Durante a conferência promovida pelo O Telegrama, o presidente do Fundo Soberano conduziu os participantes a uma viagem ao passado, relembrando a história da primeira emissão de Eurobonds por Angola, apresentando, assim, o contexto económico da altura bem como os principais motivos que levaram o país a ingressar nos mercados internacionais de capitais. Antes de Angola, apenas quatro países africanos haviam trilhado o caminho dos eurobonds.
Em 2014, Angola enfrentava um cenário económico desafiante, marcado por uma queda de 70% na receita bruta petrolífera. A forte redução das receitas do principal produto de exportação obrigou o País a desencadear um conjunto de reformas macrofiscais destinadas a garantir o equilíbrio orçamental, conferir maior qualidade à despesa pública e assegurar a sustentabilidade da dívida pública.
Segundo Armando Manuel, o então ministro das Finanças, este período foi, igualmente, marcado pelo alargamento das relações financeiras com diversos parceiros internacionais. No entanto, as fontes bilaterais de financiamento, embora importantes, tendiam a potenciar as exportações das outras nações, limitando a retenção de recursos dentro da economia angolana em virtude dos acordos estabelecidos.
Num contexto em que o investimento público já havia desempenhado o papel de principal alavanca do crescimento, tornava-se essencial estimular o investimento privado como novo motor da economia. “Para isso, o país precisava aceder a fontes de financiamento que sustentassem simultaneamente o lado fiscal, o sector real e o equilíbrio monetário”, afirmou a entidade que foi responsável pela emissão pioneira das euro-obrigações soberanas.
Acto contínuo, Armando Manuel sublinhou que foi neste cenário que, em Novembro de 2015, Angola decidiu estrear-se corajosamente no mercado internacional de capitais, através da emissão das suas primeiras Eurobonds.
“A decisão foi tomada num contexto global desfavorável, com os preços das commodities em baixa, mas representou um passo estratégico para injectar recursos na economia doméstica, financiar actividades produtivas e reforçar a autonomia financeira nacional”.
Depois de mostrar uma vertente mais histórica da primeira emissão de Eurobonds, o actual presidente do Conselho de Administração do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) passou em revista a evolução mais recente sobre rendimentos e percepção de risco, entre os anos 2022 a 2025, anotando a “correlação positiva entre o preço do petróleo e o valor das obrigações angolanas com vencimento em 2025”.
O preço do barril variou entre um mínimo de 72,45 USD (Dezembro de 2022) e um máximo de 94,50 USD (Setembro de 2023). A valorização do petróleo contribuiu para a redução dos rendimentos soberanos e para a melhoria da percepção de risco de Angola nos mercados internacionais.
O cenário global: taxas e volatilidade
Nesta viagem histórica, os números trazidos ao público ajudaram a ilustrar como o cenário económico global teve impacto nas emissões de eurobonds. A política monetária restritiva adoptada pelos principais bancos centrais das economias avançadas resultou num aumento das taxas de juro de curto e longo prazos, elevando, assim, os custos de financiamento das obrigações soberanas.
Acresce que os eventos económicos e financeiros globais em 2023 geraram variações significativas nos rendimentos das Eurobonds, reflectindo alterações nas expectativas sobre o desempenho da economia angolana e sobre a sua notação de risco soberano.
Antes de Angola, poucos países africanos haviam trilhado o caminho dos Eurobonds: a África do Sul em 1995, Gana em 2007, a Nigéria em 2011 e o Quénia em 2014. A decisão de Angola em 2015 posicionou o país como pioneiro na África Austral lusófona, abrindo uma nova fronteira financeira, assinalou o presidente do Fundo Soberano.
Na análise comparativa com o contexto africano, as curvas de rendimentos das Eurobonds revelam diferenças marcantes: a curva do Gana manteve-se em níveis mais elevados, reflectindo a persistente percepção de risco associada à economia ganesa.
No caso angolano, suas yields estiveram ligeiramente superiores às da Nigéria ao longo do último trimestre, resultado da avaliação dos investidores sobre o desempenho e as perspectivas da economia nacional. A África do Sul manteve, como habitual, um perfil de risco mais baixo entre as principais economias africanas.