Opinião

O impacto das tensões geopolíticas no mercado de capitais

Salomão Abílio

Jurista

13 Agosto, 2025 - 18:57

13 Agosto, 2025 - 18:57

Salomão Abílio

Jurista

‎Os ataques entre Israel e o Irão, ocorridos no mês de Junho do ano em curso, reacenderam a incerteza geopolítica como factor relevante para os mercados. O conflito resultou na morte de militares iranianos de alto escalão. Apesar disso, o Irão evitou atacar instalações dos EUA na região e Israel optou por não atingir directamente a produção e transporte de petróleo iraniano, focando-se em outras infra-estruturas energéticas.

‎Com o aumento das tensões geopolíticas no Médio Oriente, o preço do petróleo brent subiu até 14%, o maior aumento desde Março de 2022, antes de recuar para metade, enquanto os mercados de renda variável apresentaram reacções mais moderadas. Esse movimento impactou os mercados globais, com as bolsas da Europa e dos EUA a caírem mais de 1%, segundo dados do JP Morgan Private Bank (17 de Junho de 2025).

‎O Irão é um país exportador de petróleo, contribuindo aproximadamente com 4% da produção mundial, com a China a comprar 90% das suas exportações. Em contraste, a participação da Rússia na produção mundial era de quase três vezes maior quando começou o seu conflito com a Ucrânia, com inúmeras economias desenvolvidas dependentes dessas importações.

‎O maior risco do conflito entre Israel e Irão radicaria na possível expansão do conflito em toda a região de forma geral ou até às rotas de trânsito-chave como o Estreito de Ormuz, ponto crítico para cerca de 20% do petróleo mundial. Um bloqueio do Estreito de Ormuz poderia pôr em risco a produção de 21 milhões de barris de petróleo por dia.

‎Os eventos geopolíticos podem exercer uma influência significativa sobre o mercado de capitais. No entanto, no cômputo geral, os seus efeitos sobre a renda variável global tendem a ser temporários. Para os investidores, os ciclos económicos têm tido um peso mais determinante na tomada de decisões. Ainda assim, tensões geopolíticas intensas, sobretudo aquelas que ameaçam a estabilidade económica, podem provocar impactos mais duradouros e difíceis de mitigar.‎

‎Portanto, apesar de os efeitos dos eventos geopolíticos sobre os mercados serem, na maioria dos casos, limitados, a cooperação internacional continua a desempenhar um papel essencial na preservação da confiança, na protecção dos investidores e na integridade dos sistemas financeiros globais. Como salientou Rodrigo Buenaventura, Secretário-Geral da Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários – IOSCO, em Maio deste ano: «A cooperação internacional continuará a ser o modelo-chave, apesar dos desafios actuais».‎

‎A cooperação internacional entre jurisdições é, assim, fundamental para enfrentar riscos sistémicos, promover a transparência e garantir a resiliência dos mercados em tempos onde a única certeza que temos é a incerteza.

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