Especial

Marcolino Moco. Ex-primeiro-ministro

24-10-2022 11:25

Nelson Francisco Sul

Director

24-10-2022 11:25

Nelson Francisco Sul

Director

Foi primeiro-ministro entre 1992 e 1996, tendo sido substituído por França Dias Van-dúnem, após divergências de competências institucionais com o agora defunto Presidente José Eduardo dos Santos, quanto à condução da política do país

Enquanto o chefe de Estado e comandante-em-chefe das Forças Armadas, tinha traçado três cenários para o fim da guerra civil: “rendição, captura ou morte de Jonas Savimbi”. Porém, o chefe do Governo defendia a urgência do diálogo para se pôr termo à guerra civil e, por via do qual, se alcançar a paz.

Acontece, porém, que Eduardo dos Santos estava decidido em implementar o seu plano desenhado em finais do período da guerra fria, a julgar pela conversa que tinha mantido no Kremlin, em 28 de Outubro de 1988, com Mikhail Borbatchov, então secretário-geral do Partido Comunista da URSS, onde manifestou a sua intenção de apostar na extinção da UNITA.

O relato deste encontro está contido em um documento de Arquivo da Fundação Borbatchov e foi traduzido ao público pelo veterano jornalista português José Milhazes, que viveu mais de 40 anos em Moscovo.

Voltando ao ano de 1996. O afastamento de Moco deu azo a uma passeata nas principais artérias de Luanda, promovida por militantes do MPLA, que não escondiam o seu carácter tribalista, já que se diziam fartos de verem um bailundo (Ovimbundu) à frente do Governo, ou seja, alguém nascido na região Sul.

A pretensa manifestação foi travada por Agostinho Mendes de Carvalho, histórico dirigente do MPLA. De seguida, José Eduardo dos Santos despachou Marcolino José Carlos Moco para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), tornando-se no seu primeiro secretário executivo, entre 1996 e 2000.

Devido às suas posições públicas, num período em que se discutia o modelo constitucional a ser adotado, em finais de 2009 foi intimado por “Dino Matrosse”, então secretário-geral do MPLA, tendo aquele incumbido a Faustino Muteka (antigo governador do Huambo) a tarefa de intermediário para o encontro de acareação.

Moco foi ao encontro de Matrosse, na sede do partido. Após ter saído do referido encontro, escreveu uma extensa carta de 7 pontos, em que, no essencial, disse: “fica claro que como docente, conferencista e cidadão, mas absolutamente ninguém, me obrigará a distorcer as minhas convicções científicas a favor de ideais de um partido qualquer, por mais maioritário que seja e por mais da minha cor que seja… Eu me recuso a tremer perante qualquer tipo de novos medos”.

Em 2015, viu o seu nome em um edital publicado no Jornal de Angola que o notificava para comparecer no Tribunal Provincial de Luanda para ser ouvido como declarante no julgamento dos 17 ativistas acusados de actos preparatórios de rebelião e tentativa de golpe de Estado.

Numa declaração pública, Marcolino Moco chegou a afirmar que não tinha disponibilidade para participar na “carnavalização da justiça”, lamentando que Angola tenha saído de “um regime de partido único passando ao regime de homem único”, numa referência clara ao então Presidente Dos Santos.

Entre a nata dirigente do MPLA, ao lado de Marcolino Moco apenas figuras como Ambrósio Lukoki, o temível secretário para informação e propaganda do MPLA (1976-1982), tiveram coragem de enfrentar José Eduardo dos Santos e criticar-lhe, abertamente sobre o rumo que o país estava seguir, no que dizia respeito à degradação social, enriquecimento desenfreado da elite política e asfixia da democracia.

Embora esteja desligado da política ativa há mais de duas décadas, o antigo primeiro-ministro continua sendo uma voz activa e autorizada na arena nacional.

Nem mesmo quando foi repiscado pelo Presidente Lourenço para a integrar a Sonangol, a empresa-mãe do Estado, também conhecida como a galinha dos ovos de ouro, Moco prescindiu da sua liberdade de opinião e apontar falhas à governação.

Em várias ocasiões, chamou a atenção de que João Lourenço já não se parecia com o reformador Presidente da República, aquele que era estimado pela população no início do primeiro mandato. Posições que lhe custaram o afastamento do cargo de Secretário Não-Executivo da petrolífera estatal.

Definindo-se como militante livre do MPLA, o seu gigantesco capital político foi novamente observado nas últimas eleições gerais, quando, contra todas as projeções, declarou o seu apoio à candidatura de Adalberto Costa Júnior à presidência de Angola. Fora do palco político tem se dedicado à advocacia, escrita de livros científicos e literários e à sua nova editora MC.

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