”.