Opinião

Estado da Nação e a luta contra a corrupção

Carlos Simões

Consultor de Negócios

15 Setembro, 2025 - 11:33

15 Setembro, 2025 - 11:33

Carlos Simões

Consultor de Negócios

‎O combate à corrupção é, sem dúvida, o tema que mais tem marcado o discurso político e as práticas institucionais em Angola nos últimos anos. A promessa de enfrentar este mal sistémico transformou-se em bandeira de governação e em expectativa social. No entanto, a questão que se coloca é: até que ponto os avanços já alcançados representam uma verdadeira transformação estrutural e não apenas medidas conjunturais?

‎Não há como negar os progressos. Processos judiciais contra figuras de relevo, condenações efetivas e a recuperação de milhares de milhões de dólares desviados demonstram que existe hoje uma acção concreta e visível. O aumento das declarações de bens entre titulares de cargos públicos também simboliza uma mudança cultural que, ainda que lenta, começa a enraizar-se.

‎Contudo, o combate à corrupção não pode ser visto apenas em termos de números de processos ou valores recuperados. O grande desafio continua a ser a institucionalização de práticas sólidas que impeçam a reprodução de esquemas de enriquecimento ilícito no futuro. A prevenção é tão importante quanto a repressão. Por isso, a estratégia nacional 2024–2027, ao incluir pilares de educação cívica, ética no serviço público e mecanismos de denúncia protegida, é um passo acertado.

‎Outro aspeto essencial é a celeridade da justiça. Muitos processos arrastam-se durante anos, gerando a percepção de que a responsabilização é selectiva ou incompleta. Se, por um lado, a população reconhece os esforços do Executivo, por outro exige que a aplicação da lei seja uniforme, sem excepções nem favoritismos. Sem essa garantia, a confiança na justiça corre o risco de se desgastar.

‎Também é preciso compreender que a corrupção não é apenas um problema de elites políticas ou empresariais. Ela está enraizada em práticas quotidianas, desde o acesso a serviços básicos até à burocracia administrativa. Combater esse fenómeno exige um trabalho profundo de mudança cultural e de valorização da integridade em todos os níveis da sociedade.

‎No cenário internacional, Angola melhorou a sua posição em índices de percepção da corrupção. Este facto reforça a imagem externa do país e abre portas a maiores fluxos de investimento. Ainda assim, a credibilidade será tanto maior quanto mais os resultados forem sentidos internamente, no dia a dia dos cidadãos.

‎Em síntese, Angola já não é o mesmo país de há uma década no que toca ao combate à corrupção. Os avanços são palpáveis e reconhecidos, mas a luta está longe de estar vencida. O verdadeiro teste será a capacidade de consolidar instituições fortes, independentes e transparentes, capazes de sustentar uma cultura de legalidade para além de conjunturas políticas.

‎A corrupção não se erradica apenas com discursos. Erradica-se com práticas consistentes, justiça célere e um compromisso colectivo de dizer basta.

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