Que atire a primeira pedra quem nunca se sentiu incomodado por assumir uma falha, ou que errou.
A cada dia que passa sinto que nos estamos cada vez mais a enredar na teia da modernidade líquida, teoria criada pelo polaco Zygmunt Bauman, que afirma que após 1960 as nossas relações sociais, económicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis como os líquidos.
Penso aqui com os meus botões que a sociedade actualmente enaltece os vencedores, os que subiram a montanha e afirmam ter chegado ao topo e tolera muito pouco os que assumem que para lá chegar são necessários avanços e recuos, perdas e ganhos.
Todos adoramos histórias de superação, da zungueira que iniciou o seu negócio calcorreando quilómetros e hoje emprega, do jovem empreendedor que era engraxador e hoje detém um pequeno negócio, são histórias que alimentam o imaginário e reforçam a crença de que é possível.
Contudo quantos de nós estamos disponíveis para saber, quantas foram as escolhas difíceis que fizeram? E se em posição idêntica optaríamos pelo mesmo.
Segundo Baumam transitamos de uma modernidade sólida assente em rigidez e solidificação, onde a espera e confiança eram valorizadas, para um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo.
Vivemos superficialmente, aparentemos ter mais do que ser e temos dificuldade em criar conexões duradouras e verdadeiras.
Quantos de nós suspiramos pelas “supostas” vidas perfeitas partilhadas pelas diversas redes sociais e sentimo-nos diminuídos pelas mesmas.
Mas a pergunta que não quer calar é: Será que vale a pena?
Valerá a pena almejar uma suposta perfeição, onde não podemos demonstrar fragilidade? Valerá a pena barricar-nos em dogmas e afirmações que nos escudem de reconhecer que somos falhos e erramos?
Que tipo de mensagem transmitimos aos mais novos? Que temos sempre razão? Que não podemos ser questionados?
Será sinónimo de sucesso nunca demonstrar fragilidade?
Caminhamos a passos largos para transformações significativas no nosso dia-a-dia, a inteligência artificial e inúmeras formas de automatização vão projectando alguma insegurança sobre o nosso papel enquanto profissionais, mas será sempre a nossa capacidade para sonhar e criar um deferencial.
Não trago respostas, não as tenho para algumas das questões levantadas, sendo que as mesmas dependem de pessoa para pessoa, mas acredito ser essencial esta reflexão sobre o direito a errar, porque todo o processo é feito de perdas e conquistas, de caminhos que se ajustam ao calcorrear do percurso e que mais do que julgamentos precisamos de mais empatia e solidariedade, para que possamos em conjunto almejar novos horizontes e prespectivas.