Finanças & Wall Street

Banco Económico continua sobre o “fio da navalha”

07-12-2022 10:10

Nelson Francisco Sul

Director

07-12-2022 10:10

Nelson Francisco Sul

Director

Apesar dos esforços de capitalização para entrada de dinheiro vivo no banco, o mais recente Relatório e Contas (2021) da instituição bancária detida em 70,378% pela petrolífera estatal Sonangol continua a revelar um banco bastante sensível. O BE encontra-se tecnicamente falido

A solução encontrada para salvar o Banco Económico (BE) continua sobre o “fio da navalha”. Além do grande problema relacionado com a idoneidade dos accionistas, que são Pessoas Politicamente Expostas (ainda que escondidas atrás de um Fundo de Capital de Risco), há ainda a questão da estratégia adoptada que basicamente não resolve, pelo menos o suficiente, a entrada de capital no banco: o extinto BESA (Banco Espírito Santo Angola) vai ter de vender património para realizar liquidez. E, quando falamos de venda de património, falamos de imóveis, incluindo a sua sede, numa altura em que o mercado imobiliário se encontra nos “cuidados intensivos”, ou seja, está em queda livre desde 2015.

A análise efectuada pel’O Telegrama, com base no seu mais recente Relatório e Contas, indica que o Banco Económico fechou os exercícios de 2021 e 2020 tecnicamente falido, seja na perspectiva patrimonial como regulamentar. Apresentou rácios de fundos próprios regulamentares negativos de 28 e 22% em 2021 e 2020 respectivamente, muito abaixo de 10%, até então mínimo regulamentar.

Na rubrica “outros activos”, o balanço do BE apresenta 68% (líquido de imparidades). Chamam a atenção dois factos: este item de balanço é composto em 67% por direitos transmitidos pela ENSA (Empresa Nacional de Seguros de Angola) ao BE, sendo um activo com um grau de incertezas muito elevado em torno do valor efectivo ou real. Aliás, no documento que espelha a performance e a situação financeira do BE, a própria comissão executiva não reconhece mais os proveitos esperados pela propriedade deste activo, dada a probabilidade remota de os encaixar. Para reforçar este pessimismo ou prudência está o facto de este activo estar marcado em estágio 3, em que estão os activos de muito fraca qualidade e não produtivos.

Em conversa com O Telegrama, Alberto Vunge, economista e professor de contabilidade e gestão financeira de instituições financeiras, analisa: “o Banco constitui reservas de imparidades para este activo de apenas 63%. Isto quer dizer que, se o Banco abater os activos, ainda leva com uma erosão de 37% do valor bruto deste activo sobre a situação patrimonial. Penso que uma reserva de 100% seria mais prudente”. Um tema que foi igualmente objecto de reserva do Auditor Externo.

Situação patrimonial em risco

No Plano da Recapitalização e Reestruturação (PRR), que se encontra detalhado na nota 37, o economista Alberto Vunge elogia o “melhoramento do capital em 108 mil milhões de Kwanzas, por via dos resultados do período”, motivado pelo “perdão de 75% da dívida pelo Novo Banco”.

O especialista Alberto Vunge destaca o “diferimento de imparidade no montante de 260 mil milhões Kz” e a “conversão de depósitos superiores a 3 mil milhões em capital”.

Não menos importante é a “Emissão de Obrigações Convertíveis no valor de 50 mil milhões com maturidade de 10 anos”, disse.

Quanto à carteira de crédito bruto do banco sediado na rua do 1º Congresso do MPLA, nº 8, que fechou o ano de 2021 sob gestão do antigo ministro da Economia, Pedro Luís da Fonseca — que em Outubro passado deixou o BE para dirigir o Banco de Comércio e Indústria, pertencente ao Grupo Carrinho —, o relatório indica que os números se situam em 216 mil milhões de kwanzas.

“Destes, 33% são créditos vencidos (activo de fraca qualidade) e 87% estão em estágio de risco 3 (destes 87%, 56% estão em atraso por mais de 30 dias), em que são marcados os activos com a pior qualidade de crédito ou de rating, ou seja, são activos não produtivos e que a qualquer momento podem ser abatidos ao balanço”, afirmou Vunge, que explica as consequências imediatas deste abate ao balanço.

“Pode penalizar a situação patrimonial do Banco, se não tiver constituído reservas de perdas por imparidades adequadas”, finalizou.

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