Quando, em 2015, o País se estreou no mercado financeiro internacional, Walter Pacheco, que, nesta altura, integrava os quadros da Unidade de Gestão da Dívida Pública (UDG), publicou um artigo de opinião onde levantava três questões fundamentais relativamente às implicações das euro-obrigações soberanas.
Passados 10 anos, as interrogações deste gestor de topo, agora no sector privado, permanecem actuais. Ao revisitar a temática das implicações estratégicas dos eurobonds para Angola, o PCA da Kassai Capital afirma ser essencial compreender o verdadeiro impacto da inserção do País no mercado internacional de capitais, não apenas em termos financeiros mas também nas dimensões institucionais, reputacionais e de governação económica que os Eurobonds inevitavelmente acarrectam.
Durante a sua explanação na conferência sobre os 10 anos de Angola no mercado financeiro internacional, Pacheco explica que a primeira implicação estratégica foi que os eurobonds serviram como uma espécie de barómetro das políticas económicas de Angola, ou seja, sempre que o mercado tivesse a expectativa que as políticas económicas estivessem incorrectas, o mercado reagiria negativamente. E, olhando para o “barómetro de políticas”, os rendimentos mostraram pouca correlação com o desempenho do crescimento, com os preços do petróleo, e não a política económica, a impulsionarem o sentimento dos investidores.
“A década das eurobonds angolanas alcançou a diversificação da dívida, mas falhou como barómetro político e catalisador do sector privado”, explicou o antigo director-geral da UGD e ex-presidente da Comissão Executiva da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), acrescentando que “o país perdeu uma boa oportunidade para diversificar as fontes de financiamento e reduzir a dependência do mercado de crédito interno”.
Quer isto que, sem reformas estruturais e maior envolvimento do sector privado, a promessa de euro-obrigações como catalisador da transformação económica permanece apenas parcialmente cumprida.
Pacheco aponta ainda como “lacuna do sector privado” o facto de, apesar dos 17 mil milhões de dólares em eurobonds de empresas africanas durante este período, “zero empresas angolanas emitiram dívida internacional”.
Em termos de eficácia, no entender de Walter Pacheco, as emissões de eurobonds não cumpriram as implicações estratégicas da política de Angola, pelo facto de os investidores internacionais não olharem em grande medida para o desempenho das variáveis macroeconómicas, mas sim para a tendência do mercado petrolífero, uma vez que o país tem forte dependência nesta commoditie. “Não se conseguiu verificar claramente que o preço dos eurobonds reflectem o risco do país”, frisou o número da Kassai Capital.
Em 2015, em termos de transformação da dívida soberana, 86% da dívida externa era dominada por linhas de bilaterais, empréstimos comerciais e créditos de fornecedores, com a China a desempenhar um papel dominante. Em 2025, 84% da estrutura da dívida externa é composto por empréstimos comerciais, euro-obrigações e financiamento multilateral. Isso significa que, neste quesito, “as eurobonds tornaram-se centrais na estratégia de Angola de diversificação das fontes de financiamento externo, alterando drasticamente a composição da dívida”.
Entretanto, ao fazermos um balanço geral, apenas um dos três objectivos estratégicos foi plenamente atingido. Walter Pacheco diz que as eurobonds “nunca se tornaram um verdadeiro barómetro da eficácia da política económica”, e não houve “reformas estruturais e um envolvimento significativo do sector privado”.