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CEO da Fidelidade: “Há muito seguro de trabalho por contratar”

Nelson Francisco Sul

26 Dezembro, 2025 - 22:05

Nelson Francisco Sul

26 Dezembro, 2025 - 22:05

No início do terceiro trimestre de 2025, a Fidelidade Angola fez alterações no board, nomeando Luís Alves como presidente da Comissão Executiva. Com uma carreira de mais de 35 anos no sector segurador, o principal gestor da terceira maior seguradora do País falou, pela primeira vez, sobre os desafios do mercado, o desempenho da empresa e não deixou de manifestar preocupação com o facto de, apesar da obrigatoriedade legal, haver muitas empresas a furtarem-se em aderir ao seguro de acidentes de trabalho

A produção (prémios) deste ano da Fidelidade cresceu 14% para AOA 53 mil milhões. Entre os ramos que dispõe, qual deles contribuiu para este resultado?

A distribuição de carteira da Fidelidade, não é muito diferente da distribuição no mercado. E, por essa via, o produto que mais contribuiu foi o Saúde, com cerca de AOA 17 biliões. Portanto, dos AOA 53 mil milhões há logo uma componente muito forte de Saúde ou da Doença.

Depois, em segundo lugar, tudo que é patrimoniais teve um peso significativo em redor dos 10%, e o automóvel, em seguida, aliás, no final de 2024, a Fidelidade era o líder no ramo automóvel. É sempre muito disputado, as três maiores companhias têm diferenças muito pequenas no ramo automóvel, mas, portanto, esses são os ramos que mais contribuíram à produção (prémios) e, se somar esses três ramos, verifica que outros ramos são menos expressivos.

É um pouco estranho, aqui, porque, em boa verdade, o ramo automóvel e o ramo acidentes de trabalho deveriam significar muito mais no País, porque são ramos obrigatórios e são ramos importantíssimos. Isto dá-nos logo um insigths preocupante, porque, de facto, há muito seguro por contratar. Se há um caminho a fazer, também há um problema em termos sociais.

A seguradora registou, em 2024, um resultado líquido negativo avaliado em AOA 1.470 milhões. A que se deve este resultado?

Basicamente, duas coisas: nós tivemos dois ou três factos que são não-recorrentes, que foi menor resultado técnico em dois ramos, no caso em Saúde e Acidentes de Trabalho e que, este ano, já está corrigido. Por outro lado, foi feita uma alteração a uma política contabilística, que leva a isso e que tem muito peso. Como sabe, saiu, há já mais de um ano e tal, a Lei da Actividade Seguradora, que menciona como é que deve ser feita a valorização dos activos. No caso vertente, actualizamos a forma de valorização dos activos, nomeadamente as obrigações. Isso induz que, no momento em que altera a política, tem um efeito forte no resultado. Daqui para diante é igual.

O que é que traz esta nova valorização? De facto, reconhece que grande parte do proveito é reconhecida apenas quando a obrigação atinge a sua maturidade, quando chega ao final do período. Isso são os factos que levaram a ter resultados menos positivos, que levaram a uma alteração contabilística, e que é feita uma vez na vida…

A Fidelidade foi a primeira a surgir com o segmento de angariadores ou vendedores de seguro porta-a-porta. Quantos contratos conseguiram com esta estratégia?

Estas senhoras e senhores são mesmo agentes de seguros. Nós estamos a preparar pessoas para crescerem e virem a ser o futuro disto. Não tenho agora um número de cabeça para lhe dizer, mas posso dizer mais de 100 mil contratos. E, aliás, foi esta rede que nos levou, que nos ajudou a levar a liderança do ramo automóvel. Essa capacidade de porta a porta, ir aos sítios onde habitualmente não se vendem seguros…

E qual é a experiência que se pode tirar delas?

É uma experiência positiva. É evidente que tem que ser produto automóvel adaptado à realidade das pessoas e a essas zonas. A rede é também importantíssima na medida em que alarga o mercado. Esta rede tem a capacidade de alargar o perímetro há muito dependente dos brokers e de alguma distribuição bancária.

Qual é a perspectiva do actual board para o actual ano económico?

Há um dado que penso que é muito importante. Nós alargarmos o board, a companhia está a crescer e precisa ter mais gente. Além de alargar, renovamos o board com gente mais nova, numa lógica do futuro. Como é que vai ser o ano económico? O que estamos a fazer é alargar a nossa conta técnica, que resulta, no final, dos prémios que emitimos e cobramos.

Uma coisa que nos afecta é o resultado e, por exemplo, no ano que estamos a correr o que vai nos afectar nos resultados, de certeza, são as perdas cambiais. Ou seja, sempre que o Kwanza desvaloriza, uma companhia de seguros tem uma grande exposição ao estrangeiro. Tem que comprar cobertura de seguros e tem que comprar tecnologia. E tudo isso é importado. E com o Kwanza a desvalorizar, isso tem um grande impacto nas contas, dada a exposição que temos.

Assim sendo, temos que estar mais focado, claramente, no ganho técnico. As vezes é mais importante preservar o resultado do que exactamente garantir crescimento. O crescimento só é virtuoso se garantir resultado.

Do ponto de vista dos accionistas é entrar mais…

Sim, sim. Do ponto de vista de toda gente, dos accionistas e dos colaboradores, portanto, uma empresa tem que gerar resultados. Pode, às vezes, parecer muito simpático o campeonato da quota do mercado, quem está mais a frente quem está mais atrás, mas, no fim do dia, não nos enganemos: o que conta é o resultado. E para isso as companhias têm que ganhar dinheiro no seu negócio e o seu negócio é vender seguros e é o que resulta dessa venda.

No ano passado, a Fidelidade desenvolveu um novo produto de Multirriscos. Que resultado, em termos de produção, tiveram interna e externamente?

O produto só foi libertado no final do ano, agora em (20)25 nós estamos a crescer em patrimoniais – é uma coisa específica em patrimoniais- e é um ramo que nos interessa crescer, que aponta rentabilidade, e é uma grande ferramenta porque, em segundos, quem está na venda, na linha da frente, seja um brokers seja um pequeno mediador podem, independentemente do risco, têm a capacidade para cotar na hora…

E qual é a grande novidade que o board, empossado em Agosto, tem em carteira?

As grandes novidades já passamos por elas, ou melhor, os grandes objectivos dessa casa, em primeiro lugar, claramente aumentar o ganho técnico. É necessário a boa-saúde da companhia. Depois, ter sempre um olhar muito objectivo e muito virado como acrescentamos valor no serviço ao cliente.

Quando falamos em ganho técnico estamos a olhar em capital humano, é isso?

Não! Estamos a falar do nosso negócio: temos que ganhar dinheiro. Temos que ser distintivos e apostar tudo no serviço ao cliente.  Não é possível estar no mercado pelo preço. Há sempre alguém que faça mais barato. E, portanto, o que nos distingue tem que ser o serviço ao cliente e o rigor, e não o preço.

A produção do mercado cresceu 26% para AOA 478 mil milhões, mas, ainda assim, o mercado continua a ter um crescimento negativo uma vez que o ano fechou com inflação em 27%. Que avaliação faz destes números?

É preocupante. E é preocupante porque não foi um ano, se for a fazer uma retrospectiva, vai ver que isso vai acontecendo, ou seja, o crescimento do mercado é abaixo da inflação. O que não é nada um bom sintoma. É evidente que Angola não viva o seu melhor momento, em termos económico, e o sector segurador não viva à parte desse momento. Esperamos que a situação em Angola mude, e mude para melhor, em termos económicos.

Enquanto a realidade económica de Angola não melhorar, será difícil que o mercado segurador cresça acima da inflação. Sem querer ser profeta da desgraça, estamos apenas a olhar com racionalidade para os números.

Os ramos com maior crescimento foram Acidentes e Doença (39,5%), Petroquímica (35%) e Automóvel (14%), como foi dito anteriormente. Há necessidade de apostar mais noutros ramos?

Há! Repare, mencionou que o País teve 27,05% de inflação, mas não mencionou o ramo acidentes de trabalho, que é um ramo obrigatório. E, por exemplo, a generalidade das empresas aumentou salário, teve que aumentar, tendo em conta a inflação. Então como é que o ramo acidentes de trabalho não aumentou? A única explicação é que, provavelmente, há menos empresas com seguro. Porque a massa salarial aumenta, no ramo acidentes de trabalho o prémio é calculado em função da massa salarial, que não é mais do que o somatório dos salários de todos nós – se tivermos na mesma empresa. Uma inflação de 27,5 estamos de acordo que os salários tiveram que aumentar, naturalmente.

(Continua parte dois…)

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