Por mais promissoras que sejam as metas estabelecidas pelo Governo no Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2025, os primeiros seis meses do ano demonstram que a realidade económica do país está a testar severamente a viabilidade dessas intenções.
No seu Relatório de Fundamentação, o Governo centrou as suas prioridades em quatro eixos: aumento do rendimento, segurança alimentar, investimento social e robustez das finanças públicas (sic), o que, do meu ponto de vista, se trata de um desenho ambicioso. No entanto, passados os primeiros 180 dias do ano, vejamos o fosso entre o planeado e o concretizado, tendo em conta os indicadores macroeconómicos actuais.
No âmbito da execução orçamental para 2025, o OGE previu uma estimativa global de receitas e autorizou despesas no valor total de AOA 34,63 biliões (US$ 37,97 mil milhões). No primeiro semestre do ano, o Estado arrecadou receitas no montante de AOA 5,93 biliões (US$ 6,50 mil milhões), o que corresponde a 17% do total da receita anual estimada no exercício económico vigente. Quanto à despesa, foram realizados gastos no valor de AOA 6,44 biliões (US$ 7,06 mil milhões) durante o mesmo período, o que equivale a apenas 19% do total anual autorizado. Esses dados indicam que os níveis de execução semestral em relação ao total anual permanecem significativamente baixos, tanto do lado da receita quanto da despesa.
Tendo em conta a prioridade de aumento do rendimento que consiste principalmente no ajuste salarial da função pública com vista a recuperação do poder de compra das famílias, espelhada no Relatório de Fundamentação, o Executivo mantém o compromisso de cumprir com o acordo social estabelecido e a sua política de continuar a valorizar os rendimentos e mitigar o impacto da inflação sobre o poder de compra. Para tal, espera-se que, para este ano, a inflação seja mais baixa, relativamente à taxa de inflação acumulada de 23,4% que se perspectivava até finais de 2024, facto que, até ao momento, não se verifica.
A inflação, que deveria atingir a meta de 16,6%, mantém-se em níveis bastante elevados, ou seja, passados seis meses a taxa de inflação encontra-se em 3,1 pontos percentuais acima do previsto. Apesar de uma trajectória de queda que começou em Janeiro (com 26,5%) e culminou em Junho com 19,7%, a média semestral situou-se em 23,07%, valor que não só ultrapassa a meta estabelecida como evidencia a dificuldade do Governo em conter a espiral inflacionária, que continua a corroer o poder de compra dos angolanos.
A economia continua a mostrar sinais de desaceleração, não obstante o Banco Nacional de Angola (BNA) ter mantido, pela sétima vez consecutiva, a taxa básica de juro em 19,5%. Uma decisão tomada durante a quarta reunião do Comité de Política Monetária (CPM) em 2025, num contexto de forte pressão no mercado cambial.
O dólar e o euro continuam acima dos AOA 900 (US$ 1), com a moeda norte-americana fixada em AOA 911,955 por cada dólar. A inflação elevada no país tem sido, em grande parte, impulsionada pela desvalorização cambial, uma vez que Angola depende fortemente da importação de bens essenciais.
No primeiro semestre do ano, a taxa de câmbio oscilou entre AOA 911 e AOA 912 por cada dólar, o que terá encarecido as importações e pressionado os preços internos.
Outro factor que merece atenção é o sector petrolífero, base fundamental da economia nacional. O OGE 2025 foi estruturado com a expectativa de uma produção diária de 1.098 mil barris e um preço médio de USD 70 por barril. No entanto, os dados do primeiro semestre apontam para uma produção média de apenas 1.001,7 mil barris/dia e um preço médio ligeiramente abaixo do previsto (USD 69,89).
A combinação de menor produção com preços abaixo do esperado compromete seriamente a capacidade do Estado em arrecadar receitas, impactando directamente a execução orçamental e a sustentabilidade fiscal.
Se, por um lado, é justo reconhecer o esforço do Governo em tentar reverter a trajectória inflacionária, por outro, é evidente que os mecanismos de política económica ainda não estão a produzir os efeitos desejados. O cenário actual exige mais do que projecções optimistas; exige correcções estruturais, maior eficácia na execução das políticas públicas e, sobretudo, uma resposta coordenada entre política fiscal e monetária.
A robustez das finanças públicas, uma das prioridades do OGE, não será alcançada sem que se enfrentem, de forma decisiva, os factores internos que contribuem para a instabilidade económica. A produção nacional deve ser incentivada para reduzir a dependência de importações, e as políticas sociais precisam de ser mais eficazes na protecção das camadas mais vulneráveis.
Em suma, os desafios do OGE 2025 são reais e exigem uma abordagem pragmática. É necessário que o Executivo assuma, com clareza e responsabilidade, que metas ambiciosas não bastam por si só. A execução prática, sustentada em dados reais e não em projecções idealizadas, será o verdadeiro teste da capacidade do país em enfrentar os obstáculos económicos com resiliência e visão de futuro.