Opinião

16-03-2024 9:42

16-03-2024 9:42

Nelson Francisco Sul

Director

O fim do império colonial português em África fez de Angola um terreno fértil de disputa das superpotências mundiais. Quando o país do petróleo e do diamante alcançou a sua independência, em 1975, a Nação mais poderosa do planeta tinha o republicano Gerald Ford na Casa Branca. Zhu De, um comunista originário de uma família camponesa, era o representante máximo do dragão.

A China reconhece a independência do país africano em 1983, embora tenha sido este um reconhecimento camuflado, já que, por detrás, prestava cobertura militar à FNLA e… à UNITA. Os dois ex-movimentos de guerrilha tinham em comum o facto de terem sido opositores do MPLA e do seu Estado unitário e de partido-único. Mas não era esta a razão da atracção dos chineses, até porque, do ponto de vista ideológico, eram “primos como irmãos” do MPLA. O que os chineses estavam à procura era, na verdade, aquele que pudesse garantir a sua expansão e rápida presença global, através de pactos militares e acordos comerciais.

O mundo estava em Guerra Fria, polarizado em dois blocos, e Washington era extremamente alérgico ao regime de Luanda. O mais provável era sentar à mesma mesa com Pequim. E como foi isso possível?

“Certo dia, eu lembro que um chinês, de nome Lai-Sang, que tinha uma pequena empresa comercial, em Viana, arredores de Luanda, e que fazia os seus pequenos negócios desde o tempo colonial, foi ter comigo no Ministério, propondo-me sobre qual seria a probabilidade de fazer uma visita à China, na qualidade de ministro do Comércio Externo. Não tenho dúvidas de que, possivelmente, se tratava de um agente dos serviços secretos chinês e que recebia instruções das autoridades chinesas para aproximar os dois países. Eu, naturalmente, discuto este assunto a nível do Estado, com o Presidente Eduardo dos Santos, que autoriza a nossa visita à China. Foi a primeira visita oficial de uma delegação angolana à República Popular da China, após a nossa independência. Foi uma visita que oficializou as relações comerciais e diplomáticas”.

Este pequeno testemunho, inédito, o caro leitor poderá ler na Autobiografia do embaixador Ismael Gaspar Martins, o primeiro governador do BNA (1975-1977); sucessor de Saidy Vieira Dias Mingas no Ministério das Finanças (1977-1982) e, mais tarde, ministro do Comércio Externo (1982-1987) e embaixador de Angola na ONU (2001-2018).

Continuando. Em 1986, Angola e a China assinavam o primeiro acordo de crédito. Os signatários do documento respondem pelos nomes de Ismael Gaspar Martins e Liu Yandong, respectivamente, ministro do Comércio Externo de Angola e vice-primeira ministra e ministra do Comércio Externo da China.

Eduardo dos Santos percebeu a importância chinesa, daí que tivesse efectuado a sua primeira visita à China em 1988. Em 1991, a bandeira soviética descia para sempre do topo do Kremlin. Michail Gorbachov “rendeu-se” e Angola era assim um órfão da URSS. Em 1998, Zedu regressa a Pequim. É a partir desta data que as relações sino-angolanas se revelam cruciais. Com o fim da guerra civil, a China foi o único país que acreditou em nós. Chateado, devido à influência americana nos últimos tempos, sobretudo na gestão de algumas das grandes obras edificadas com o dinheiro chinês, Pequim bloqueou vários pacotes comerciais. João Lourenço percebeu o sinal de mal-estar e foi ter com Xi Jinping. É a conversar que os homens se entendem…

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