O mais famoso discurso do líder do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos da América (EUA), Martin Luther King Jr., foi enunciado em 28 de Agosto de 1963, para uma multidão de 200 mil pessoas, a partir dos degraus do Memorial Lincoln, em Washington, D.C.
Como parte da marcha de Washington por Empregos e Liberdade, o discurso é considerado um dos mais importantes da história da humanidade. “Eu tenho um sonho, de que os meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pelo teor do seu carácter”.
Este memorável discurso de King Jr., proferido há 60 anos, tem menos idade do que a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948). O documento de 10 de Dezembro invoca a igualdade de direitos e as liberdades de todos os seres humanos, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra…
Vem esta reflexão a propósito do que ocorre nas sucursais angolanas das petrolíferas Chevron e da TotalEnergies. Uma amiga que trabalhou nas duas petrolíferas, e que decidiu trocar o sector petrolífero pela carreira de procuradora, contou-nos, certo dia, o calvário por que passam os quadros de raça negra na Total e na Chevron. Resumo o relato numa única frase: “por mais que tenhas um QI acima dos franceses (referindo-se à Total), nunca verás um negro como gestor de topo nesta firma. Há um muro que impede os negros, sobretudo os angolanos, de ascenderem ao board dessas empresas”.
Esse relato que nos foi contado há exactos quatro anos, reavivado agora pela minha memória, surge em consequência de um episódio a todos os títulos bizarro. É algo nunca visto em toda a minha vida, enquanto profissional de jornalismo/comunicação, trabalhando em veículos nacionais e estrangeiros, cuja actividade permite uma relação diária com assessores de imprensa e consultores de comunicação.
A história é a seguinte: ao longo de quatro dias, o meu colega Eduardo Gito, editor de Empresas e Negócios, desdobrou-se para obter informações relativas à composição dos conselhos de administração das principais companhias do sector petrolífero, sabendo, principalmente, da forma como os lugares estavam distribuídos por género. Curiosamente, bastando um clique no site da Etu Energias, empresa 100% angolana, foi possível encontrar a informação desejada.
O problema foi com a Total e a Chevron, que, em teoria, deveriam ser as empresas mais transparentes na partilha de informações com o mundo externo. Contactados, os responsáveis da área de comunicação da Total, Tatiana Mourinha e André Teixeira informaram ao meu colega que só poderiam fornecer tal informação mediante uma solicitação, por escrito/e-mail. Porém, ainda que o jornalista procedesse em conformidade, essa não seria garantia de que a informação desejada fosse fornecida. Ou seja, tudo dependeria sempre de “orientações superiores”, se as senhoras gostariam ou não de ser identificadas como membros do Conselho de Administração da TotalEnergies.
Pronto, o meu colega enviou o dito e-mail, mas, quatro dias depois, continuava sem resposta. Intrigado, eu próprio peguei no telemóvel e contactei o senhor André Teixeira, que me transmitiu a mesma informação. Mas, antes, perguntou quem me tinha fornecido o seu contacto. Valha-me Deus!
Infelizmente, há uma semana que a Chevron, através da sua directora de relações públicas e investimento social, Antónia Freitas, não responde ao nosso e-mail.
Para que serve, afinal, um assessor de comunicação e/ou uma assessoria de imprensa, se esta não serve para responder a uma pergunta tão básica? Para que serve um assessor de imprensa, se este se incomoda que os jornalistas tenham o seu contacto? Em que parte do planeta, em Washington ou em Paris, a composição de um conselho de administração e os perfis dos seus membros devem ser exclusivamente de conhecimento dos funcionários da empresa?
Voltando ao início deste artigo. A Chevron e a Total não apenas precisam de mudar a forma de olhar para os seus quadros em razão do tom da pele, mas, também, precisam de mudar urgentemente o seu estilo de governança corporativa e, principalmente, ter um gabinete de comunicação funcional, que seja eficaz e competente. Que saiba qual é o seu papel.
Chevron and Total: the problems that lie behind
The most famous speech of the leader of the civil rights movement in the United States of America (USA), Martin Luther King Jr., was delivered on August 28, 1963, to a crowd of 200,000 people from the steps of the Lincoln Memorial in Washington, D.C.
As part of the March on Washington for Jobs and Freedom, the speech is considered one of the most important in human history. “I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin, but by the content of their character.”
This memorable speech by King Jr., spoken 60 years ago, is younger than the Universal Declaration of Human Rights (1948). The document of December 10 invokes the equality of rights and freedoms of all human beings, without any distinction, particularly of race, color, sex, language, religion, political or other opinion…
This reflection comes in light of what happens in the Angolan branches of the oil companies Chevron and TotalEnergies. A friend who worked in both oil companies, and who decided to switch from the oil sector to a career as a prosecutor, told us one day about the ordeal that black employees go through at Total and Chevron. I summarize the account in one sentence: “no matter how high your IQ is compared to the French (referring to Total), you will never see a black person as a top manager in this company. There is a barrier that prevents blacks, especially Angolans, from ascending to the board of these companies.”
This account that was told to us exactly four years ago, now revived in my memory, arises as a result of a truly bizarre episode. It is something I have never seen in my entire life as a journalism/communication professional, working in national and foreign media, whose activity allows for a daily relationship with press officers and communication consultants.
The story goes like this: over the course of four days, my colleague Eduardo Gito, editor of Companies and Business, made every effort to obtain information regarding the composition of the boards of directors of the major companies in the oil sector, particularly in terms of how the positions were distributed by gender. Interestingly, with just a click on Etu Energias’ website, a 100% Angolan company, it was possible to find the desired information.
The problem was with Total and Chevron, which, in theory, should be the most transparent companies when it comes to sharing information with the outside world. Contacted, the communication department responsible at Total, Tatiana Mourinha and André Teixeira, informed my colleague that they could only provide such information upon a written/email request. However, even if the journalist proceeded accordingly, there was no guarantee that the desired information would be provided. In other words, everything would always depend on “higher instructions”, whether the ladies would like to be identified as members of the Board of Directors of TotalEnergies or not.
So, my colleague sent the said email, but four days later, he still had no response. Intrigued, I myself picked up the phone and contacted Mr. André Teixeira, who gave me the same information. But before that, he asked who had provided me with his contact. Oh my God!
Unfortunately, for a week now, Chevron, through its director of public relations and social investment, Antónia Freitas, has not responded to our email.
What is the point, after all, of having a communication advisor and/or a press office if it does not serve to answer such a basic question? What is the purpose of a press officer if they are bothered by journalists having their contact? In which part of the world, in Washington or Paris, should the composition of a board of directors and the profiles of its members be exclusively known to the company’s employees?
Returning to the beginning of this article. Chevron and Total not only need to change the way they look at their employees based on the color of their skin, but they also urgently need to change their style of corporate governance and, above all, have a functional communication office that is effective and competent – one that knows its role.