Manuel António Tiago Dias é governador do Banco Nacional de Angola (BNA) desde o passado dia 19 de Junho, em substituição de José de Lima Massano. O gestor pode não ser conhecido do público e no círculo restrito da elite financeira, mas é muito conhecido no banco, onde começou a sua carreira na década de 1990, como economista do Departamento de Estudos e Estatística.
Tiago Dias ingressa nos quadros do Banco Central pouco depois de sair da faculdade, após ter concluído a pesquisa de mestrado intitulada “A Estratificação do Mercado de Trabalho Urbano: o caso de Luanda”, uma investigação que desenvolveu ao longo de três anos (1993-1996) pela universidade francesa de Bordéus I.
E foi ainda em França, na secular Universidade de Lille I, fundada em 1559, que o actual chefe do governo da entidade que supervisiona o sistema financeiro do País se formou em Ciências Económicas.
Conhecedor dos Sistemas Produtivos e Comércio Internacional, quem o conhece diz tratar-se de “um homem competente, de trato fácil e que conhece toda a gente, tratando cada funcionário e os colegas pelo nome”.
Na vigência de Walter Filipe, Tiago Dias foi o vice-governador que se opôs ao negócio dos 500 milhões de dólares, produzindo um parecer em que suscitava dúvidas sobre a capacidade da Mais Financial Services, S.A. para prestar os serviços a que se propunha, a favor de um consórcio que visava a constituição de um Fundo de Investimento Estratégico, que mais tarde veio a saber-se ser fictício.
A completar 57 anos no próximo mês de Fevereiro, o responsável pela condução da política monetária do País já passou por vários cargos no edifício cor-de-rosa localizado na esquina da Avenida 4 de Fevereiro, nomeadamente chefe de divisão, subdirector e director do Departamento de Estudos e Estatística.
Foi pelo punho do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, a 11 de Maio de 2016, que ascendeu, pela primeira vez, ao cargo de vice-governador do BNA. Entretanto, apesar dos cerca de 30 anos de casa, analistas económicos denotam uma certa “letargia” na sua reafirmação interna e junto das instituições financeiras nacionais e internacionais.
A condução da política monetária, enquanto principal instrumento do Governo no mercado financeiro, directa ou indirectamente acarreta consequências adversas na tomada de posição do supervisor. É neste item que Manuel António Tiago Dias está exposto a choques institucionais e políticos, pelo que terá de trabalhar muito para convencer os mercados e os investidores relativamente à independência do BNA do poder político, mas, também, exercer o seu poder junto do sector bancário e no mais importante edifício da Avenida 4 de Fevereiro.
Leia o artigo na íntegra na edição n.º 2 da revista O Telegrama, de 1 de Novembro de 2023, em papel.