Num mundo cada vez mais digital e sensível à informação, o papel da tesouraria e dos ATMs pode transformar-se profundamente. Mais do que tecnologia, está em jogo a confiança sistémica.
Num futuro não tão distante, a imagem que hoje temos da tesouraria bancária e dos ATMs pode tornar-se obsoleta. O avanço tecnológico e as novas exigências sociais e económicas obrigarão os bancos a reinventarem o seu papel. E, nesse cenário, a tesouraria poderá deixar de ser apenas uma área de controlo de liquidez para se assumir como verdadeiro “cérebro financeiro” das instituições bancárias.
Com o apoio de tecnologias preditivas, sistemas inteligentes e análise de dados em tempo real, a gestão de tesouraria poderá tornar-se cada vez mais estratégica. Em vez de reagir a acontecimentos, passará a antecipá-los, ajustando a posição financeira das instituições com base em riscos sociais, económicos e até comportamentais.
Paralelamente, os “ATMs” – outrora símbolos de autonomia bancária – caminham para uma nova fase. Longe de desaparecerem, deverão transformar-se em estações multisserviços, capazes de fornecer mais do que apenas dinheiro: poderão garantir acesso a serviços digitais, autenticação biométrica, microcréditos e até apoio em zonas com fraco acesso à internet. Serão pontes entre o cidadão e o ecossistema digital.
Outro ponto que merece atenção é a mudança no perfil do profissional de tesouraria. O tesoureiro de 2050 precisará dominar mais do que finanças. Será também estratega, leitor de contextos sociais, intérprete de dados e, acima de tudo, guardião da confiança do sistema financeiro. Não bastará saber onde está o dinheiro, será necessário compreender o comportamento humano que o movimenta.
Contudo, esse futuro não virá sem desafios. O uso intensivo de algoritmos e inteligência artificial nas decisões financeiras poderá trazer riscos sérios, como a desumanização dos processos ou até a manipulação por agentes maliciosos. Além disso, a dependência crescente da tecnologia pode abrir espaço para formas de controlo invisíveis – um colonialismo digital silencioso, promovido por quem detém os dados.
Diante disso, a reflexão é inevitável: estamos a preparar os nossos quadros para este novo cenário? Estamos a formar tesoureiros e gestores financeiros capazes de lidar com ética, inovação e responsabilidade social num contexto altamente tecnológico?
Este não é apenas um debate sobre o futuro dos bancos. É também sobre o futuro das pessoas, da confiança institucional e da nossa relação com o dinheiro, num mundo cada vez mais digital. Quem começar hoje a pensar com visão estratégica sobre a tesouraria e a supervisão dos ATMs poderá tornar-se um dos pilares invisíveis da estabilidade financeira de amanhã.