O ano de 2025 marca um ponto de inflexão para a economia angolana. Após anos de instabilidade provocada por choques externos, pandemia, dependência petrolífera e dificuldades na gestão da dívida pública, o país apresenta sinais mistos: por um lado, vislumbra-se um caminho de recuperação e reforma estrutural; por outro, permanecem riscos internos e externos que limitam o potencial de crescimento inclusivo e sustentável.
Nesta reflexão, abordo, com detalhe, o estado actual da economia angolana, os avanços registados, os desafios persistentes e a necessidade de um modelo mais resiliente e produtivo.
I. Crescimento Económico: Um caminho bifurcado
Em 2025, o Governo de Angola projecta um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,1%, sustentado, principalmente, pelo sector não petrolífero, com destaque para a agricultura, construção e serviços. No entanto, organismos multilaterais, como o FMI, apresentam projecções mais conservadoras, estimando o crescimento em apenas 2,4%. Essa discrepância não é apenas técnica: reflete uma divergência quanto à confiança nas políticas internas e à exposição externa da economia.
Apesar da retórica de diversificação, a economia angolana continua excessivamente dependente do petróleo, que ainda representa mais de 90% das exportações e cerca de 50% das receitas fiscais. As flutuações no preço do crude tornam a execução orçamental volátil e colocam em causa a previsibilidade necessária para o investimento privado e público.
II. Inflação, rendimento e pobreza: A fragilidade social
Após um período de inflação galopante — que ultrapassou os 29% em 2024 — a taxa está projectada para cair para 16,6% em 2025. Esta queda decorre de políticas monetárias mais restritivas e de um esforço de consolidação fiscal. Ainda assim, a inflação acumulada corroeu significativamente o poder de compra das famílias, sobretudo das mais vulneráveis.
Para mitigar esse impacto, o OGE 2025 aumentou em 25% os salários da função pública e reforçou programas como o Kwenda, com transferências monetárias directas às famílias mais pobres, e o programa nacional de merenda escolar. Essas iniciativas são louváveis, mas insuficientes se não forem acompanhadas de um crescimento real do sector produtivo que gere empregos estáveis e valor agregado.
III. O Orçamento Geral do Estado: prioridades e dilemas
O OGE 2025, orçado em Kz 34,6 biliões, apresenta um aumento de 40% face ao ano anterior. Prioriza áreas sociais (educação, saúde, protecção social) com mais de 21% da despesa total. No entanto, mais de 50% do orçamento destina-se ao serviço da dívida, o que demonstra o peso brutal da dívida pública nas finanças do país.
Essa realidade representa um dilema estrutural: como conciliar a necessidade de investimento em sectores-chave com a obrigação de cumprir compromissos financeiros externos? A resposta, em parte, está na reestruturação da dívida, na melhoria da arrecadação fiscal e no combate à ineficiência da despesa pública.
IV. Produção Nacional e Segurança Alimentar: Entre a vontade e a capacidade
Um dos pilares estratégicos do Governo é a promoção da produção nacional e da segurança alimentar. A criação de uma linha de crédito para o sector agropecuário e a redução fiscal para equipamentos industriais representam tentativas reais de estímulo. No entanto, a agricultura continua a enfrentar barreiras estruturais: falta de mecanização, estradas rurais deficientes, acesso limitado ao financiamento e fraca ligação com os mercados urbanos.
A dependência excessiva da importação de alimentos — numa nação com vastas terras aráveis — é uma contradição grave. Resolver esse paradoxo exige não só investimento mas também uma reforma profunda nas cadeias de valor e na organização dos pequenos produtores.
V. Transparência, governação e sustentabilidade
Um Estado com bases económicas frágeis precisa de instituições fortes. A criação da SGPS (Sociedade Gestora de Participações Sociais) para gerir os activos públicos é uma medida importante para garantir maior eficiência e responsabilidade. Contudo, a execução orçamental continua a ser um ponto fraco. Em sectores como saúde e educação, há uma grande diferença entre o que é aprovado no orçamento e o que, de facto, é gasto.
A transparência fiscal e a responsabilização são essenciais não só para atrair investidores mas também para garantir que os benefícios do crescimento cheguem à população.
Conclusão
O Estado da Nação angolana, em termos económicos, em 2025, é paradoxal: ao mesmo tempo que se registam avanços em matéria de políticas sociais, reforma fiscal e diversificação, subsistem obstáculos que ameaçam a estabilidade e a inclusão. A dependência petrolífera, o peso da dívida, a fragilidade institucional e a execução ineficiente continuam a limitar o progresso.
O desafio de Angola é, pois, passar de uma economia de resistência para uma economia de prosperidade.
Isso exige coragem política, compromisso com a transparência e, sobretudo, uma visão que coloque o cidadão no centro do modelo de desenvolvimento.