Discreto, mas indispensável, o acordo de recompra, o repo, sustenta grande parte da liquidez do mercado financeiro. É por meio deste instrumento que bancos, instituições e os bancos centrais ajustam, no dia a dia, as suas posições de caixa, o uso de colateral e o controlo de risco. Mas, afinal, como se desenrola, na prática, uma operação de repo do início ao fim?
Ao contrário do que o nome sugere, um repo não é uma simples compra e venda de títulos. É um empréstimo garantido, no qual:
- quem precisa de caixa realiza um repo;
- quem fornece o financiamento faz um reverse repo;
- títulos são entregues como colateral;
- o tomador compromete-se a recomprá-los na maturidade, pagando juros.
Na negociação inicial acordam-se o colateral elegível, o montante, a margem, a taxa, as datas e os restantes parâmetros técnicos.
A operação é negociada no mercado OTC, entre mesas de tesouraria, intermediários ou, em alguns casos, com o Banco Nacional de Angola (BNA)no âmbito da política monetária. Antes do fecho, taxa, prazo, colateral e montante são reconfirmados para assegurar alinhamento entre as partes.
No entanto, concluída a negociação, o repo é registado nos sistemas de tesouraria, custódia, risco e contabilidade. Compete ao Middle Office validar datas, margens, elegibilidade do colateral e a robustez da contraparte.
Entretanto, a equipa de colateral seleciona então os títulos a entregar, avaliando liquidez, impacto no balanço e custos de haircut. Em geral recorrem-se a OTs e BTs pela sua liquidez e aceitação regulatória.
Logo em seguida, confirma-se formalmente o negócio — valor, títulos, margem, taxa e liquidação — por meio de SWIFT, e-mail ou plataformas da BODIVA/BNA.
A liquidação ocorre em regime DVP, com o caixa a movimentar-se via RTGS/SPEM e os títulos através dos sistemas de custódia. Este processo garante simultaneidade e reduz risco operacional.
Ao longo da operação, o colateral é diariamente marcado ao mercado.
- Se perde valor, ocorre uma margin call.
- Se ganha, o excesso é devolvido.
Este mecanismo mantém a operação devidamente colateralizada até ao final.
Durante o período do repo, o tomador pode ainda substituir títulos por outros equivalentes para otimizar balanço, libertar posições ou ajustar inventário.
Na maturidade, o tomador devolve o caixa acrescido da taxa repo e o credor restitui os títulos. Nos repos abertos, a renovação é diária até uma das partes decidir encerrar.
Por fim, registam-se os juros, atualizam-se os indicadores de liquidez (LCR, NSFR) e ajusta-se o inventário de títulos e o PnL associado à operação.