Uma vez referenciado numa nota da Procuradoria-Geral da República do seu país, dando conta da abertura de um inquérito, pelo Supremo Tribunal de Justiça, à sua conduta nos negócios de duas empreitadas públicas, e sem que ainda tivesse sido indiciado formalmente, António Costa demitiu-se imediatamente das funções de primeiro-ministro de Portugal, colocando-se à disposição da justiça, por ter interpretado — só o tempo dirá se bem ou mal — que a função de chefe de governo é incompatível com quaisquer suspeitas de corrupção e tráfico de influência — ainda mais vindo da justiça.
Escolho-o, pois acredito que a subordinação da política à ética é um dos fundamentos que deve alicerçar a vida pública no quadro do respeito da probidade e integridade moral, coisa muito ausente no meu país, Angola, de forma particular, e em África no geral.
Demonstrou coragem política e não estar apegado a cargos ou títulos, pois, no meu ponto de vista, estes só têm peso se por sua via e do exemplo servimos bem os nossos concidadãos.
Faço desta escolha um apelo para todos os detentores de cargos públicos em Angola, a todos os níveis, sobre a necessidade de termos em permanência esta consciência ética e republicana.
Só o tempo dirá como este processo termina, porém, não tenhamos dúvidas: nos tempos que correm, em que o autoritarismo e a insensatez vão ganhando corpo em todas as geografias políticas, Costa dá-nos exemplo de “dignidade”, fazendo jus ao ditado popular segundo o qual “quem não deve não teme”.