Opinião

João Maria Botelho

Investigador Associado do NOVA Green Lab

22-02-2024 4:48

22-02-2024 4:48

João Maria Botelho

Investigador Associado do NOVA Green Lab

A urgência de aplicar o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas não pode ser exagerada. Para atenuar os piores impactos do aquecimento global e limitar o aumento da temperatura a 1,5°C, temos de acelerar os nossos esforços para atingir um pico nas emissões globais e reduzi-las rapidamente para níveis “líquidos zero”. O recente relatório do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) afirma inequivocamente que, para evitar consequências catastróficas, as emissões globais têm de diminuir 45% em relação aos níveis de 1990 até 2030.

A consecução de objectivos tão ambiciosos exige níveis de investimento sem precedentes em mudanças estruturais impulsionadas pela inovação. A Agência Internacional da Energia estima em 3,5 biliões de dólares os investimentos anuais no sector da energia entre 2016 e 2050, mais do dobro do montante investido em 2015. Isto implica uma mudança significativa dos combustíveis fósseis para as fontes de energia renováveis, associada a investimentos substanciais em medidas de eficiência do lado da procura em vários sectores.

No entanto, os actuais níveis de investimento em energia hipocarbónica ficam aquém das necessidades. O investimento em tecnologias críticas como a captura e armazenamento de carbono (CCS) diminuiu na última década, o que constitui um obstáculo significativo à consecução dos objectivos de redução das emissões.

No entanto, no meio destes desafios existe uma profunda oportunidade para o desenvolvimento económico e a criação de emprego. Estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sugerem que uma transição decisiva para as energias limpas poderia impulsionar a produção a longo prazo e criar milhões de novos empregos a nível mundial. Além disso, a Nova Economia Climática (NCE) prevê um ganho líquido de emprego de 37 milhões de postos de trabalho até 2030 através de uma ação climática ambiciosa.

No entanto, a transição para uma economia hipocarbónica deve ser justa e equitativa. O conceito de “transição justa” reconhece a necessidade de gerir as implicações quantitativas e qualitativas da ação climática. Garante que todos os empregos na nova economia são dignos e contribuem para comunidades prósperas e resilientes.

Reconhecendo a importância da dimensão social, os governos comprometeram-se a integrar a transição justa nas suas políticas climáticas. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estabeleceu directrizes que salientam a coerência das políticas e o diálogo social para atenuar os efeitos adversos nos trabalhadores e nas comunidades.

A implementação de uma transição justa não é da exclusiva responsabilidade dos governos. As empresas, os sindicatos e a sociedade civil devem colaborar para enfrentar as complexidades deste desafio sistémico. Várias iniciativas em todo o mundo exemplificam esta abordagem de colaboração, desde a incorporação da transição justa nos compromissos climáticos da África do Sul até à criação de grupos de trabalho no Canadá para apoiar os trabalhadores e as comunidades afectadas.

Os investidores também desempenham um papel fundamental na condução da transição justa. Para além das considerações financeiras, os investidores têm a obrigação moral de contribuir para os objectivos sociais e garantir um futuro estável e próspero. Ao integrarem os princípios da transição justa nas suas estratégias de investimento, os investidores podem não só gerir os riscos, mas também descobrir novas oportunidades de criação de valor a longo prazo.

Em conclusão, o imperativo de uma transição justa não pode ser exagerado. É essencial para a concretização dos objectivos do Acordo de Paris e para a construção de uma economia global resiliente e inclusiva. À medida que navegamos pelas complexidades das alterações climáticas, o investimento numa transição justa surge como o caminho mais eficaz para um futuro sustentável.

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