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“É proibido reclamar salário” no grupo de média fundado pelos “senhores que mandam” no Banco Millennium 

28-01-2023 11:16

Nelson Francisco Sul

Director

28-01-2023 11:16

Nelson Francisco Sul

Director

Fundado pelo antigo e o actual presidente do conselho de administração do Banco Millennium Atlântico (BMA), Carlos José da Silva e António Assis de Almeida, o grupo Media Rumo, que edita a revista Rumo e os jornais Mercado e o Vanguarda, acaba de demitir o chefe de redação do conglomerado empresarial, após este ter denunciado um rol de irregularidades e atrasos no pagamento de salários, já a caminho de um ano

Na segunda-feira, dia 23 de Janeiro, vários jornalistas do Grupo Media Rumo denunciaram um rol de irregularidades, tais como atrasos salariais e incumprimentos em subsídios de férias e de natal.

Cinco dias depois da denúncia, dois funcionários séniores são demitidos do grupo, precisamente por terem reclamado os cerca de 12 meses de salários em atraso. O primeiro a ser notificado foi Licínio Fortes, responsável pela paginação. Fortes juntou-se ao grupo em 2018, tendo ocupado funções de editor de Artes Gráficas e de Multimédia. Em quatro anos como funcionário, o principal paginador do grupo recebeu salário apenas nos primeiros 2 anos, sendo que, desde 2020 até à data presente, não recebe os seus ordenados.

“A empresa deve-me cerca de 7 milhões kwanzas”, disse Licínio, em conversa com O Telegrama. Outra situação que considera ser um caso de polícia tem que ver com o não pagamento da segurança social, apesar de, segundo Licínio Fortes, “no período em que recebia os meus ordenados, fui sempre descontado, mas a empresa nunca fez chegar este dinheiro à Segurança Social”.

Por esta razão, argumenta Fortes, “o único entendimento possível é pagarem o que me devem”, recusando desta forma a “solução amigável” proposta pelo gentleman do grupo Media Rumo. “O senhor (Domingos Vunge) fala em uma solução amigável, em que só irão pagar quando conseguirem estabilidade financeira. Isso não aceito! Se for para irmos a tribunal, iremos”, enfatizou.

Quem também recebeu uma notificação de despedimento é Agostinho Rodrigues, o jornalista sénior que falou em nome do colectivo de trabalhadores. Agostinho foi despedido através de uma mensagem curta no WhatsApp, enviada pelo presidente do conselho de administração do grupo: “o António já não conta contigo”. Seguiu-se depois a confirmação do departamento dos Recursos Humanos.

E quem é António?

É o administrador da Media Rumo. S.A e irmão de Domingos Vunge. Vunge é o homem que passou a dar o rosto pelo grupo de comunicação social fundado pelos banqueiros Carlos Silva e António Assis, figuras muito próximas a Manuel Domingos Vicente, aquele que foi o mais poderoso presidente da Sonangol e vice-presidente de José Eduardo dos Santos.

Um triunvirato incógnito

Carlos e Assis partilharam fortes interesses na Finicapital, a sociedade de investimento e gestão de activos que controlava o Grupo Media Rumo, sendo que o segundo era a entidade que dava o rosto ao projecto. Na verdade, Assis é considerado pelos homens da banca como o “delfim de Carlos Silva”. O próprio semanário económico Mercado, pertencente ao grupo, chegou a batizá-lo com o epíteto de “O Discípulo”, após este ter sucedido o seu “mentor” na presidência do Banco Millennium Atlântico.

Informação publicada na 3ª série do Diário da República, de 24 de Fevereiro de 2021, atesta que a Finicapital foi dissolvida “em virtude dos sócios já não pretenderem continuar com o projecto a qual a sociedade dava suporte institucional”. Porém, 5 anos antes da dissolução da empresa (2015), os mesmos haviam indigitado Domingos Vieira Vunge para assumir a gestão do grupo de média.

Embora a Finicapital tenha sido dissolvida, a verdade é que não houve nenhuma alteração ao pacto social da Media Rumo, nem tão pouco Carlos Silva e António Assis teriam alguma vez comunicado a venda das acções desta a uma outra entidade.

Contactado, o PCA da Media Rumo, Domingos Vunge, optou, uma vez mais, pelo silêncio.

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