Em um gesto incomum na diplomacia recente entre Brasil e Estados Unidos, o presidente brasileiro reagiu às declarações e medidas do presidente norte-americano que anunciou, nesta quarta-feira (09), por meio de uma carta pública, a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir do dia 01 de Agosto do ano em curso.
A imposição de uma tarifa sobre todas as exportações brasileiras foi uma decisão tomada unilateralmente por Trump. No documento endereçado ao presidente brasileiro, o republicano acusou o Governo Lula de promover “ataques insidiosos” às eleições livres e à liberdade de expressão dos cidadãos americanos, acusações que não foram acompanhadas de qualquer evidência concreta.
“O Brasil é um país soberano, com instituições independentes, que não aceita ser controlado por ninguém”, declarou o chefe de Estado, apontando que eventuais medidas de retaliação estão sendo consideradas à luz da Lei de Reciprocidade Económica, norma que determina que o governo brasileiro poderá adoptar contramedidas em resposta as acções, políticas ou práticas unilaterais de país ou bloco económico que impactem negativamente a competitividade internacional brasileira.
Lula também confrontou directamente Trump quanto à alegação de um suposto desequilíbrio comercial entre os dois países. Segundo o líder brasileiro, as informações divulgadas pelo presidente norte-americano são “falsas” e distorcidas, numa tentativa de alimentar um discurso proteccionista sem base empírica.
Vale destacar que, em 2024, as exportações do Brasil para os Estados Unidos totalizaram mais de US$ 40 mil milhões, um aumento de 9,2% em relação ao ano anterior. No entanto, mesmo com esse crescimento, o saldo comercial foi favorável aos americanos em mais de US$ 250 milhões.
Apesar de uma relação comercial intensa, os dados sobre o comércio internacional revelam um desequilíbrio na balança bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) brasileiro, os Estados Unidos ocupam a segunda posição como o maior parceiro comercial do Brasil, perdendo apenas para a China. No entanto, sob a óptica americana, o Brasil desempenha como apenas o 15º maior parceiro comercial, de acordo com o US Census Bureau, órgão oficial de estatísticas dos EUA.
Ao longo de quase três décadas, os Estados Unidos consistentemente exportam mais ao Brasil do que importam. De acordo com dados do MDIC, no período compreendido entre 1997 e 2025, os Estados Unidos acumularam um superávit comercial próximo dos US$ 50 mil milhões na relação bilateral.