Nos mercados maduros, uma estreia como a que vimos recentemente não arranca aplausos ingénuos, instala antes aquela desconfiança discreta que pede para olhar além da superfície da jogada: muitos querem saber o que está por trás do lance. Quando um player com pouca estrada rompe a fila e domina uma transação desta dimensão, a pergunta não é “como conseguiram?”, mas sim: “quem é o Hansi Flick por trás a segurar as cordas?”
Foi essa a sensação que a Prospectum Capital (PCAP) deixou aos Watchful investors, ao assumir um protagonismo inédito na Oferta Pública de Venda (OPV) do Banco de Fomento Angola (BFA). A corretora, nascida no seio do Grupo Carrinho — um dos maiores conglomerados empresariais nacionais — não se limitou a aparecer: entrou em campo e roubou o jogo. Mais do que estreia, foi demonstração de músculo e ambição num terreno dominado há muito por players de peso.
Numa operação desta envergadura, o volume mobilizado levanta uma questão: será que este sucesso traduz a real capacidade da PCAP em atrair investidores independentes e diversificados? Ou, quem sabe, não se trata tanto de conquista externa, mas de um jogo interno de consolidação e realocação dentro do grupo que lhe dá origem?
Para os Watchful investors, não basta a formalidade dos movimentos; o que conta é a substância. A grande questão é se a Prospectum abriu novos caminhos no mercado de capitais angolano ou apenas centralizou, de forma engenhosa, activos que já estavam sob a mesma esfera de influência. Em finanças, separar a competência técnica do intermediário do peso estratégico do seu backer é o que mede a maturidade de um mercado.
Hoje, a Prospectum Capital apresenta-se como um arranque promissor, que reúne características típicas de um case de estudo relevante para a análise da dinâmica concorrencial. Mas todos sabemos: no nosso mercado, o jogo não se ganha na primeira jogada.
O verdadeiro teste será provar que não se tratou de um “drible” isolado, alimentado por relações estratégicas, mas de uma capacidade genuína de captar capital diversificado e competir de igual para igual, de forma recorrente e transparente. Como recorda Esdras Sanjile, “mercados jovens confundem estreia com consolidação; mercados maduros sabem que a prova real está no segundo e no terceiro actos.”
Só o tempo — e os livros de ordens das próximas grandes operações — vão dar o veredito.