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Kigali e Kinshasa. João Lourenço no centro da região conturbada

12-11-2022 1:50

Nelson Francisco Sul

Director

12-11-2022 1:50

Nelson Francisco Sul

Director

As posições antagónicas e de crispação entre os dois países separados numa linha de 579 km obrigaram o mediador angolano a deslocar-se ao “teatro das operações”, numa altura em que diversos países africanos enviaram contingente militar na RDCongo, com vista a combater o grupo rebelde refugiado em território ruandês

A possibilidade de um confronto militar entre Kinshasa e Kigali está cada vez mais próximo. O Quénia anunciou no passado dia 2 o envio de militares para o leste da República Democrática do Congo, numa operação regional para combater o Movimento 23 de Março (M23), justificando que “o destino da RDC está entrelaçado com o nosso”.

Nos últimos dias, segundo os media congoleses, o governo de Félix Tchissekedi lançou um apelo aos congoleses para se alistarem no exército para combater a “agressão” do grupo rebelde. Acontecimentos que preocupam o presidente da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), o angolano João Lourenço, que manteve ontem (11.11) um encontro com o general Paul Kagame, Presidente do Ruanda.

Depois de cumprir um dia de trabalho em Kigali, o Presidente angolano desloca-se neste sábado (12.11) ao Congo Democrático, onde vai conferenciar com o seu homólogo Félix Tshissekedi.

Nas últimas duas semanas, após uma ofensiva militar do M23 ter conquistado duas cidades no eixo estratégico que serve Goma, capital da província do Kivu do Norte, Kinshasa expulsou do país o embaixador do Ruanda, numa medida de retaliação sob alegação de que o regime do general Paul Kagame é o principal patrocinador do grupo rebelde. Para acalmar a tensão político-diplomática e militar, Luanda chegou a despachar o ministro das Relações Exteriores, Téte António, e o chefe do Serviço de Inteligência Externa (SIE), José Luís Caetano Higino de Sousa “Zé Grande”, para junto dos interlocutores da RDC e Ruanda conter a possibilidade do confronto militar.

Desde o princípio do ano, apesar de o Presidente João Lourenço empenhar-se na mediação e na busca de acordo entre os dois países, tendo mesmo juntado em Luanda os dois Presidentes, em Julho deste ano, no terreno os acontecimentos têm vindo a contrariar os esforços diplomáticos. Depois de Tshissekedi e Kagame se terem comprometido tudo fazer para a normalização das relações, o Presidente da RDC acusou, durante a 77.ª Assembleia Geral das Nações Unidas (20.09), o vizinho Ruanda de ignorar “a mão estendida do povo congolês para a paz”, preferindo o caminho “da agressão e do apoio a grupos terroristas que estão a devastar o leste da RDC”.

Este cenário veio a repetir-se no princípio desta semana, quando um avião de guerra congolês violou o espaço aéreo do Ruanda, dois dias depois dos ministros dos Negócios Estrangeiros da RDCongo e do Ruanda, Christophe Lutundula e Vicent Birunda, respectivamente, terem assinado em Luanda, mais um dos vários acordos para a paz na região leste congolesa. O incidente foi sanado com um pedido de desculpas imediato das autoridades congolesas.

Durante as últimas semanas, o presidente Lourenço conversou, ao telefone, com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e com Évariste Ndayishimiye, do Burundi, e, num espaço de seis dias, telefonou, em duas ocasiões, para Félix Tschissekedi. Não há registo oficial de que tenha conversado com o general Kagame.

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