Opinião

Dinâmica do mercado de capitais angolano

João Sionguele

PCA da Lwei Brokers

22 Outubro, 2025 - 14:52

22 Outubro, 2025 - 14:52

João Sionguele

PCA da Lwei Brokers

As actividades relacionadas à Banca de Investimento em Angola têm vindo a ganhar relevância no contexto do reforço do sistema financeiro e da diversificação das fontes de financiamento, especialmente através do Mercado de Capitais.

‎Entende-se que, até ao surgimento pleno da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), em 2014, as actividades relacionadas à Banca de Investimento praticamente não existiam como segmento formal e estruturado. O financiamento às empresas era quase exclusivamente assegurado por empréstimos de médio e longo prazos concedidos por bancos comerciais, enquanto as emissões privadas eram raras, negociadas de forma bilateral, sobretudo por grandes empresas ou entidades públicas junto de investidores institucionais. Embora alguns bancos comerciais angolanos tenham criado departamentos de banca de investimento, muitas vezes com forte apoio de consultores estrangeiros para estruturar financiamentos complexos e preparar emissões obrigacionistas privadas, a liquidez e a profundidade de mercado permaneciam limitadas.

‎Com a expansão da BODIVA, e claramente uma maior notoriedade do Mercado de Capitais, verificou-se um aumento expressivo das actividades de Banca de Investimento, inicialmente motivado pela procura do Estado Angolano através do Programa de Privatizações. Estes sinais de evolução obrigaram as instituições a reforçarem as equipas técnicas e especializar serviços para responder a uma procura crescente. Paralelamente, a revisão da Lei Geral das Instituições Financeiras (Lei n.º 14/21) veio estabelecer uma segmentação mais clara entre banca comercial e intermediação no Mercado de Capitais, prevendo que as instituições bancárias deixariam de exercer determinadas operações de investimento, com transição gradual para Sociedades Distribuidoras e Corretoras de Valores Mobiliários.

‎O marco de 2022, com o arranque efectivo do mercado accionista da BODIVA, verificou-se um salto qualitativo para as actividades de Banca de Investimento. A Oferta Pública Inicial (IPO) do Banco Angolano de Investimentos (BAI) inaugurou a negociação de acções e foi seguida por entrada em bolsa de instituições como o Banco Caixa Geral de Angola (BCGA), ACREP, ENSA e a própria BODIVA. Estas operações ampliaram o leque de instrumentos para captação de recursos e criaram oportunidades para actuação dos intermediários financeiros.

‎No segmento obrigacionista, destacam-se as emissões corporativas da Griner Engenharia S.A. e da Sonangol E.P., que reforçaram a utilização estratégica do Mercado de Capitais por empresas privadas e públicas de grande dimensão, diversificando as fontes de financiamento para além do crédito bancário e aumentando a credibilidade do segmento junto de investidores institucionais.

‎Mais recentemente, observou-se a primeira emissão de Papel Comercial, oferecendo uma alternativa de curto prazo para financiamento às empresas, com estrutura adaptada às necessidades do emitente e aos objetivos de retorno dos investidores.

‎Estas operações garantiram uma maior visibilidade sobre a importância de actividades de Banca de Investimento mais estruturadas, bem como consolidaram o papel das Sociedades Distribuidoras e Corretoras como arrangers, underwriters, agentes de colocação e assessores financeiros.

‎No entanto, apesar dos progressos, ainda se verifica uma dependência significativa de consultores e assessores internacionais para concepção, estruturação e execução de operações ligadas à Banca de Investimento no Mercado de Capitais, sobretudo em due diligence legal e financeira, e em estruturação de ofertas complexas.

‎Embora esta colaboração tenha sido essencial para a transferência de conhecimento e para a credibilidade inicial do sector, actividade de assessoria financeira e o desenvolvimento sustentável de soluções de financiamento às grandes, médias e pequenas empresas, via Mercado de Capitais angolano, exigirão uma capacitação interna mais profunda. As Sociedades Distribuidoras e Corretoras, escritórios de advogados e consultoras nacionais precisam investir em formação especializada e melhoria contínua das suas equipas, visando a excelência de serviço e maior autonomia operacional.

‎Neste sentido, num Mercado de Capitais em expansão e em consolidação, esperamos que as instituições que actuam neste mercado comecem a desempenhar, de forma activa, papéis centrais, no que diz respeito às actividades de Banca de Investimento:

  • ‎Originação e estruturação: identificar empresas com potencial para aceder ao Mercado de Capitais e desenvolver operações equilibradas em risco e retorno, sobretudo num contexto pós-Programa de Privatizações.
  • ‎Preparação e assessoria: apoiar emitentes na adequação das práticas de governança, na qualidade da informação financeira e no cumprimento das exigências regulatórias.
  • Internacionalização: criar pontes com investidores estrangeiros, posicionando Angola como um destino competitivo de investimento.

‎O êxito desta trajectória dependerá do equilíbrio entre abertura ao capital estrangeiro e a consolidação da capacidade técnica nacional, permitindo que Angola se afirme como um mercado emergente de referência no contexto africano.

‎Dynamics of the Angolan Capital Market

Investment banking activities in Angola have gained significant relevance in strengthening the financial system and diversifying funding sources, especially through the capital market.

Until the full emergence of the Angola Debt and Securities Exchange (BODIVA) in 2014, investment banking activities practically did not exist as a formal, structured segment.

Corporate financing was almost exclusively provided through medium and long-term loans from commercial banks, while private issuances were rare and negotiated bilaterally, mainly by large companies or public entities with institutional investors. Although some Angolan commercial banks created investment banking departments, often with strong support from foreign consultants to structure complex financing and prepare private bond issuances, market liquidity and depth remained limited.

With BODIVA’s expansion and the capital market’s increased prominence, there was a significant increase in investment banking activities, initially driven by the Angolan State’s demand through the Privatization Program. These signs of evolution forced institutions to strengthen their technical teams and specialize services to meet growing demand. In parallel, the revision of the General Law of Financial Institutions (Law No. 14/21) established a clearer segmentation between commercial banking and capital market intermediation, stipulating that banking institutions would cease performing certain investment operations, with a gradual transition to Securities Brokerage and Distribution Companies.

The milestone of 2022, with the effective launch of BODIVA’s stock market, marked a qualitative leap for investment banking activities. The Initial Public Offering (IPO) of Banco Angolano de Investimentos (BAI) inaugurated stock trading and was followed by the listing of institutions such as Banco Caixa Geral de Angola (BCGA), ACREP, ENSA, and BODIVA itself. These operations expanded the range of instruments for raising resources and created opportunities for financial intermediaries.

In the bond segment, corporate issuances by Griner Engenharia S.A. and Sonangol E.P. stand out, reinforcing the strategic use of the capital market by large private and public companies, diversifying funding sources beyond bank credit and increasing the segment’s credibility among institutional investors.

More recently, the first Commercial Paper issuance was observed, offering a short-term financing alternative for companies, with a structure adapted to the issuer’s needs and investors’ return objectives.

These operations ensured greater visibility regarding the importance of more structured investment banking activities and consolidated the role of Brokerage and Distribution Companies as arrangers, underwriters, placement agents, and financial advisors.

However, despite progress, there is still significant dependence on international consultants and advisors for the conception, structuring, and execution of investment banking operations in the capital market, especially in legal and financial due diligence and in structuring complex offerings.

Although this collaboration has been essential for knowledge transfer and the initial credibility of the sector, financial advisory activity and the sustainable development of financing solutions for large, medium, and small companies through the Angolan capital market will require deeper internal capacity building. Brokerage and Distribution Companies, law firms, and national consultancies need to invest in specialized training and continuous improvement of their teams, aiming for service excellence and greater operational autonomy.

In this sense, in an expanding and consolidating capital market, we expect institutions operating in this market to begin playing active, central roles regarding investment banking activities:

  • Origination and structuring: identifying companies with potential to access the capital market and developing operations balanced in risk and return, especially in a post-Privatization Program context.
  • Preparation and advisory: supporting issuers in adapting governance practices, improving financial information quality, and complying with regulatory requirements.
  • Internationalization: creating bridges with foreign investors, positioning Angola as a competitive investment destination.

The success of this trajectory will depend on the balance between openness to foreign capital and the consolidation of national technical capacity, allowing Angola to establish itself as a reference emerging market in the African context.

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