O Comitê de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola (BNA) reúne-se, nesta sexta-feira (17), pelas 15horas, para definir a nova taxa básica de juro para a economia que, actualmente, está em 19%.
O BNA aumentou o coeficiente de reservas obrigatórias e subiu as taxas de juros nas duas primeiras últimas reuniões do ano. Contudo, o quadro macroeconómico transmite sinais de grande desafio por parte do BNA em gerir o efeito da política fiscal, que tem feito crescer os agregados monetários muito acima da inflação, dificultando a tarefa do Banco Central de combate à inflação.
Na última reunião, que decorreu na primeira quinzena de Março, o órgão regulador do sistema bancário angolano decidiu aumentar a taxa de juro para 19%. O mesmo ocorreu com a taxa de juro de facilidade permanente de cedência de liquidez para 19,5% e a taxa permanente de absorção de liquidez de 18,5%.
O BNA aumentou, também, o coeficiente das reservas, em moeda nacional, em 20%. Decisões estas que foram motivadas pela persistência das pressões inflacionistas na economia e visam contribuir para o controlo da liquidez em circulação.
Na próxima sexta-feira, a decisão do BNA em manter e/ou alterar a política monetária para os próximos dias, basear-se-á nos últimos acontecimentos dos meses de Março e Abril, em que se assistiu à remoção completa do plafond dos cartões de subsídios à gasolina, a venda de divisas no mercado, a inflação e as flutuações do mercado cambial.
Em Março, a inflação homóloga nacional foi de 26,1%, um aumento de 1,6 pontos percentuais (pp) face a Fevereiro, dando continuidade à tendência de crescimento e atingindo máximos de Abril de 2022.
O relatório de Conjuntura do Banco de Fomento Angola (BFA) referente ao 2.º trimestre de 2024 diz que, neste período, a taxa de câmbio continua a flutuar perto dos 800 por dólar e o gap entre o formal e o paralelo reduziu para 23%, em Abril.
Nessa altura, as perspectivas de médio prazo são mais positivas: por sua vez, o Brent está a subir, fixando-se confortavelmente bem acima dos 80 dólares, face aos 65 dólares fixados no OGE2024.
A visão dos especialistas
Na visão do economista-chefe do Gabinete de Estudos Económicos do BFA, José Cerdeira, o BNA irá manter os instrumentos de política monetária inalterados, tendo em vista a ligeira desaceleração da inflação mensal. “O CPM deverá ver se esse é um sinal persistente ou não; sendo uma nova tendência, termina a necessidade de apertar mais a liquidez”, disse José Cerdeira, num comentário solicitado pelo O Telegrama.
O economista antevê uma decisão da cúpula dirigente do Banco Central mais restritiva à política monetária.
“A inflação é um fenómeno muito persistente em Angola, e, portanto, aconselharia mais pecar por prudência do que abrandar já o passo; por exemplo, é possível que esteja ainda por vir algum impacto na inflação da subida nos combustíveis, combinada com a subida anunciada do preço da corrida de táxi”, avançou Cerdeira.
Face aos níveis actuais dos indicadores macroeconómicos, o economista Correia Victor é também de opinião que o Banco Central “adoptará uma política monetária ainda mais restritiva tentando alinhar cada vez mais o M2 aos parâmetros da banca e os níveis da inflação, elevando a taxa de juros acima dos 19,5%”.
Para o economista Alberto Vunge, o mínimo que se espera é a manutenção da taxa básica de juro da economia, na medida em que persistem os fundamentos que sustentaram o seu aumento na reunião de Março.
“A inflação, a data de hoje, cifra-se em 28,20%, muito acima da meta da inflação prevista para este ano. A retirada dos subsídios aos combustíveis há de ser um factor importante na dinâmica da inflação este ano. A injecção de 200 milhões de USD no mercado cambial não foi suficiente para fazer recuar a taxa de câmbio, demonstrando que, apesar da taxa de câmbio andar “parada” há muitos meses, isto não reflecte uma situação de relativo equilíbrio entre a procura e a oferta. O fosso entre este e aquele é grande, isto contribui para a dinâmica da inflação”, salientou.