Opinião

 ‎Cotação do BFA e o efeito de valorização dos activos na bolsa ‎

Dário Castro

Jurista

3 Outubro, 2025 - 16:51

3 Outubro, 2025 - 16:51

Dário Castro

Jurista

‎A admissão à negociação das acções do BFA na BODIVA marcou mais um momento histórico para o mercado de capitais (considerando a dimensão da operação), e também desencadeou um efeito de valorização generalizada em diversos activos cotados.

‎Propus-me a analisar esta reacção do mercado à luz dos fundamentos teóricos do valuation.

‎Após o IPO, as acções do BFA (ticker: BFAAAAAA) foram admitidas à negociação com uma valorização expressiva de +25,00%, tornando-se o activo mais negociado em número de negócios e volume.‎

‎Este movimento gerou um efeito de contágio positivo sobre outros activos cotados:

‎A valorização do BFA funcionou como gatilho psicológico e financeiro, reforçou a confiança dos investidores e influenciou uma reavaliação positiva dos activos do sector financeiro e da própria bolsa.

‎A OPV envolveu a alienação de 29,75% do capital social, com mais de 10 mil ordens alocadas e 8.488 novos accionistas e o rácio procura/oferta foi de 506,37%.

‎A estrutura da oferta e a ampla participação indicam um processo de democratização do capital e de fortalecimento institucional da BODIVA.

‎Fundamentos teóricos do Valuation

‎Segundo Stinghen (2022), o valuation é um conjunto de métodos que busca estimar o valor intrínseco de uma empresa, com destaque para:

  • ‎Discounted Cash Flow (DCF): baseado na projecção dos fluxos de caixa futuros e sua actualização pelo WACC ou Ke;
  • ‎Valuation Relativo: comparação com múltiplos de empresas similares;
  • ‎Múltiplos de mercado e transacções comparáveis: úteis em contextos de IPOs e M&A.

‎A questão é: esta valorização pode ser interpretada como uma correcção de mercado para aproximar o preço das acções ao seu valor justo?

‎Segundo a teoria do valuation (Stinghen, 2022), o mercado nem sempre precifica os activos correctamente.

‎O valuation parte da premissa de que os mercados são ineficientes no curto prazo, e que o preço de mercado pode divergir do valor real.

‎A valorização pode ser uma correcção, mas também pode ser:

  • ‎Especulação: investidores compram por expectativa de valorização futura, não necessariamente por fundamentos;
  • ‎Euforia de mercado: o efeito psicológico de uma nova cotação pode gerar sobrevalorização temporária;
  • ‎Reprecificação por novos dados: a cotação do BFA trouxe mais transparência e permite aos investidores reavaliar o sector bancário.

‎O BFA apresentou indicadores sólidos em 2024, com um volume de negócios de 3 806 mil milhões de kwanzas e manteve uma rentabilidade atractiva, com um ROE de 33,7% e um ROA de 5,5%, ambos em ligeira melhoria face ao ano anterior.

‎O resultado líquido cresceu 22,9%, totalizando 205 821,2 milhões de kwanzas, impulsionado pelo aumento do produto bancário (+25,5%), demonstrando a capacidade do banco em gerar valor consistente para os accionistas, mesmo num contexto de maior expansão do crédito.

‎Esses dados sustentam uma valorização. Mas os outros activos (BAI, ENSA, BODIVA) também valorizaram, mesmo sem novos dados públicos. Isso sugere que o movimento pode ter sido mais emocional e sistêmico do que racional e fundamentado.

‎Aplicação prática: o caso BFA e o efeito de rede

‎A valorização do BFA não ocorreu isoladamente. A cotação do activo gerou um efeito de rede e influenciou positivamente:

‎Outras instituições cotadas que apresentaram valorizações superiores a 15%.

‎A própria BODIVA, cuja acção valorizou 15,63%, e que acaba por reflectir o fortalecimento institucional e o aumento da atractividade do mercado.

‎Esse fenómeno pode ser interpretado à luz da teoria do valuation como uma revisão colectiva das expectativas de crescimento e risco, com impacto directo na percepção de valor dos activos.

Conclusão

‎O valuation, na sua essência, é mais do que um cálculo matemático: é um exercício crítico de interpretação entre valor e preço, entre racionalidade e percepção colectiva.

‎O mercado, pela sua natureza imperfeita, oscila entre momentos de subavaliação e de sobreavaliação, e é precisamente nesse hiato que reside a oportunidade para o investidor esclarecido.

‎É fundamental compreender, sobretudo para os investidores, a psicologia que molda os preços, e assim distinguir ruído de um sinal. O valuation permite ancorar decisões num quadro racional, ao mesmo tempo que reconhece a inevitável dimensão humana e imperfeita dos mercados.

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