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Aperta o cerco à imprensa angolana – líder sindical alvo de ameaça

25-11-2022 7:38

Nelson Francisco Sul

Director

25-11-2022 7:38

Nelson Francisco Sul

Director

Desde a instalação do multipartidarismo em Angola, em 1992, é a primeira vez que um ataque à liberdade de imprensa tem como alvo o líder sindical dos jornalistas. O cerco a jornalistas vem aumentando nos últimos anos. O Telegrama dá-lhe a conhecer a cronologia dos acontecimentos

Desde o princípio do ano, cerca de dez jornalistas angolanos foram alvo de ameaças directas e assaltos as suas residências. Nada anormal, não fosse a semelhança dos crimes em causa. Sem qualquer sinal de rombo das portas ou janelas, os invasores entraram na sede do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) e de lá retiraram apenas a CPU (Unidade Central de Processamento) do principal computador do Sindicato.

Em conversa com O Telegrama, Teixeira Cândido relata que os invasores “deixaram o monitor, o teclado, assim como os cabos e tudo o resto”. Ou seja, nada mais levaram.

Estranhamente, três dias depois do assalto à sede do Sindicato, isto na última terça-feira, dia 22, os assaltantes regressaram à sede do Sindicato dos Jornalistas Angolanos e devolveram o material roubado. 

“Eram quase 9h00 quando deixaram a CPU na porta do Sindicato. Ninguém viu quem foi que depositou”, descreveu o líder sindical dos jornalistas, acrescentando que o caso já foi relatado ao Serviço de Investigação Criminal, que, entretanto, cinco dias depois da participação, nem sequer enviou uma equipa para averiguar a ocorrência “in loco”.

O mesmo ocorreu com o director do semanário económico Expansão, João Armando, em Julho passado. Numa madrugada, indivíduos entraram na sua residência e levaram apenas dois computadores. Também não houve arrombamento de porta nem janelas da casa do profissional, onde, na ocasião, se encontrava a dormir.

Porém, no caso do Sindicato, os assaltantes não ficaram por aí. Enviaram uma série de mensagens ao líder sindical com teor de ameaças de morte. É a primeira vez que um líder sindical dos jornalistas angolanos é ameaçado directamente em 30 anos de democracia.

“A censura e o controlo da informação ainda pesam muito sobre os jornalistas angolanos”, diz relatório da RSF

“Isto é um aviso para o teu marido”

Outro profissional que tem sido alvo de constantes ameaças, com contornos à integridade física da sua família, é o apresentador Cláudio Pinto, mais conhecido por “Cláudio In”. Desde o dia 20 de Setembro, o jornalista da Rádio Despertar tem vivido um verdadeiro calvário: por três ocasiões, a sua esposa foi esfaqueada.

Na primeira ocasião, dois homens armados e encapuçados invadiram a residência do jornalista, por volta das 18 horas. Um verdadeiro filme de terror. A esposa foi torturada, com vários cortes nos braços, e nem mesmo a criança de 1 ano e meio foi poupada. Os assaltantes ameaçaram matar a criança e deixaram uma nota, que dizia: “Isto é um aviso para o teu marido”.

Mariano Brás é director do jornal O Crime. Vive abaixo de vários processos judiciais, um dos quais envolvendo o Presidente angolano.

“Foi constituído arguido, num processo de difamação, injúria e ultraje aos símbolos e órgãos do Estado”, pela Procuradoria-Geral da República (PGR), na sequência de uma matéria que elege o Presidente João Lourenço como “a pior figura” do ano de 2020. Dito de outra maneira, Mariano Brás corre o risco de ficar dez anos na cadeia por ter dado nota negativa ao Governo.

Emissora alemã protesta junto ao Governo

Em Agosto, a emissora internacional da Alemanha (Deutsche Welle) enviou uma carta de protesto ao então ministro da Informação e actual governador provincial de Luanda, Manuel Gomes Homem, devido aos constastes actos de intimidação contra os seus correspondentes e o enviado especial da cobertura das eleições gerais, António Cascais.

Em todos os casos, foi feita uma participação junto das autoridades policiais e até ao momento não houve um pronunciamento. Ataques à imprensa e à integridade física dos jornalistas tem vindo a aumentar, sobretudo, nos últimos dois anos do governo de João Lourenço.

A edição 2022 do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa elaborado pela Repórteres sem Fronteiras (RSF) mostra Angola na posição n.º 99, a um pé da “linha vermelha”.

A RSF ressalta que, “após 40 anos do clã Dos Santos no governo, a chegada de João Lourenço à Presidência, em Setembro de 2017, não marcou um ponto de virada para a liberdade de imprensa. A censura e o controlo da informação ainda pesam muito sobre os jornalistas angolanos”.

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