Especial

Manuel Nito Alves. Activista

25-10-2022 1:19

Nelson Francisco Sul

Director

25-10-2022 1:19

Nelson Francisco Sul

Director

Influenciados pelos ventos de mudança da Primavera Árabe, que começou na Tunísia, vários governos africanos viram-se confrontados com uma onda de manifestações à velocidade dos acontecimentos. Em 2013, com a prisão de Nito Alves, na altura dos factos um adolescente de apenas 17 anos, o regime do MPLA e de José Eduardo dos Santos começa a transmitir uma clara mensagem da sua característica repressiva

No princípio da segunda década de 2000, o continente africano era o centro de protestos contra o desemprego, corrupção e a longevidade de governos tiranos. Influenciados pelos ventos de mudança da Primavera Árabe, que começou na Tunísia, depois de um vendedor ambulante, Mohamed Bouazizi, de 26 anos, ter atirado gasolina sobre o corpo e, diante do edifício do governo local, ateou fogo a si mesmo, vários governos africanos viram-se confrontados com uma onda de manifestações à velocidade dos acontecimentos.

Com a ajuda da internet e das mídias sociais, a notícia espalhou-se e, rapidamente, os acontecimentos impulsionados por Mohamed Bouazizi, chegaram a outros países também governados por autocratas, como o Egipto, Marrocos, Jordânia, Kuwait, sendo a Líbia, então governada desde 1969 com mão-de-ferro pelo coronel Muammar Khadafi, o exemplo mais catastrófico, devido à intervenção militar da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar ocidental).

A ordem foi dada e a OTAN depôs o regime do coronel Muammar Kadhafi.

Angola não ficou imune aos acontecimentos da Primavera Árabe. A 7 de março de 2011, através de uma conta anónima na rede social Facebook, é convocada uma manifestação anti-governamental. A pretensa manifestação não se realizaria porque Eduardo dos Santos e o seu regime anteciparam-se aos acontecimentos, convocando, para o efeito, uma marcha em todo País, apelando à preservação da paz.

Mas, pouco tempo depois, Luanda começava a ser palco de protestos organizados pelo designado “Movimento Revolucionário” e são violentamente reprimidos pela polícia nacional, pelos serviços secretos e por milícias pró-governamentais.

Porém, foi em 2013, com a prisão de Manuel Chivonde ‘Nito Alves’, na altura dos factos um adolescente de apenas 17 anos, que o regime do MPLA e de José Eduardo dos Santos começa a transmitir uma clara mensagem da sua característica repressiva.

Nito Alves foi colocado numa cela solitária durante semanas, sem contacto com a família, advogados ou cuidados médicos, simplesmente por ter encomendado camisolas com dizeres contra o Presidente.

O caso chamou a atenção à comunidade internacional. Pensando no filho que tinha a mesma idade de Nito Alves, o escritor José Eduardo Agualusa desabafou: “Posso não concordar, e não concordo, com os termos em que o jovem Nito Alves expressou a sua revolta. Contudo, a revolta dele também é a minha. A coragem, essa, é só dele”.

O jovem activista acabou inocentado pelo Tribunal de Viana. Desde então, nunca mais parou. Participou em dezenas de manifestações, foi várias vezes raptado pelas autoridades, perseguido, torturado e preso, tendo sido um dos principais rostos no caso dos 17 ativistas acusados de preparar um golpe de Estado, em 2016.

Devido às constantes e fortes agressões físicas de que foi vítima por parte das autoridades policiais e dos serviços de inteligência, sendo que na última foi atingido com uma bala de borracha na cabeça, em um protesto, em Novembro de 2020, o activista enfrenta, agora, graves problemas de saúde, sobretudo de foro psicológico.

Para que fique na memória colectiva e a história não se rogue de esquecida tão-pouco apague: Nito Alves foi o expoente máximo de coragem que enfrentou nas ruas a cleptocracia instalada em Angola.

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