Desde 2015, Angola tem recorrido, com frequência, ao mercado internacional de capitais para emitir Eurobonds, como uma ferramenta estratégica para financiar o seu desenvolvimento económico e social. Esta prática, cada vez mais comum entre economias emergentes, tornou-se essencial para responder a desafios internos, diversificar fontes de financiamento e consolidar a integração de Angola na economia global.
As Eurobonds, títulos de dívida emitidos em moeda estrangeira (normalmente em dólares ou euros) e colocados em mercados internacionais, oferecem ao Estado angolano a possibilidade de captar recursos junto de investidores institucionais e privados fora do país, representando em finais de 2024 USD 9,11 mil milhões, cerca de 19,99% do total da dívida externa. Para uma economia cuja base fiscal ainda depende, em grande medida, do petróleo, este mecanismo amplia a capacidade de financiamento, especialmente em momentos de redução das receitas fiscais.
Um dos aspectos basilares da importância das Eurobonds para Angola reside na gestão da liquidez e no equilíbrio das contas públicas. Em períodos de queda dos preços do petróleo, como se verificou em 2014-2016, a receita do Estado caiu drasticamente, comprometendo a execução de projectos públicos e a estabilidade macroeconómica. Nesse contexto, as emissões de Eurobonds funcionaram como um amortecedor financeiro, permitindo ao governo honrar compromissos internos e externos, evitar incumprimentos e manter credibilidade perante os credores internacionais.
Além do financiamento directo, as Eurobonds desempenham um papel reputacional e estratégico ao posicionar Angola como um emissor regular nos mercados internacionais. Cada emissão representa não apenas um fluxo de capitais, mas também uma avaliação da percepção de risco do país. As taxas de juro exigidas pelos investidores reflectem o grau de confiança na capacidade de Angola gerir a sua dívida, executar reformas estruturais e manter estabilidade política. Assim, as Eurobonds funcionam também como um “barómetro” da economia nacional, como podemos constatar na evolução das yields (taxas de rendimento).
Outro ponto relevante é o impacto no desenvolvimento do mercado financeiro interno. Não obstante serem emitidas no exterior, as Eurobonds contribuem para a criação de referências de preços (benchmarks) que fortalecem a curva de rendimentos da dívida soberana. Isso gera externalidades positivas para o jovem mercado de capitais angolano, incentivando o desenvolvimento de instrumentos financeiros domésticos e atraindo investidores estrangeiros para oportunidades além do sector petrolífero.
No entanto, é necessário reconhecer que as Eurobonds podem representar, igualmente, um risco. Ao contrário de financiamentos concessionais oferecidos por instituições multilaterais, estes títulos têm custos mais elevados e prazos relativamente mais curtos, aumentando a pressão sobre as finanças públicas. Se mal gerida, a acumulação de dívida externa através de Eurobonds pode comprometer a sustentabilidade fiscal e aumentar a vulnerabilidade cambial, já que o pagamento de juros e amortizações exige moeda forte. Adicionalmente, concentrações de reembolsos em determinados anos, como é o caso de 2028, 2029 e 2032, podem obrigar a uma gestão mais criteriosa.
Para maximizar os benefícios e mitigar os riscos, Angola precisa de adoptar uma estratégia de endividamento clara e transparente, que alinhe as emissões de Eurobonds com projectos de investimento produtivo e infra-estrutural. Mais do que financiar défices correntes, os recursos obtidos devem ser canalizados para áreas que impulsionem a diversificação económica — agricultura, indústria transformadora, energias renováveis, infra-estrutura e tecnologia. Só assim se garantirá que o endividamento gera retornos superiores ao custo do serviço da dívida.
Outro aspecto crítico é a disciplina na comunicação com os mercados. A previsibilidade das políticas, a estabilidade cambial e a solidez institucional são determinantes para reduzir o prémio de risco associado a Angola. Neste quesito, Angola tem feito progressos assinaláveis, mas deverá consolidar este trajecto de modo a estimular a confiança dos investidores internacionais e, consequentemente, condições mais favoráveis para as futuras emissões que devem apresentar menor peso da dívida sobre as gerações futuras.
Em jeito de conclusão, as Eurobonds são, simultaneamente, uma oportunidade e um desafio para Angola e para os países emergentes. Quando bem utilizadas, constituem uma ferramenta poderosa para financiar a modernização da economia, atrair investidores e consolidar a credibilidade do país nos mercados internacionais. Contudo, se usadas de forma indiscriminada, podem agravar desequilíbrios macroeconómicos e comprometer a estabilidade futura. O verdadeiro impacto das Eurobonds depende, essencialmente, da qualidade da governação económica e da capacidade de o país transformar dívida em desenvolvimento sustentável, o que, apesar dos desafios que ainda subsistem, em grande medida, tem vindo a acontecer.
The Importance of Eurobonds for Angola’s Economic and Social Development
Since 2015, Angola has frequently resorted to the international capital market to issue Eurobonds, as a strategic tool to finance its economic and social development. This practice, increasingly common among emerging economies, has become essential to respond to internal challenges, diversify sources of financing and consolidate Angola’s integration into the global economy.
Eurobonds, debt securities issued in foreign currency (usually in dollars or euros) and placed on international markets, offer the Angolan State the possibility of raising funds from institutional and private investors outside the country, representing USD 9.11 billion at the end of 2024, about 19.99% of total external debt. For an economy whose tax base still depends largely on oil, this mechanism expands financing capacity, especially in times of reduced tax revenues.
One of the basic aspects of the importance of Eurobonds for Angola lies in the management of liquidity and the balance of public accounts. In periods of falling oil prices, as seen in 2014 2016, state revenue fell dramatically, compromising the execution of public projects and macroeconomic stability. In this context, Eurobond issuances acted as a financial buffer, allowing the government to honour internal and external commitments, avoid defaults and maintain credibility with international creditors.
In addition to direct financing, Eurobonds play a reputational and strategic role in positioning Angola as a regular issuer in international markets. Each issuance represents not only a flow of capital, but also an assessment of the country’s risk perception. The interest rates demanded by investors reflect the degree of confidence in Angola’s ability to manage its debt, implement structural reforms and maintain political stability. Thus, Eurobonds also function as a “barometer” of the national economy, as we can see in the evolution of yields.
Another relevant point is the impact on the development of the domestic financial market. Despite being issued abroad, Eurobonds contribute to the creation of price references (benchmarks) that strengthen the sovereign debt yield curve. This generates positive externalities for the young Angolan capital market, encouraging the development of domestic financial instruments and attracting foreign investors to opportunities beyond the oil sector.
However, it needs to be recognised that Eurobonds can also pose a risk. Unlike concessional financing offered by multilateral institutions, these bonds have higher costs and relatively shorter maturities, increasing pressure on public finances. If poorly managed, the accumulation of external debt through Eurobonds can compromise fiscal sustainability and increase exchange rate vulnerability, since the payment of interest and amortizations requires hard currency. In addition, concentrations of reimbursements in certain years, such as 2028, 2029 and 2032, may require more careful management.
To maximize benefits and mitigate risks, Angola needs to adopt a clear and transparent debt strategy that aligns Eurobond issuances with productive and infrastructure investment projects. Rather than financing current deficits, the resources obtained should be channelled into areas that boost economic diversification – agriculture, manufacturing, renewable energy, infrastructure and technology. Only in this way will it be ensured that indebtedness generates returns higher than the cost of servicing the debt.
– Another critical aspect is discipline in communicating with the markets. Policy predictability, exchange rate stability and institutional soundness are key to reducing the risk premium associated with Angola. In this regard, Angola has made remarkable progress, but it should consolidate this path in order to stimulate the confidence of international investors and consequently more favourable conditions for future issuances that should present a lower debt burden on future generations.