Especial

José Eduardo dos Santos. Ex-Presidente da República

25-10-2022 3:26

Nelson Francisco Sul

Director

25-10-2022 3:26

Nelson Francisco Sul

Director

Governou o país por quase quatro décadas, de 21 de Setembro de 1979 a 26 de Setembro de 2017. Parte significativa da história de Angola tiveram, indubitavelmente, as suas impressões digitais

Na qualidade de Chefe de Estado e de líder do partido-Estado, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), desempenhou o papel de protagonista principal na construção e edificação da Nação angolana.

À excepção dos Acordos de Alvor, assinado entre o regime colonial português e os três movimentos de libertação nacional (FNLA, MPLA e UNITA), instrumento jurídico que deu luz à Proclamação da Independência de Angola a 11 de Novembro de 1975, os demais acordos e acontecimentos históricos foram conduzidos por José Eduardo dos Santos.

Zedu, como ficou conhecido, é, provavelmente, a figura mais controversa entre as personalidades que marcaram a última década. Não foi um Presidente fictício. Foi quase dono e senhor todo-poderoso da República de Angola e arredores. O seu longo reinado quase se confundia com a de Luís XIV, o “Rei Sol”, o senhor absolutista, que governou a França, ininterruptamente, durante 72 anos, entre 1643 e 1715.

O legado de José Eduardo dos Santos irá sempre dividir opiniões. Tinha tudo para ser mais do que um “Arquiteto da Paz”. Depois de ter vencido e posto termo à longa guerra civil, de quase 27 anos, percorreu os principais palcos da economia global, procurando angariar fundos para (re)construir um país devastado pela guerra. Foi salvo pela China.

Do resultado desta diplomacia económica, surgiram, entre outras realizações, importantes infraestruturas, como a construção de novas cidades, barragens hidroelétricas, estradas, estabelecimentos de ensino, unidades hospitalares, alavancou a economia, dando origem ao surgimento significativo do sector privado e, deste modo, atraindo o investimento estrangeiro.

No seu portfólio, Zedu deixou, também, um país mergulhado na corrupção e em desigualdades sociais. Fez-se rodear de bajuladores e, aos poucos, foi perdendo prestígio a nível interno e externo.

O declínio da sua presidência efectiva-se, primeiro, com a prisão dos responsáveis da época pelos serviços de inteligência, o conhecido «Caso Miala», isto em 2006. Depois, com a realização das eleições legislativas de 2008, ao ter imposto ao seu partido a aprovação de uma Constituição que lhe conferia poder absolutista. “Dino Matrosse”, antigo secretário-geral e figura histórica do MPLA, passa um corretor ao que acabamos de afirmar: “Estive em todas as decisões tomadas no MPLA, se houve erros ao longo desses anos, eu também me sinto culpado”, afirmou, ao Expansão, numa rara entrevista em 2018.

Apesar dos erros que cometeu, a História lembrar-se-á dele como o homem que derrotou a invasão do regime do apartheid, arquitetou a trajetória política do país, estruturou e consolidou as instituições do Estado, assinou os principais e/ou mais importantes acordos históricos que constituíram os pilares da Nação angolana, que deram lugar ao multipartidarismo, o fim da longa guerra civil e assegurou a estabilidade política.

Ao fim de 38 anos de poder, decidiu sair pelos próprios pés, embora a Constituição ainda lhe permitisse mais um mandato. E teria apoio em coro, dentro da cúpula do MPLA, se quisesse alterar a Constituição para assegurar um 3.º mandato.

Foi “um patriota”, considerou Isaías Samakuva, quando questionado sobre a figura de José Eduardo dos Santos, em uma entrevista no programa Café da Manhã (LAC), do jornalista José Rodrigues.

E justificou: “a dimensão histórica e heroica dos homens que fazem a História das Nações não deve ser amputada nem eclipsada pelos aspetos menos positivos da sua dimensão humana”.

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