Quem tenha ouvido o príncipe Harry justificar a sua saída do Reino Unido com a necessidade de se afastar — e à sua jovem família — dos holofotes da imprensa, do constante escrutínio e das amarras de uma agenda preenchida com eventos obrigatórios a qualquer membro da família real, poderá achar o seu comportamento nos últimos dias um pouco paradoxal.
Este domingo, Harry vai dar mais uma entrevista que se espera explosiva e que servirá para promover o seu volume de memórias “Spare” (em português “suplente”, “sobra”) de cujas páginas já saíram excertos que se podem catalogar algures entre o inusitado e o chocante. Os trechos da entrevista que já se conhecem mostram Harry a falar da morte da sua mãe, Diana de Gales, em 1997, e como não ter mostrado muita emoção nesse momento o faz sentir culpa até hoje.
“Chorei uma vez, no enterro, e [no livro] entro em detalhes sobre o quão estranho era e como realmente havia alguma culpa que eu sentia, e acho que William também sentia, ao caminhar pelo lado de fora do Palácio de Kensington… Toda a gente pensava e sentia que conhecia a nossa mãe, e as duas pessoas mais próximas dela, as duas pessoas mais queridas por ela, não conseguiram demonstrar nenhuma emoção naquele momento.”
Quem tenha ouvido o príncipe Harry justificar a sua saída do Reino Unido com a necessidade de se afastar — e à sua jovem família — dos holofotes da imprensa, do constante escrutínio e das amarras de uma agenda preenchida com eventos obrigatórios a qualquer membro da família real, poderá achar o seu comportamento nos últimos dias um pouco paradoxal.
Este domingo, Harry vai dar mais uma entrevista que se espera explosiva e que servirá para promover o seu volume de memórias “Spare” (em português “suplente”, “sobra”) de cujas páginas já saíram excertos que se podem catalogar algures entre o inusitado e o chocante. Os trechos da entrevista que já se conhecem mostram Harry a falar da morte da sua mãe, Diana de Gales, em 1997, e como não ter mostrado muita emoção nesse momento o faz sentir culpa até hoje.
“Chorei uma vez, no enterro, e [no livro] entro em detalhes sobre o quão estranho era e como realmente havia alguma culpa que eu sentia, e acho que William também sentia, ao caminhar pelo lado de fora do Palácio de Kensington… Toda a gente pensava e sentia que conhecia a nossa mãe, e as duas pessoas mais próximas dela, as duas pessoas mais queridas por ela, não conseguiram demonstrar nenhuma emoção naquele momento.”
Ingestão de cogumelos mágicos, consequentes alucinações, a sua primeira experiência sexual e traquinices várias na escola de rapazes privilegiados que frequentou, tudo isto e muito mais aparece no livro. Se o público precisava de saber que Harry foi ao casamento do seu irmão mais velho com feridas nos órgãos reprodutores causadas pelo frio, é uma questão que não compete aos jornalistas decidir. Mas se algumas das histórias não passam de relatos de rebeldia adolescente para as páginas cor de rosa da imprensa, outras revelam que há realmente algo podre, não no reino da Dinamarca, mas no reino da monarquia mais antiga da Europa.
Harry conta episódios de violência física com o irmão, William, detalha críticas ferozes de membros da família à sua mulher, Meghan Markle, que tem raízes afro-americanas, e demonstra como a máquina de publicidade da família real elege favoritos e denigre quem não deseja ver entrar no restrito círculo.
A analista real e biógrafa do rei Carlos III, Catherine Mayer, disse ao “The Guardian” que as implicações destas revelações são “absolutamente catastróficas” e que a publicação antecipada da edição espanhola de “Spare”, que não estava prevista, colocou o foco em choques de personalidade que podem ameaçar a monarquia constitucional, quer o público britânico esteja ou não desejoso de mudança. “É possivelmente algo que vai marcar o início do fim da monarquia, e é isso que devemos discutir. É importante, dada a falta de confiança no Estado neste momento e o crescimento da direita. Os membros da família real tornaram-se os alvos da raiva das pessoas sobre o racismo, misoginia e riqueza. No fim de contas, esta é uma instituição que defende a desigualdade, por isso, sim, há coisas de uma enorme importância em jogo”.
A dificuldade em aceitar diferenças de tons de pele entre os seus membros é, hoje em dia, muito difícil de entender, diz ainda Meyer — e o secretismo no qual toda a instituição se enreda, sem permitir qualquer discussão sobre passado colonialista ou sobre outros assuntos como o bullying e o abandono que a princesa Diana, antes de morrer, disse ter sofrido, estão a “dissolver a fé do povo na ideia de um chefe de Estado hereditário”.
No documentário “Harry e Meghan”, lançado na Netflix no início de dezembro, há uma cena em que Meghan imita uma vénia à rainha Isabel II, e compara o ato com algo saído dos tempos medievais.
O nível de exasperação na imprensa britânica é demonstrativo dos exageros que se cometem quando o assunto é a família real e levou a colunista do “Observer” Catherine Bennett a escrever que, mesmo que de forma algo desajustada da realidade, hiperbólica, “ridícula em partes”, o casal Sussex deve ser elogiado por denunciar a “perseguição da imprensa”. “É difícil imaginar, nos anos em que jornalistas influentes perseguiram obsessivamente Meghan, como é que ela sobreviveu à difamação incessante, alguma visivelmente racista, por desrespeitar Piers Morgan [apresentador de televisão] e servir abacates, por se recusar a posar horas após o parto, até — o ataque culminante do “Mail on Sunday” — por querer manter em privado uma carta do seu pai”.