Uma alteração no tabuleiro político do partido do “Galo Negro”, ocorrido em Novembro de 2019, fez soar os alarmes na cúpula ideológica do partido do governo, o MPLA, de que os próximos tempos seriam difíceis e vislumbrava-se, antes mesmo da eleição de Costa Júnior, que se teria um adversário difícil de roer.
Com a eleição deste antigo representante da UNITA no Vaticano, nos últimos três anos, o maior partido na oposição não apenas cresceu bastante, mas, também, se transformou numa verdadeira instituição com vocação de poder. Em 30 anos de instauração multipartidária, nunca o MPLA sentiu tão ameaçado os alicerces com que construiu a sua longevidade.
O líder opositor enfrentou o seu principal rival político em quase todas as frentes, se tivermos em análise a forma como o partido no poder interferiu na vida interna do partido fundado por Jonas Savimbi. A prova desta narrativa está contida num documento interno do comité central do MPLA, em que admitia, antes e durante a fase eleitoral, “um cenário de agitação social” que poderia colocar em risco o seu poder.
Com uma UNITA cada vez mais intransigente e convincente junto do eleitorado, pelo menos até a divulgação dos resultados finais, o documento tornado público pelo semanário Novo Jornal, a 2 de Outubro de 2020, dava conta de que o plano do ‘partido dos camaradas’ recomendava que Costa Júnior fosse «vigiado e combatido até à exaustão».
Depois de o Novo Jornal ter contado, em primeira mão, esta estratégia do partido do governo contra Adalberto Costa Júnior, a UNITA viu o Tribunal Constitucional anular o seu congresso, realizado em 2019. Antes da anulação do congresso do partido do “Galo Negro”, o bureau político do MPLA emitira um comunicado a alertar que a presidência do sucessor de Samakuva estava por um fio.
Depois de um vaivém político e judicial, ACJ regressou à presidência do partido e, na medida em que ia sendo duramente combatido, despertava interesse e simpatia interna e externa. Embora não tenha reconhecido os resultados eleitorais que deram vitória ao MPLA e a João Lourenço, a UNITA de Adalberto Costa Júnior conseguiu resultados históricos no último pleito, protagonizando um dos maiores feitos dos últimos 30 anos.