Especial

Arão Bula Tempo. Advogado e activista cabindês

22-10-2022 7:06

Nelson Francisco Sul

Director

22-10-2022 7:06

Nelson Francisco Sul

Director

Foi o representante máximo da Ordem dos Advogados de Angola na província de Cabinda. Arão Bula Tempo é, provavelmente, o cidadão mais «vigiado» no enclave pelas autoridades angolanas

As suas posições públicas em torno do regime de Luanda e o dossiê sobre a situação política e militar em Cabinda transformaram-lhe no “inimigo público n.°1” do poder político instituído. Foi várias vezes detido e encarcerado, com ou sem acusação formal.

Dentre as dezenas de prisões, a mais mediática deu-se a 14 de Março de 2015, juntamente com o activista José Marcos Mavungo, exilado em Portugal. Motivo: os dois activistas eram os principais rostos de um cartaz que anunciava a intenção de se realizar uma manifestação contra violações de direitos humanos e má governação em Cabinda, à data dos factos Aldina da Lomba era governadora. A manifestação não se chegou a realizar por uma acção proibitiva do governo local. Na época, as principais artérias da cidade estavam, praticamente, sitiadas pelo exército e agentes à paisana.

Mavungo foi detido quando saía de um culto dominical (Igreja), tendo depois sido condenado e permanecido na prisão durante 433 dias, enquanto Arão Bula Tempo, então presidente do Conselho Provincial da Ordem dos Advogados de Angola, foi detido na sua residência, tendo, posteriormente, sido colocado em liberdade condicional. Mas, apenas um ano depois retiram-se-lhes as acusações. Ambos foram acusados de rebelião e crimes contra a segurança do Estado. A Amnistia Internacional considerou-os “prisioneiros de consciência”.

Durante anos, esteve praticamente proibido de viajar para Luanda, a capital angolana, e não podia chegar até à fronteira com o Congo Brazzaville. Com a saída de José Eduardo dos Santos e a chegada de João Lourenço, a vida do activistas pela defesa dos direitos humanos em Cabinda continua na mesma: tem os órgãos de segurança quase sempre à porta de casa.

Fala da necessidade do governo angolano usar a flexibilidade para tentar resolver a situação política e militar de Cabinda, que passa pela auscultação da população do território.

Desde o princípio da segunda década de 2000, a província registou mais de cinco centenas de detenções e prisões políticas, sendo que a maioria dos detidos teve como causídico Arão Bula Tempo.

Em consequência disso, o advogado diz que tem perdido muitos clientes na província. “Os meus clientes também são alvo de ameaças, o que faz com que eu e a minha família levemos uma vida muito difícil, ao ponto de recorrer aos amigos para me auxiliarem porque a vida se torna insuportável”, disse numa entrevista à Voz da América.

Os activistas da sua geração, defensores da causa independentista ou da autonomia da província, quase todos já pularam do “barco”. Em razão da sua persistência, Bula Tempo justifica: “O sacrifício é o caminho para a liberdade”.

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