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Tshisekedi: “É Paul Kagame o inimigo” e não o povo ruandês

05-12-2022 4:27

Lusa

05-12-2022 4:27

Lusa

Em declarações, no fim de semana, o chefe de Estado da RDC, Felix Tshisekedi, disse ainda que os ruandeses são "irmãos" que "precisam [de ajuda] para se libertarem"

O Presidente da República Democrática do Congo (RDC), Felix Tshisekedi, designou o homólogo ruandês, Paul Kagame, um “inimigo”, no contexto das tensões diplomáticas causados ​​pela ofensiva do grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23) no leste do país.

“Não vale a pena olhar para os ruandeses como inimigos. É o regime ruandês, com Paul Kagame à cabeça, que é o inimigo da RDCongo. porque são amordaçados, precisam da nossa ajuda para se libertarem”, afirmou o chefe de Estado congolês num discurso proferido, durante o fim de semana, na sede da União Africana, em Adis Abeba, e divulgado pela Rádio Okapi.

“Eles [os ruandeses] não são culpados daquilo que lhes é imposto pelos seus. Portanto, não os vejam como inimigos, mas como irmãos, que precisam da nossa solidariedade para se libertarem e libertarem a África deste tipo de dirigentes retrógrados, que ainda utilizam os meio dos anos 60 e 70, ao passo que África decidiu já colocar um ponto final ao barulho das armas”, prosseguiu Tshisekedi.

O chefe de Estado da RDC acrescentou que, se “isso ainda não aconteceu, é precisamente por causa de dirigentes como Paul Kagamé, que sente orgulho por ser um causador de guerra, de ser um especialista da guerra”. 

“Ele tem orgulho. Eu, no seu lugar, esconder-me-ia, teria vergonha de assumir que semeava a morte e a desolação. É vergonhoso, diria mesmo, diabólico”, concluiu o Presidente da RDCongo.

Troca de pressão

As declarações de Tshisekedi respondem às declarações de Kagame na semana passada, que acusou o seu homólogo congolês de fomentar uma crise de segurança no leste do RDCongo, com a finalidade única de sustentar um argumento para adiar as eleições agendadas para 2023.

Segundo o Presidente ruandês, o conflito entre a RDCongo e o movimento rebelde de etnia tutsi M23 “seria facilmente resolvido se não houvesse nenhum país com eleição agendadas para o próximo ano e não estivesse a tentar criar uma emergência para as adiar”.

Kagame também acusou Kinshasa de estar promovendo uma guerra por procuração ao patrocinar a ofensiva do grupo armado Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR) – composto por extremistas hutus, alguns responsáveis ​​pelo genocídio ruandês – no Ruanda. 

“É lamentável que se tenha tornado conveniente que todos os problemas recaiam sobre os ombros do Ruanda. A culpa é sempre nossa”, afirmou o Presidente Ruandês.

“Estou a começar a acreditar em algo em que nunca acreditei. Mas já passou tanto tempo que não posso evitar. Alguém, algures, quer que este problema exista para sempre porque há demasiadas coisas em jogo”, acusou, para em seguida criticar a ” narrativa desde 1994″, segundo a qual “os perpetradores e as vítimas (do genocídio no Ruanda) são os mesmos”.

Esta retórica de guerra parece deixar pouca margem aos esforços da mediação angolana e queniana sob os auspícios da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), liderada pelo chefe de Estado angolano, João Lourenço, e pelo ex-presidente queniano Uhuru Kenyatta, que reuniu em Nairóbi 60 grupos rebeldes para a terceira ronda de negócios de paz na RDCongo, que hoje se conclui. 

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