No dia em que fez 45 anos, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, recebeu a prenda que pedia há vários meses: tanques pesados. A Alemanha anunciou o envio de 14 Leopard 2 e autorizou que outros países possam fornecer aqueles que têm nos seus arsenais. Por seu lado, os EUA confirmaram o envio de 31 tanques M1 Abrams, algo que diziam estar fora de questão ainda há dias. Quebra-se assim mais um tabu que existia no Ocidente e Kiev está já a pensar qual pode ser o próximo: os caças F-16.
“O próximo grande obstáculo vão ser os caças de combate”, disse à agência Reuters um conselheiro do ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov. “Se os conseguirmos, as vantagens no campo de batalha serão imensas. Não são apenas F-16. Caças da quarta geração é o que queremos”, afirmou Yuriy Sak. “Eles não queriam dar-nos artilharia pesada, e depois deram. Não queriam dar-nos o sistema Himars [lançadores móveis de rockets], e depois deram. Não queriam dar-nos tanques, agora estão a dar-nos tanques. À exceção de armas nucleares, não resta nada que não consigamos”, acrescentou.
Na semana passada, na mensagem que enviou ao Grupo de Contacto de Defesa da Ucrânia reunido em Ramstein, Zelensky já tinha pedido os F-16 – além dos caças e de mísseis de longo alcance. “Isto é um sonho. E esta é uma tarefa”, disse esta quarta-feira. Os Países Baixos disseram estar abertos à possibilidade de fornecer estes caças aos ucranianos, se Kiev os pedir. “Não há tabus” na entrega de equipamento, disse o chefe da diplomacia neerlandês, Wopke Hoekstra, prometendo “mente aberta” do governo.
Segundo o Diretório Mundial de Aeronaves Militares Modernas, a Força Aérea ucraniana conta atualmente com 61 caças de fabrico soviético, nomeadamente os Sukhoi Su-27 e Su-24 e os MiG-29. Apesar de a Rússia ter números superiores – segundo a mesma base de dados terá 1188 caças -, não conseguiu contudo dominar os céus da Ucrânia desde a invasão há 11 meses.
“Passo importante”
Por enquanto, os caças são apenas mais um desejo dos ucranianos, que se congratulam com a promessa dos tanques pesados – os primeiros Leopard alemães podem contudo demorar três meses a chegar ao campo de batalha. Num contacto com o chanceler alemão, Zelensky disse estar “sinceramente grato” a Olaf Scholz e a todos os amigos da Ucrânia na Alemanha, falando de decisões “importantes e oportunas”.
Para trás parece ter ficado qualquer desentendimento e a pressão feita, juntamente com outros aliados, sobre Berlim. A Alemanha está disposta a enviar, para já, 14 Leopard 2A6, com países como Polónia, Noruega, Finlândia ou Espanha disponíveis também para fornecer alguns dos seus arsenais.
Mais tarde, foi a vez do presidente norte-americano, Joe Biden, anunciar o envio de 31 M1 Abrams. “Estes tanques são mais uma prova do nosso compromisso duradouro e incansável com a Ucrânia e nossa confiança nas capacidades das forças ucranianas”, afirmou, alegando que a decisão não é “uma ameaça ofensiva contra a Rússia”. Zelensky agradeceu no Twitter a “decisão poderosa” de Biden, sublinhando que este é “um passo importante para a vitória”.
Os especialistas acreditam que, para fazerem a diferença no terreno, são precisos pelo menos cem tanques, sendo que Kiev pede 300. Os números até agora prometidos ficam aquém, com Zelensky a dizer que “a chave agora é velocidade e volume. A velocidade de treino dos nossos militares e a velocidade de fornecimento de tanques para a Ucrânia e a quantidade”.
A Rússia reagiu à confirmação de envio de tanques ocidentais dizendo que isso levará a uma “escalada” da situação na Ucrânia. Ainda antes de ser oficial que os EUA iam enviar os Abrams, o porta-voz do Kremlin considerou que isso era uma ideia absurda e um desperdício de dinheiro.”Estes tanques vão arder como todos os outros”, afirmou Dmitry Peskov.
Quem vai enviar tanques?
Alemanha vai enviar 14 tanques Leopard 2A6, mas podem levar três meses a chegar à Ucrânia.
EUA prometeram 31 Abrams M1, o equivalente a um batalhão.
Polónia enviará uma companhia, isto é, entre 10 e 14 Leopard.
Noruega confirmou que vai enviar, mas não quantos. Tem 36 Leopard.
Países Baixos estudam enviar 18 destes tanques de fabrico alemão.
Espanha também mostra disponibilidade, mas não avança números. Tem 327.
Portugal tomará uma decisão “nos próximos dias”, estando a avaliar a disponibilidade e o impacto que teria fornecer alguns dos 37 Leopard que tem. A ministra da Defesa, Helena Carreiras, disse que o país “vai participar e ajudar a Ucrãnia a desenvolver a sua capacidade nesta área”.
Reino Unido já tinha prometido 14 dos seus tanques Challenger 2.
França Estuda enviar os seus tanques pesados Leclerc.
