Finanças & Wall Street

“Não basta mudar a lei, precisamos de mudar práticas”, afirma secretária de Estado do Orçamento

José Praia

6 Julho, 2025 - 12:38

José Praia

6 Julho, 2025 - 12:38

O crédito malparado, sobretudo no sector financeiro, dominou as discussões dos especialistas angolanos, brasileiros e portugueses, reunidos na última quinta-feira (3), em Luanda, para discutir a “recuperação de empresas e insolvência”, promovido pela Recredit com apoio do O Telegrama como media partner

Na primeira conferência internacional dedicada à “recuperação de empresas e insolvência”, promovida pela Recredit Gestão de Activos, os especialistas apontaram as debilidades da lei angolana, aliada à má gestão e à morosidade da justiça, como factores que contribuem significativamente para o elevado crédito malparado e consequente insolvência das empresas angolanas.

A Secretária de Estado do Orçamento, a quem coube o discurso de abertura, disse, entretanto, que o quadro regulatório no País “ainda é recente”, mas lembra que “não basta mudar a lei. “É preciso mudar práticas, reforçar estruturas, formar quadros e, sobretudo, construir uma cultura jurídica e económica que reconheçam o valor da reestruturação como alternativa viável à dissolução”, disse Juciene Cristiano de Sousa.

A governante fazia assim ênfase ao Regime Jurídico de Recuperação de Empresas e Insolvência (REJUREI), instrumento jurídico cujo objectivo foi o de preencher “uma lacuna histórica”, criando “um instrumento estratégico ao serviço da estabilidade do crédito, da protecção do emprego e da revitalização do nosso tecido empresarial”.

Novos financiamentos “condicionados”

A Recredit, entidade estatal criada com o objectivo de recuperar os créditos malparados e, acessoriamente, a gestão e revitalização de activos com vista à sua alienação, de participações financeiras e de patrimónios, realça que o volume de crédito malparado continua a representar um grande desafio para o sistema financeiro angolano.

De acordo com o seu PCA, Valter Barros, o quadro actual tem impactos directos na liquidez de concessão de novos financiamentos e, sobretudo, na estabilidade económica do País.

“A actuação de entidades espacializadas na recuperação de activos revela-se não só necessária, mas estratégica e urgente”, afirmou Barros.

O que disseram os especialistas

As experiências de Portugal e Brasil em processos de insolvência ocuparam o primeiro painel do evento, juntando especialistas do Direito, como advogados e juízes. Bruno Pereira, administrador judicial, sublinha que a insolvência da empresa só é recuperável quando os processos são ágeis.

O segundo painel concentrou-se na análise dos aspectos críticos do actual quadro de insolvência em Angola, com enfoque nos entraves práticos e institucionais à recuperação de empresas. O administrador executivo do Banco Angolano de Investimentos (BAI), Juvelino Domingos, posicionou a sua abordagem para a recuperação do crédito na banca nacional, afirmando que as recuperações “aumentam as exposições não produtivas”.

“Muitas das vezes, ao elaborarem o plano de recredit, os bancos reduzem a taxas de juros e até mesmo cedem perdão da dívida aos clientes devedores”, disse o membro da comissão executiva do BAI.

Para Sandra Jardim do Nascimento Balça, administradora executiva do Banco de Poupança e Crédito (BPC), analisando o contexto angolano, tendo em atenção a morosidade dos processos judiciais, um dos factores susceptíveis de gerar insolvência prendesse com “as imparidades”, em razão de ser “a maior perda de dinheiro em activos não recuperáveis”.

E para contornar a burocracia judicial, Balça entende ser “hora de o sector bancário nacional criar administradores judiciários”.

O brasileiro André Ferreira Rocha, funding partner da Triunfae, consultora brasileira especializada em gestão de reestruturação de empresas, é de opinião que “um crédito malparado é uma consequência duma má gestão”.

Especialista em reestruturação societária e com mais de 20 anos de experiência, incluindo em operações de fusão e aquisição, apontou, por outro lado, as debilidades da lei angolana em razão de muitos bens não estarem registados, além da falta de solidez nos processos de garantias e ausência de fundamentos sólidos.

Interpretando os números em direito, o advogado Carlos Maria Feijó, antigo Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil da Presidência de Angola, revelou que, em 2024, o sistema financeiro angolano registou um crédito malparado na ordem de AOA 2 biliões, e que resultaram em processos judiciais irreversíveis nos tribunais.

Feijó disse, ainda, que “as insolvências surgem em maior parte por desconsideração da personalidade jurídica, em que o sócio tem dificuldade de separar os bens pessoais com os da empresa”.

Partilhar nas Redes Sociais

José Praia Pedro

EDITOR DE EMPRESAS & MERCADOS

No início do verão de 2024 juntei-me à equipa de jornalistas da revista O Telegrama, dividido entre a Editoria de Economia & Oil e a Editoria de Empresas & Mercados. Professor de matemática, fiz licenciatura em Economia na Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto (UAN). Tenho a responsabilidade de manter debaixo de olho tudo o que se passa no panorama dos negócios empresariais e, sobretudo, nos mercados financeiros domésticos e internacionais, desde a ‘Bolsa de Luanda’ (BODIVA), de New York Stock Exchange (NYSE) e NASDAQ, passando pela chinesa Shanghai Stock Exchange Euronext; Hong Kong, Saudi Exchange até a Bolsa de Valores de Londres ou, se preferirem, London Stock Exchange.

Leia também

error: Content is protected !!

Leia o principal veículo de informação financeira de Angola

CONTEÚDO PREMIUM DESDE

AOA 1.999/Mês