Finanças & Wall Street

Dias sombrios em Luanda

Nelson Francisco Sul

30 Julho, 2025 - 09:47

Nelson Francisco Sul

30 Julho, 2025 - 09:47

Agências de notação de risco costumam a considerar factores como estabilidade social, capacidade de resposta institucional e confiança no Estado de Direito nos seus critérios de avaliação. Nesse sentido, episódios como os registados nos últimos dias podem influenciar revisões futuras de outlook económico ou mesmo gerar impactos indirectos sobre o sovereign borrowing cost e o corporate cost of capital

‎‎Os recentes episódios de convulsão social registados em Luanda, a capital angolana, com destaque para manifestações, actos de saque e interrupções pontuais da actividade económica, sobretudo do sector financeiro, levantam preocupações entre investidores que acompanham o ambiente de negócios no País.

‎Embora os eventos tenham carácter localizado e duração limitada (previstos entre os dias 28 a 30 de Julho), os seus reflexos imediatos sobre a percepção de estabilidade e previsibilidade económica são inevitáveis, sobretudo para quem avalia o mercado angolano como destino de capital.

‎De acordo com analistas consultados pelo O Telegrama, situações de agitação civil tendem a ser monitoradas de perto por investidores institucionais, fundos nacionais e internacionais de investimentos e agências de rating, que actualizam periodicamente os seus modelos de risco-país.

‎Mesmo quando não há impacto macroeconómico directo, o simples aumento da percepção de incerteza já é suficiente para travar processos decisórios e reavaliar alocação de capital.

‎A previsibilidade do ambiente é, para o investidor, um activo intangível, mas central. Convulsões sociais, ainda que esporádicas, como a que se assistem neste momento em Luanda e em províncias como Icolo e Bengo, Huambo e Huíla, afectam esse equilíbrio, com realce para sectores que exigem visão de médio e longo prazos, como infra-estruturas, retalho, logística e banca.

‎Esses episódios podem influenciar revisões futuras de outlook económico ou mesmo gerar impactos indirectos sobre o custo de crédito soberano (sovereign borrowing cost) e o custo corporativo de capital (corporate cost of capital) nos critérios de avaliação das agências de rating.

‎Num contexto de competição por capital, onde vários mercados emergentes procuram atrair os mesmos investidores, a percepção de risco torna-se um diferencial. E, como referem vários especialistas em avaliação de risco-país, “a ausência de estabilidade social regular e duradoura tende a ser penalizada, mesmo quando os fundamentos macroeconómicos permanecem saudáveis”.

‎Empresas estrangeiras que estudam entrada em Angola, bem como fundos de private equity e gestores de activos regionais, seguem atentos ao desenrolar dos acontecimentos, à espera de sinais claros de contenção e retorno à normalidade. Para esses actores, mais do que os números da economia, importa a confiança no ambiente onde o investimento será aplicado.

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Nelson Francisco Sul

Director

Nasceu em Benguela, cursou Direito, mas apaixonou-se pelo Jornalismo. Desde então, esteve sempre inclinado em jornalismo político e investigativo. Foi correspondente na Deutsche Welle, emissora internacional da Alemanha, e no Expresso, o principal jornal de informação generalista de Portugal. Em Angola, conta com passagens em diversos órgãos, destacando o extinto Semanário Angolense e o jornal económico Expansão. Até fundar o O Telegrama, Nelson prestou consultoria em duas agências britânicas de classificação de risco de crédito e de risco reputacional de negócios.

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